Em Caná da Galileia...


Namoro, matrimónio, divórcio e muita confusão

“Mãe, não imaginas a conversa surreal que tive hoje com uma colega minha”, disse-me a Clarinha, de dezasseis anos, à hora de almoço. Alguns dias na semana, ela vem a casa almoçar comigo. “E esta colega é menina de catequese e missa, como eu! E ainda por cima é uma querida. Gosto muito de conversar com ela, mas…”

“Então, conta lá.”

“Perguntei-lhe, sabes, por perguntar, se ela se queria um dia casar. Eu gosto de pensar na minha vocação, imaginar qual será, sabes… Ela respondeu: «Casar? Nem pensar! Que disparate! Nunca!» Eu fiquei admirada com a reação e perguntei-lhe porquê. Ela continuou: «Não, namorar sim, mas casar não. Depois vem o divórcio, e é difícil fazer as coisas correrem bem…» Fiquei ainda mais admirada e perguntei: «E tu não gostavas de ter filhos? Eu gostava tanto!» Ela disse que talvez, nunca pensara nisso, logo se vê, pode ser que sim, mas depois se se divorcia é uma confusão. Mãe, o que eu não entendo é como é que se pode chegar a esta idade a pensar assim, crescendo na Igreja. Associar logo o casamento ao divórcio, e não associar namoro a casamento. Não dá para entender!”

À noite, foi a vez de o Niall desabafar:

“Teresa, não imaginas a minha conversa com o grupo de crismandos na nossa última sessão. Tenho estado a ajudá-los a fazer um exame de consciência mais profundo, e coloquei-lhes várias questões. Uma delas foi se é ou não pecado ter relações sexuais antes do casamento ou viver com o namorado antes de casar. Havias de ver as reações deles! E não estou a falar dos meninos que têm pais afastados da Igreja, não… «Pecado? Porquê? Viver junto antes de casar é até uma medida de bom senso! Que disparate, pecado!» Estou a ver que preciso de dedicar uma sessão inteira ao tema do sacramento do matrimónio…”

E eu estou a ver que as cabecinhas andam todas muito confusas! Queridos pais cristãos, queridas Famílias de Caná, toca a pegar no Catecismo da Igreja Católica e nas cartas papais, a começar pela Amoris Laetitia, passando pelos ensinamentos de S. João Paulo II e continuando até à encíclica Humanae Vitae, do beato Paulo VI, e explicar aos filhos lá em casa por que é que a Igreja insiste em chamar pecado a isso de entregar o corpo sem entregar a vida, a isso de perder a virgindade com quem não está disposto a perder a vida por nós,  a isso de “fazer amor” com quem não tem qualquer vontade de partilhar a conta bancária, o cuidado futuro dos pais idosos ou simplesmente o dom divino da fertilidade. Vamos explicar lá em casa que quem entrega o corpo, entrega a alma, e quem recebe o dom do corpo de outro, recebe o dom da sua alma também – para amar ou para magoar. Vamos explicar lá em casa que o namoro é o caminho para o casamento, que não se brinca aos namoros e que namorar sem pensar em casar é uma enorme hipocrisia. Vamos explicar lá em casa que, quando soubermos com toda a certeza que queremos amar alguém para toda a vida, afirmemo-lo diante de Deus e dos homens, através do sacramento do matrimónio. Sem experimentações, porque o ser humano não vem à experiência com direito a devolução em trinta dias.

Vamos explicar lá em casa o que é certo e o que é errado. E cuidado, porque com tanto acesso à informação, não temos como inventar desculpas perante Deus, dizendo-Lhe que não sabíamos. Ele é muito claro:

Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem, mal, que têm as trevas por luz e a luz por trevas, que têm o amargo por doce e o doce por amargo! (Is 5, 20)

6 Comments

  1. Querida Teresa seria possível um post mais longo sobre namoro e matrimónio?A vida de hoje está pouco dada a reflexões e acho que seria ótimo termos uma visão de alguém que praticou o sacramento do matrimónio de forma tão diferente aquela que estou habituada…muito obrigada pela partilha

    • Vou escrevendo à medida que os assuntos surgem, porque não consigo fazer de outra forma, Inês! Não me vejo como “pregadora” ou “expositora da doutrina”, por isso tenho dificuldade em escrever de forma teórica, mas vamos aprofundando as questões quando elas chegam, sim. Vou tentar ser mais precisa nestes assuntos, porque realmente estão a dar muita confusão! Obrigada!

  2. Vera Vaz Ribeiro

    não é facil Teresa hoje em dia os pais são considerados homofobicos, retrogrados porque pecado não existe! é com isso que bombardeiam os jovens hoje e precisamos de muita ajuda porque tudo “puxa” ao contrário dos valores que nós pai católicos tentamos incutir nos filhos.Por isso agradeço ao Niall que insista nesse assunto e concordo com a Inês A uma reflexão, para ajudar os pais que não tiveram um inicio de casamento tão correto como o vosso. bjinhos

    • Querida Vera, o Niall vai continuar a insistir sim 🙂 E olha que não se trata apenas de dar testemunho de um “início correto”, porque não é preciso ter um início correto para defender a doutrina. Todos o podemos fazer, mesmo que tenhamos começado de outra maneira, mesmo que tenhamos caído em tentação e pecado, e pedido perdão. Sabemos, como cristãos, que ninguém perdoa mais depressa do que Jesus, e por isso não há que ter medo. Não precisamos de ser perfeitos ou de ter tido um início perfeito para ensinar os jovens a fazê-lo. Podemos até testemunhar a partir da nossa tristeza em não termos sabido tanto quanto eles podem saber agora! Que ninguém deixe de ensinar a doutrina por vergonha da sua própria incapacidade para a viver.

  3. Maria Catarina

    De acordo. Mas na mesma linha, esperemos que os pais compreendam e aceitem que o casamento deve vir quando se está preparado para assumir o compromisso e que não é razoável pedir a quem ama para esperar indefinidamente pela altura ideal – a tal estabilidade económica e com direito a casa comprada, carreira segura e com festa de bar aberto. Casar é assumir um compromisso perante e com Deus e com o outro, não é um lacinho bonito para pôr à volta e uma vida cristalizada.

    • Ótimo comentário! Para quê adiar o casamento quando duas pessoas se amam? Para quê comprar casa e carro e fazer festa? Um piquenique no Canto de Caná e uma casa alugada chegam perfeitamente para começar 🙂 Da nossa parte, os nossos filhos têm aceitação absoluta para um casamento cedo, com um mínimo de capacidade económica para suster uma família. Se alguém está preparado, economicamente, etc para “viver junto”, então que case antes de viver junto, e viva junto com a bênção do Senhor!

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