Em Caná da Galileia...


Nove meses

Neste fim-de-semana, a dois meses e meio do termo da gravidez e aproveitando estes lindos dias cheios de sol, a minha corda da roupa no jardim esteve particularmente bonita. Ora vejam:

Tão bonita, que nos intervalos entre lavar, estender, passar e arrumar (em gavetas acabadinhas de lavar também), eu simplesmente me sentava ali, num banquinho, a contemplar. Haverá visão mais bela, na lide de uma casa familiar?

“Estás muito feliz, não estás?” Ia perguntando o Niall, quando passava por mim e me via ali, sorriso de orelha a orelha, olhando a roupa a secar ao sol. E eu só conseguia acenar que sim com a cabeça, enquanto afagava o ventre cada vez maior. De facto, ainda tenho dificuldade em acreditar que Deus me fez tamanho dom nesta fase da minha vida.

Em termos económicos, este bebé é um desafio, que me vai obrigar a regressar à minha profissão como professora a tempo inteiro (no ano letivo passado estive a tempo parcial) para sermos capazes de continuar a pagar as nossas contas. Em termos de trabalho, não há dúvida de que um bebé com diferença de seis anos da filha mais nova e vinte do filho mais velho significa um regressar a rotinas já ultrapassadas, como noites sem dormir, mamadas noturnas, mais – ainda mais – roupa para lavar e cuidar, certamente idas ao médico…

Mas nada disso importa, nada disso conta, quando nos apercebemos da grandeza deste dom. Pois não há dom maior que o dom da vida, e para nós é um privilégio, uma honra e um presente totalmente imerecidos, este bebé.

Fico sem saber como agradecer a Deus, consciente de que nada do que eu faça pode algum dia pagar esta graça. Porque também sei que muitas famílias dariam tudo para terem nem que fosse um só bebé, e quem sou eu para receber sem pedir o que outros pedem sem receber? Por outro lado, e porque já vivi experiências suficientes de sofrimento, sei que nada está garantido – o nascimento do Daniel não é exceção – e de um momento para o outro tudo pode acontecer. Mas como dizia a Família Martin, a Deus não se pergunta “porquê”.

Sempre achei que nove meses é tempo a mais 🙂 No terceiro trimestre em que me encontro, sobretudo quando se tem 46 anos, já tudo custa. Entre arrumar a casa, preparar refeições e recolher crianças das escolas, é preciso descansar, e eu não fui feita para descansar! As meias-horas que vou passando deitada no sofá entre as diferentes tarefas são para mim um enorme desperdício, mesmo com bons livros para ir lendo.

Mas depois lembro-me que Deus faz tudo bem feito, e se decretou que a gravidez devia ter nove meses, é porque precisamos de nove meses para acolher uma nova vida. Precisamos da fase de espanto, de novidade, de alegria, de excitação, como precisamos da fase de cansaço, das dificuldades, das dores, da falta de mobilidade.

Pois assim será, também, a partir do parto: no grande útero que é a vida na Terra, criamos os nossos filhos com alegria e espanto, mas também com dor e cansaço, preparando-os para o verdadeiro parto da morte, que nos lançará por fim a todos no colo de Deus. Em Medjugorje, Nossa Senhora disse um dia a uma vidente: “Devíeis festejar a morte de um familiar com o mesmo entusiasmo com que festejais o nascimento de uma criança.” Vivemos, realmente, no útero de Deus, crescendo e tornando-nos cada vez mais fortes, saudáveis e bonitos, que é dizer, mais santos, à espera do grande dia… Como é belo, este mistério!

A roupa na corda vai secando, os dias vão passando, e eu espero o Daniel Patrick cada vez com maior entusiasmo e desejo. E assim também o esperam os irmãos, que não passam cinco minutos sem acariciar a minha barriga ou sem falar no grande dia em que irão conhecer o Daniel. “Estou de esperanças”, não é mesmo?

Bem hajam a todos os que se têm unido a nós em oração. Não deixem de o fazer agora…

 

6 Comments

  1. Catarina Silva

    Rezo para que tudo corra pelo melhor!
    Encanta-me essa vossa capacidade de adaptação, de adaptação de toda a família. E encanta-me sobretudo a forma como funcionam em uníssono. Só pode ser dom de Deus, pois sei bem como é difícil levar uma família junta pelo mesmo caminho.
    A forma como vocês aceitam o que vem, bom e mau, sem refilar, sem mágoa e sem revolta… Alguns chamam de “irresponsabilidade” ou de “ignorância”, mas não é, porque eles não sabem a coragem que é preciso ter para confiar completamente naquilo que Deus tem para nós. Essa coragem aliada à confiança tem um nome – chama-se Fé. E é dessa Fé que vocês dão um grande testemunho e é por isso que Deus nunca vos há de faltar!
    Bjinho

  2. Sónia Santos

    Metáfora muito interessante!

  3. Helena Atalaia

    Que doçura de estendal! Estão nas nossas orações. Um beijinho 😘

  4. Que estendal maravilhoso!!!
    Queria aproveitar este texto, em que falas no regresso ao trabalho a tempo inteiro, para agradecer os ensinamentos da família Martin, especialmente o dos sofrimentos e alegrias, às vezes tenho a sensação de que mães como eu que trabalham seis dias por semana fora de casa são menos presentes na vida dos filhos e por isso “menos mães”, mas o exemplo da família Martin deu-me outro ânimo neste regresso às aulas e ao trabalho! Obrigada

  5. Teresa, que tudo continue a correr bem.
    Oramos convosco ao Senhor da vida…

    Abraços

  6. Este e o meu post preferido – volta e meia volto ca <3

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