Em Caná da Galileia...


Abram alas!

Quando, ao serão, nos sentamos todos na sala para a Oração Familiar, passamos por algumas pequenas discussões sobre o espaço que cada um ocupa: “Chega para aí, o sofá não é todo teu!” “Não dês pontapés, vais aleijar-me!” “Não vês que eu estava nessa cadeira e só me levantei para ir buscar um copo de água? Sai!” A situação complica-se quando o meu cansaço, que àquela hora já é muito, exige que o sofá mais pequeno seja todo para mim, a fim de me poder deitar nele enquanto rezamos.

Outro dia, ao escutar estes comentários pouco simpáticos entre filhos em busca do seu espaço pessoal, dei comigo a pensar… O Daniel ainda não nasceu, mas já reclama o seu próprio espaço também! Se eu ocupo um sofá inteiro, é porque o Daniel assim o exige. E dessa exigência, ninguém tem coragem de reclamar!

E não é só em relação ao sofá e ao espaço que o Daniel reclama atenção, mas também em relação ao tempo e a todas as tarefas de uma casa. Por causa dele, todos os filhos têm novas tarefas e trabalho acrescido na arrumação e limpeza. E que dizer do pai? Nestes últimos tempos, o Niall anda numa verdadeira roda viva, pois quando chega a casa depois de um dia inteiro de trabalho, é a ele que cabem muitas das tarefas domésticas que eu costumava adiantar, desde limpar as casas-de-banho a aspirar. A menos de um mês do nascimento do Daniel, já não sou capaz de o fazer, e os filhos não chegam a tudo. Numa destas noites, o Niall acordou com um pesadelo terrível: sonhou, imaginem, que perdia o momento do nascimento do Daniel por estar… a arrumar a casa!!!

Sentada aqui ao computador, tenho de interromper o meu trabalho várias vezes para me “esticar” um pouco. É que o Daniel não pára de se mexer, e com os seus pequeninos pés e mãos, faz trinta por uma linha. Imagino-o a brincar com o cordão umbilical e a treinar os pinos e as rodas que daqui a uns anos irá fazer pela casa fora, como todos os seus irmãos…

Revejo mentalmente alguns slogans abortivos de feministas, escrevendo nas barrigas grávidas frases como: “O meu corpo, a minha escolha”. Mas quem é que se lembra de achar que um bebé é “o meu corpo”? Só quem nunca esteve grávida no terceiro trimestre, certamente! Porque não há qualquer dúvida de que o Daniel e eu somos duas pessoas distintas, com vontades por vezes opostas, com pensamentos diferentes e com ritmos contraditórios. Eu quero dormir durante a noite, o Daniel quer estar acordado; eu quero almoçar descansada, o Daniel quer brincar dando-me pontapés no estômago, que me causam uma sensação semelhante à dos marinheiros de primeira viagem. O meu corpo?!

Naqueles momentos felizes da nossa Oração Familiar, enquanto passamos as contas do terço por entre os dedos, os meninos observam a minha barriga e riem-se divertidos. É que o Daniel, que não pára quieto, fá-la movimentar como se estivesse a dançar. Todos querem colocar as mãos sobre o meu ventre e sentir as suas brincadeiras. “Ah, quando é que ele nasce?” Perguntam, impacientes. Entendo a frustração: entre o Daniel e os irmãos há apenas uma fina camada de pele, camada que o oculta e revela ao mesmo tempo… Escondido mas bem presente entre nós, o Daniel já parece gostar de rezar.

Cada criança que vem ao mundo ocupa um espaço que é só seu. Cada criança que vem ao mundo exige que nos apertemos um pouco mais no sofá do nosso egoísmo, que nos esqueçamos de nós e que saibamos sacrificar-nos. Cada criança que vem ao mundo traz inscrito no mais profundo do seu ser um grito: “Abram alas!” Ouvimos o seu grito nas maternidades e nas clínicas de abortos, nas nossas casas aquecidas e nos campos de refugiados, no seio das famílias felizes e nos escombros da guerra e da fome.

Talvez afinal Deus tenha razão em querer que a gravidez dure nove meses (desculpa, Senhor, eu discordar tantas vezes destas tuas contas!), pois as lições mais importantes levam também mais tempo a aprender…

8 Comments

  1. Que esta benção que Deus lhe deu traga à vossa família muitas alegrias e que o Daniel seja um menino muito feliz.
    Também já fui abençoada e sei perfeitamente o que é ter e cuidar de um novo ser. Espero um dia ser abençoada de novo…Nove meses também já me pareceu muito, mas para um ser tão perfeito tinha mesmo que ser assim. Deus sabe o que faz.

  2. Querida Teresa,
    Por motivos de saúde, não tenho vindo aqui.Mas vou sabendo noticias vossas:)
    Que bênção,que milagre carregarmos um ser humano dentro de nós.
    Que carinho e ternura essas mãozinhas no seu ventre, e oDaniel já estar rodeado de tanto Amor e Fé.
    Um grande abraço
    Marta e Teresinha

  3. Rezo para que tudo corra bem!!! Fico honesta e simplesmente, feliz por vocês!
    bjs
    Célia

  4. Cristina Santos

    Lindo Teresa 💖
    Um xiiiiii enorme da tua amigona
    Tininha 😙

  5. Também não entendo o famoso slogan do “o meu corpo, a minha escolha”, a propósito do aborto. Posso entender o desespero (por mil e uma razões) que leve uma mãe a abortar, mas não creio que alguma vez vá entender (e até aceitar) esse slogan. Pura e simplesmente não é verdadeiro!

  6. Quanto à tua linda barriga e ao menino que a ocupa, dá gosto ver! Dá igualmente gosto ler o que escreves. Obrigada!

  7. Licínia Maria Rodrigues Martins Vieira

    Que linda, essa forma de veres/ verem a vida! O Daniel vai ser muito feliz !!!!!! Um beijo amigo.

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