Em Caná da Galileia...


O eclipse lunar e o Cântico dos Cânticos

Na sexta-feira dia 27, iniciou-se o Segundo Acampamento de Caná. O Niall e eu estávamos felicíssimos: nesse dia, fazíamos vinte e dois anos de casados, e nem nos nossos mais ousados sonhos podíamos imaginar melhor maneira de os comemorar. Deus é muito nosso amigo!

Pois que há de melhor, ao fim de vinte e dois anos de casamento, do que ter à nossa volta uma família feliz, ainda a crescer, e um Movimento a nascer e a fazer caminho? Depois rimo-nos juntos: se há vinte e dois anos atrás, no hotel onde passámos a lua de mel, alguém nos dissesse que neste dia iríamos estar a dormir, não num hotel ainda melhor, mas numa tenda minúscula (em que não nos conseguíamos sequer ajoelhar para nos vestirmos), como quem passa “de cavalo para burro”, iríamos acreditar? E no entanto, a progressão do hotel para a tenda foi uma conquista, não uma perda, e não faríamos a troca por nada deste mundo.

Mas Deus ainda nos tinha reservada uma surpresa: nessa mesma noite, rodeados da nossa família e dos nossos melhores amigos, contemplámos o que se julga ser o maior eclipse lunar do século vinte e um, a famosa “lua de sangue”. Vimo-la subir ao céu, vimo-la ficar vermelha, vimo-la perder a cor para se transfigurar, tornando-se luminosa e resplandecente. Vimo-la enquanto os nossos filhos brincavam com os amigos ao redor das tendas, enquanto rezávamos o Terço no Canto de Caná, enquanto conversávamos com os amigos no chão do pátio do colégio, sem pressa… O Francisco foi fotografando:

Lua de mel, lua contemplativa, sonhadora, de encantos mil. O amor apaixonado que continuamos a viver em casal, ao fim de vinte e dois anos de matrimónio, e que nos faz desejar acima de tudo estarmos um com o outro. Ninguém nos diverte mais, ninguém nos conhece melhor, com ninguém partilhamos pensamentos mais íntimos, gargalhadas mais divertidas, ideias mais malucas. Com ninguém somos mais nós próprios, cheios de virtudes e de defeitos, sabendo seguramente que seremos sempre e para sempre amados.

Não falámos a ninguém deste nosso aniversário e pedimos aos nossos filhos que guardassem segredo. É que tínhamos uma surpresa preparada para o Serão Bíblico…

Noite de sábado. No Canto de Caná, as famílias sucedem-se com o seu número bíblico, a sua história contada, cantada, dançada, dramatizada. Lindo! Nós ficamos propositadamente para o fim. Chega a nossa hora…

Quem é esta que sobe do deserto apoiada no seu amado? (Ct 8, 5)

Declamam os nossos rapazes em coro.

Que é o teu amado mais que um amado, ó mais bela das mulheres? (Ct 5, 9)

Declamam as nossas raparigas.

Vestidos “a rigor”, como noivos judeus, o Niall e eu avançamos sobre o estrado. Ao fundo, os rapazes seguram o “chupá”, a tendinha judia sob a qual se realizam os casamentos judeus, simbolizando a proteção divina e a casa que, juntos, os noivos irão construir. Esta nossa “chupá” tinha sido construída com canas apanhadas atrás de nossa casa e decorada com panos e flores artificiais. Que melhor para uma Festa das Tendas de Caná?

E então, o Niall e eu começamos a recitar o Cântico dos Cânticos, procurando manter um ar sério e digno apesar da imensa vontade de rir. Conhecem os poemas de amor do Amado pela sua Amada e vice-versa?

Ah, como és bela, minha amiga! Como estás linda!

Teus olhos são pombas por detrás do teu véu.

Teus cabelos são como um rebanho de cabras

que descem do monte Guilead.

Os teus dentes são um rebanho de ovelhas

a subir do banho, tosquiadas…

O teu pescoço é como a torre de David

Os teus dois seios são dois filhotes gémeos de uma gazela… (Ct 4…)

À medida que prosseguimos a leitura, reparamos que alguns dos nossos ouvintes se debruçam para confirmar que estamos mesmo a ler da Bíblia, e não de algum outro livro de erotismo duvidoso. E todos riem à gargalhada, numa estrondosa explosão de alegria.

“Isso está mesmo aí escrito?” Perguntam alguns.

“Poemas de amor, subtítulo: Como não te declarares à tua namorada”, sentencia o Francisco com o seu ar brincalhão.

“Esta é Palavra de Deus”, digo eu em jeito de conclusão, antes de oferecermos uma fatia de “bolo de noiva” feito pela Clarinha a cada um.

Porque a Palavra de Deus também nos ensina – num registo que há três mil anos seria certamente moderno e atraente – a contemplar o nosso amado, a “perder tempo” elogiando o nosso cônjuge, a repetir palavras de amor uns aos outros. O nosso Deus é um Deus apaixonado, e quer-nos apaixonados por Ele, uns pelos outros, pela família, pela vida. E, claro, apaixonados de forma especial pelo nosso cônjuge.

Já leram o Ensinamento Mensal, sobre o Cântico dos Cânticos?

 

 

4 Comments

  1. Oh, que bonito!!!
    Tenho tanta, tanta pena de não termos podido ir… mas tenho esperança de que se o ano passado foi bom, se este ano foi melhor, para o ano vai ser um arraso!!!
    Beijinhos grandes a todos!

  2. Ainda me estou a rir…boas gargalhadas nos proporcionaram…

  3. Isabel Guimarães

    Foi realmente uma noite muito bonita, muito longa…e muito bem humorada!!! E não é o bom humor uma virtude tão necessária entre o casal, entre os membros de uma família e dentro de cada um de nós? Sabermos rir de nós próprios e rir com os outros…que leveza que dá à vida de uma família. Obrigada pelo momento de tantas espontâneas gargalhadas entre “miúdos e graúdos”!
    E que fotos fantásticas, Francisco! Well done!

  4. Que lindo… também é Graça de Deus que o Amor permaneça e cresça… E sim, não há melhor forma de celebrar do que em presença e pela presença do nós que se é! Um beijinho grande!

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