Em Caná da Galileia...


Bebés reais

A hora da última mamada do Daniel tem-me permitido ver alguma televisão antes de me deitar, algo que há anos (desde que a Sara mamava também) não fazia. Gosto muito daqueles minutos ali, enroscada no sofá com o meu bebé, o Niall ao lado, a televisão ligada, conversando sobre o que se passa no mundo. Sei que, em breve, estes momentos passarão, pois o Daniel irá crescer e eu retomarei o meu trabalho ao computador aos serões. Mas por enquanto, vou aproveitando…

E foi assim que pude acompanhar a explosão de alegria pelo nascimento do mais recente “bebé real”, na família real britânica. Que bonito! Harry estava feliz, declarando ao mundo o seu orgulho na esposa e comentando que “é para lá de toda a compreensão, esta capacidade feminina de dar à luz”. O seu sorriso rasgado não deixava dúvidas de que a paternidade enche a alma como nenhum outro acontecimento na vida. As multidões exultaram, os corais cantaram, as tropas marcharam, as bandas tocaram pelas ruas, e o bebé real fez as manchetes dos jornais e das revistas, não só no Reino Unido, como nos EUA.

Porque me tocou tanto este nascimento? Porque um bebé que nasce no seio de uma família, uma casa, um povo, um mundo que o acolhe e o ama, é uma boa notícia. E no meio de tanta desgraça, o mundo precisa de boas notícias.

Porque a explosão de cor, música, ritmo, dança, festa, nos ajuda a perceber que cada bebé que vem ao mundo merece toda a nossa capacidade de deslumbramento e celebração.

Porque é assim mesmo, no meio de uma explosão de alegria, que os anjos do Céu saúdam cada novo ser humano, no momento exato da sua conceção e, depois, no momento exato do seu nascimento.

Porque é assim que todos precisamos de acolher cada bebé que vem ao mundo, real ou plebeu, rico ou pobre, são ou doente, desejado ou indesejado. Todos os nossos filhos pertencem à realeza, não é verdade? Ou não fossem eles filhos do Rei do Universo, Príncipes e Princesas do Reino de Deus! Apressemo-nos a batizá-los, para que esta dignidade, intrínseca ao ser humano, seja sacramentalmente elevada ao expoente máximo!

Logo após a notícia do nascimento do bebé real, a televisão trouxe-nos outra notícia, desta vez do campo da biologia: há neste momento, no nosso planeta, um milhão de espécies em risco de extinção. É, na verdade, muita espécie, e é um crime contra a Criação de Deus. Pensava eu nisto, quando o jornalista comentou, com ar muito sério: “Toda a gente sabe que só há, realmente, uma forma de evitar a extinção animal: é controlar a natalidade humana. Não há dúvida de que há gente a mais no planeta, e são precisas medidas antinatalistas para que os animais possam recuperar.”

Um bebé a menos, uma girafa a mais, pensei eu. Faz sentido… Tanto sentido quanto este discurso, em pleno século XXI, que parecia acabado de sair da boca de um dirigente chinês dos anos sessenta do século passado. Não acredito que este jornalista esteja a mais no mundo, mas as palavras que proferiu estão, com toda a certeza.

“Agora já chega, não já?” Perguntam-me os colegas de trabalho, nesta semana do meu regresso. É que há gente a mais no planeta, e finalmente percebi porquê: os animais, claro… Daí talvez o grande tempo que os alunos têm passado este ano, nas mais variadas escolas, a tratar do tema dos animais, nas aulas de cidadania!

O bebé real nasceu. Façamos festa! Que toquem as bandas, que se icem as bandeiras, que apareçam os fotógrafos, que se encham as páginas das revistas!

Os nossos bebés, das Famílias de Caná, também vão nascendo. Há, neste momento, vários a caminho! Façamos festa! Cantemos os nossos hinos! Rejubilemos! Sejamos capazes de testemunhar a alegria de uma nova vida!

Ah, se por um instante apenas, pudéssemos ver o mundo com os olhos de Deus…

One Comment

  1. Catarina Silva

    Teresa,
    Acho que nunca conseguiremos ver o mundo com os olhos de Deus, pelo menos não completamente… Mas (e correndo o risco da Sara já ir para o terceiro balde de pipocas 🙂), aquilo que prejudica a Criação de Deus é o consumo desenfreado das pessoas. A quantidade de roupa, sapatos e tralha e mais tralha que as pessoas acham que precisam para serem felizes. Se todos fizéssemos escolhas conscientes e deixássemos de ser vaidosos, conseguiríamos diminuir drasticamente o consumo louco que por aí anda. Isso aliado à consciência de que os recursos são finitos e nos foram dados por Deus com tanto Amor, para usarmos sobretudo em benefício uns dos outros… Enfim, é mesmo muito triste ouvir comentários desses!

Responder a Catarina Silva Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *