Em Caná da Galileia...


Epifania do Senhor

Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga

QUEM PERSEGUE UMA ESTRELA TEM DE CAMINHAR NA NOITE

Dia de Reis. “Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz!” É a aurora da nossa salvação que desponta. Celebremos!

O Evangelho fala em alguns Magos, a Tradição diz que eram três e dá-lhes nomes, a Igreja Ortodoxa venera-os como santos. Hoje, num universo religioso cada vez mais racionalista, a história dos Magos é frequentemente relegada como simples catequese de Mateus. Que desapontamento! Mas porque não teriam os Magos realmente existido? No seu terceiro volume sobre Jesus de Nazaré, dedicado à Infância de Jesus, Bento XVI afirma a sua fé na existência dos Magos. A leitura de Isaías e o salmo deste domingo foram, segundo o papa emérito, o cenário que permitiu à Tradição da Igreja transformar estes personagens misteriosos em reis e, com eles, introduzir os camelos e os dromedários no presépio: “Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso…”  “Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes, os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas. Prostrar-se-ão diante dele todos os reis.” Façamos pois, também nós, com os Magos, o percurso até ao Presépio.

“Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-l’O”, dizem a Herodes. Desde já, merecem a nossa admiração. Seríamos nós capazes de deixar o conforto dos nossos palácios interiores, o aconchego do sofá, as distrações das redes sociais, para nos pormos a caminho à luz das estrelas? A verdade é que a Bíblia é feita de gente que se põe a caminho, a começar com Abraão, também ele seduzido pela promessa das estrelas do céu.

Quem persegue uma estrela tem de caminhar na noite. Todos os santos o atestam, ao falar da noite da fé, da noite da dor… Jesus nasceu e ressuscitou de noite, e é nas nossas noites que nos vem visitar, fazendo brilhar, poderosa, a sua estrela.

Quem persegue uma estrela tem de levantar os olhos das coisas rasteiras e procurar trilhos, não na terra, mas no céu. Levantaremos nós suficientemente o olhar para o Céu? Ou vivemos este Natal e a nossa vida presos às coisas terrenas? O Papa Francisco lembrava há dias que se fala pouco do Céu nas catequeses e homilias, e que um cristão precisa de pensar no Céu, se quiser encontrar o seu caminho sobre a Terra – como os Magos…

“Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer?” O encontro com Herodes é perturbador. Herodes, poderoso e mundano, sentiu-se ameaçado por um Recém-nascido. O nosso mundo também. De facto, nas nossas escolas proíbem-se representações do Presépio por se considerarem ofensivas para os não-crentes, o que nos leva a pensar que a imagem de uma família feliz, onde um pai e uma mãe “tradicionais” se alegram com o dom da vida é uma ofensa grave à infância dos nossos filhos. Pobres Herodes dos tempos modernos!

À procura do Salvador, os Magos questionaram os príncipes dos sacerdotes e os escribas, versados nas Escrituras. A estrela conduziu os Magos à Judeia, mas a Palavra levou-os a Belém e à gruta. Também nós precisamos de meditar na Palavra, se queremos encontrar o Senhor. Dedicamos-lhe tempo suficiente?

Contudo, nenhum dos estudiosos se pôs a caminho com os Magos para encontrar o Messias… Hoje, como então, ter cursos bíblicos ou estudos teológicos não é, de todo, sinónimo de ter fé. Quantos estudiosos preferem antes disputas de palavras sobre a Palavra, lançando a confusão na cabeça dos simples! Não nos deixemos confundir e prossigamos o nosso caminho sem desvios, como os Magos fizeram.

Finalmente, ei-los chegados à gruta de Belém. Que fé simples e sincera a sua, que lhes permitiu ver numa família em tudo igual às outras o sinal procurado! Como é a nossa fé? Temos o olhar purificado, para descobrir o Menino escondido no nosso quotidiano?

Depois de oferecerem os seus presentes ao Menino, os Magos foram avisados, em sonhos, para não regressarem à presença de Herodes, pelo que “regressaram à sua terra por outro caminho”. Não há Natal para nós se não nos levar a trilhar “outro caminho”. Porque ninguém que encontre o Salvador pode regressar ao quotidiano sem se deixar transformar.

A história dos Magos, logo no início do mistério de Cristo, anunciou de imediato o que S. Paulo vai depois compreender por revelação divina: “Os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo”. Graças aos Magos, também nós, que não somos judeus, temos lugar reservado no Presépio, adorando o Senhor.

Hora da missa. Hoje, ainda dia de Natal, viemos adorar o Menino. “Olha ao redor e vê”, diz-nos Isaías. “Todos se reúnem e vêm ao teu encontro…” Todos? A profecia ainda está em progresso, mas já nos enche de esperança. Dentro em pouco, sobre o altar tornado manjedoura, o Menino far-Se-á Pão. “Quando O vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração.” Deixemos que sim, que se dilate o coração! E de joelhos, ofereçamos-Lho, como o melhor dos presentes. Depois, saciados com a luz que sobre nós se levantou, regressemos às nossas casas por outro caminho… Feliz Natal!

 

 

 

 

 

2 Comments

  1. “De facto, nas nossas escolas proíbem-se representações do Presépio por se considerarem ofensivas para os não-crentes, o que nos leva a pensar que a imagem de uma família feliz, onde um pai e uma mãe “tradicionais” se alegram com o dom da vida é uma ofensa grave à infância dos nossos filhos. “–> Teresa, mais uma vez puseste o dedo na ferida. Medo de um recém nascido, medo de uma família. Com a mania do politicamente correcto, com a compulsividade de querer agradar a gregos e a troianos, não temos coragem de tomar posição clara sobre aquilo em que acreditamos.

  2. A ditadura das minorias está destruir a conquista de um mundo mais tolerante… lembro-me dos sepulcros caiados cada vez que reflicto em torno destas questões! Iremos adorar o Menino, e entregar este novo ano ao Senhor!!!

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