Em Caná da Galileia...


Jovens-cântaro

No ensinamento deste mês, relembro as famílias de que é absolutamente essencial dedicarmos algum tempo das nossas férias a servir os outros, não apenas os da nossa família. Já o fizemos?

Cá em casa, temos procurado ser Família-cântaro em várias circunstâncias diferentes que o Senhor nos vai apresentando. Para além desta missão familiar, os nossos filhos mais velhos também vão viver /viveram os seus momentos de missão jovem.

Na semana passada, a nossa filha Clara, de dezasseis anos, dedicou cinco dias à missão, em Torres Novas, com as Irmãs de S. José de Cluny. Pedi-lhe que relatasse aqui a sua experiência:

Escrito pela Clara Power:

Na última semana de aulas recebi um convite das Irmãs do Colégio S. José de Cluny para um encontro de jovens em Torres Novas. Fiquei entusiasmadíssima e convidei logo duas ou três amigas para me acompanharem.

Não sabia bem o que esperar. Apenas nos tinham dito que íamos em missão, visitando presos, doentes, crianças e idosos. Mal chegámos, fizemos novos amigos, e dei graças a Deus pelo grupo que se formou. Cantámos, rezámos, dançámos, apresentámo-nos, ouvimos testemunhos, participámos em workshops e, finalmente, no segundo dia fomos enviados em missão.

Eu fui passar o dia numa pré-escola, onde os sorrisos das crianças nos acolheram. Depois de termos ajudado os meninos a comer, depois de termos brincado com eles e de termos rido, de me terem penteado e despenteado, chegámos ao final do dia cansados, mas com um sorriso e o coração amolecido.

No dia seguinte, foi a minha vez de visitar o CRIT, um lar onde vivem crianças e adultos com deficiência profunda. Entrei com receio, não sabendo o que fazer uma vez lá dentro. No entanto, os abraços apertados, os sorrisos e as mãos quentes e doces que me agarravam e mostravam os quartos, as obras de arte feitas por eles… trouxeram-me uma paz interior, uma alegria, um sorriso e algumas lágrimas, que se mantêm até hoje! Quis ser simples como estas pessoas que me rodeavam e alegrar-me com a mais pequena coisa. Coloquei uma flor no cabelo da D. L., e ela abraçou-me com tal energia e amor que fiquei com um nó na garganta, não ousando falar.

Esta missão não faria sentido sem Alguém que nos enviasse e orientasse e, por isso, todas as manhãs e todas as noites o grupo juntava-se numa capela lindíssima e rezava, pedindo, agradecendo, louvando o Senhor. Na oração de sexta-feira à noite, esqueci-me das horas, e ali fiquei a rezar, tempos sem fim, muito depois de todo o grupo sair, já passava da meia-noite. No sábado lembrámo-nos de repente de dar um “pulinho” a Fátima e participar na procissão de velas e oração do terço, unindo o nosso coração à Mãe que nos diz: “Fazei tudo o que Ele vos disser.” Como foi bom!

Depois das horas de oração, ainda convivíamos alegremente à volta de uma fogueira, cá fora, no jardim maravilhoso, onde durante o dia também tínhamos momentos de silêncio e interioridade.

Despedi-me desta Missão Cluny dando-me conta de que foi para servir os outros que Deus me criou. Já em casa, tenho estado a aprender, pela Internet, a linguagem gestual que comecei a usar com um surdo-mudo no CRIL, tenho estado a cantar, a tentar escrever cânticos de louvor e adoração.

Quero ser uma pessoa-cântaro e levar o Vinho Novo do amor de Jesus a todas as periferias da vida e da sociedade, como Maria fez.

6 Comments

  1. Parabéns pelo trabalho e dedicação

  2. Ai Clarinha… Tu é que me puseste com um nó na garganta!
    Vim aqui hoje, como tantas vezes, em busca de orientação. E, como sempre, não me vou embora de mãos vazias.
    Vinha pedir um golo de água e levo um cântaro a transbordar.
    As tuas palavras, Clarinha, “trouxeram-me uma paz interior, uma alegria, um sorriso e algumas lágrimas”.
    Sei bem o que sentiste na CRIL: o meu pai foi director de uma instituição semelhante e eu fui lá algumas vezes. Tanta sede de contacto corporal, de atenção, de um sorriso. Não é preciso fazer nada, a presença e a atenção são suficientes.
    Obrigada pela partilha, Clarinha!

  3. Helena Atalaia

    O tempo que dedicamos ao outro é a melhor prenda.
    Trabalhei durante mais de 1 década com doentes respiratórios graves enquanto fisioterapeuta. Da parte técnica é bom salientar que somos importantes na melhoria significativa da funcionalidade e qualidade de vida. Mas não é apenas da parte técnica que os doentes mais graves se lembram de nós, ouso dizer que o que fica não é nada de técnico … são as conversas que OUVIMOS, os lamentos que acolhemos, as palavras que dizemos e não dizemos, os olhares de compreensão e as mãos que estendemos para segurar uma mão trémula e que só precisa de um apoio.
    É pena, que seja tão difícil onde moro arranjar voluntariado para as crianças e jovens. Todos teriam a ganhar, principalmente aqueles que aparentemente mais possuem.
    Obrigada Clarinha por esta partilha. Quando se dá, o que vale a pena, recebe-se tanto mais… Bjs

  4. Está lindíssimo Clarinha, um texto claro e tocante… que o Senhor continue a guiar esses passos e que o teu coração transborde… de Amor pelos outros, vendo no outro o irmão… obrigada por partilhares connosco os teus dias…

  5. Cláudia Duarte Sousa

    Obrigada pelas palavras.. exemplo bom para dar cá em casa. fiquei com lágrima no cantinho do olho. Obrigada Clarinha

  6. Que bom ler-te Clarinha. Dar e darmos-nos aos outros (ainda que simplesmente num abraço que faz a diferença) é reconfortante. Uma das minhas filhas, a Ana Carina , está em Angola/Benguela como voluntária durante um ano (faz em Setembro), pelos LD, Leigos para o Desenvolvimento. Estou com umas saudades enormes, mas sei que ela está a fazer o que ambicionava , e apesar de tudo também eu me sinto feliz e orgulhosa, se é que posso dizer isto. Por tudo isto, parabéns pela iniciativa e pela experiência enriquecedora.

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