Em Caná da Galileia...


Para melhor

A nova lei dos contratos de associação obrigou-nos a repensar toda a nossa logística familiar. Se até há pouco tínhamos tido, com vantagem, seis filhos na mesma escola, entre o ano e os dezassete, beneficiando do contrato de associação que equiparava o Colégio das Irmãs de S. José de Cluny à escola pública (com exceção do primeiro ciclo, que de qualquer forma era bastante acessível), agora tudo vai mudar. Sem orçamento para pagar a escola de todos, decidimos que, no próximo ano letivo, todos vão deixar o colégio.

A decisão não tem sido fácil para nós, pais, e tem-nos roubado algumas horas de sono. Sabemos, e isso é algo que nos deixa descansados, que o ambiente rural da maioria das escolas das redondezas é saudável e tranquilo. Também não temos dúvida em relação à qualidade do ensino estatal, ou não fosse eu professora do Estado. Mas não é fácil desistir de um sonho antigo, que nos perseguia desde antes de nos casarmos: termos todos os filhos a frequentar o ensino católico. Porque não fora outra a razão que nos orientara na escolha do Colégio. Suspirando, vamos tomando as decisões necessárias e preparando o próximo ano letivo  porque este, afinal, está quase a terminar, e o Colégio já quer ter uma estimativa do número de alunos que permanecem.

Mas no domingo tudo se tornou mais fácil. Ao sair da missa, no carro, sugeri ao Niall passarmos em frente da escola primária de Mogofores, para os meninos verem a sua nova escola. O entusiasmo era grande: como seria a escola nova? Grande? Bonita? Moderna? Parámos e abrimos as janelas. Ei-la! Diante de nós, uma escola antiga, réplica da escola primária da minha infância, com um quintal de terra, ervas e pedras, algumas árvores, uma bola de futebol perdida. Antes de eu ter tempo de comentar alguma coisa, a Lúcia gritou:

“Mãe, que fantástico! Os meus amigos nem vão acreditar quando lhes disser! Vou para uma escola maravilhosa! Tem terra! Tem erva! E árvores para subir! Uau! Tão linda!”

E logo o António:

“Ah, podemos vir já para cá?”

Aproveitei o entusiasmo para lhes dar a novidade:

“Para o ano vocês vão estar na mesma turma, António e Lúcia! Nesta escola, só há três turmas, e por coincidência, o segundo e o quarto anos vão estar juntos!”

Os manos nem cabiam em si de felicidade.

Não pensem que os meus filhos não gostam da sua escola atual. Pelo contrário! Adoram os professores, os colegas e o espaço. Mas há uma coisa que eles sabem: os pais nunca, nunca escolheriam para eles algo pior do que têm. A sua confiança em nós é ilimitada, e nunca lhes passaria pela cabeça desconfiar da nossa bondade. Se os pais os vão mudar de escola, é porque encontraram uma melhor. A escola é mais pequena, mais antiga, mais rural? Então é porque estas características são qualidades a valorizar. Nem mais, nem menos.

Nessa noite, dormi descansada, depois de dar algumas gargalhadas com o Niall. Como é fácil aceitar a vida das mãos dos pais, se acreditarmos no seu amor incondicional!

Como é fácil aceitar a vida das mãos de Deus, se acreditarmos no seu amor incondicional!

Será que acreditamos? Quando a vida nos troca as voltas e passamos, como se diz popularmente, “de cavalo para burro”, forçados a mudar de emprego, de terra, de amigos; quando perdemos a saúde; quando perdemos a voz (pois…); quando nos descobrimos no meio de um sofrimento que não desejávamos, que não imagináramos possível; será que acreditamos que Deus nos ama como Pai, como o melhor dos pais, com um amor incondicional? E que, se permite estas mudanças na nossa vida, é porque elas são – contra todas as aparências – para melhor? Diz Job, atolado de sofrimento, à sua mulher:

Se recebemos de Deus os bens, não deveríamos também receber os males? (Job 2, 10)

 

Senhor, dá-me um coração de criança, capaz de aceitar das tuas mãos os bens e os males,  a dor e a alegria, a saúde e a doença, a vida e a morte, sabendo que todas as mudanças permitidas por Ti – ao contrário das que são fruto do meu pecado – são para melhor. Ámen!

6 Comments

  1. Teresa, por aqui também andamos com esse dilema!

  2. Nada acontece por acaso, por isso se calhar estava na Hora da mudança, para que a vida de cada um vá encontrar Jesus onde menos se espera. E assim continuar a evangelizar com a vida os novos amigos, os novos pais, os novos professores e os novos funcionários! Claro que, não deixa de ser uma grande decisão familiar, mas o que nos vale é que Jesus vai sempre connosco. 😀 Esperança alegre 😀 beijinhos para todos da Filipa 😉

  3. António Assunção

    “O homem põe e Deus dispõe” diz a sabedoria do povo.
    Esta pode ser uma forma, mesmo se inesperada e talvez mais exigente para todos, de concretizar o desafio do Papa Francisco de “estar em saída”
    Com “Nós, Jesus” uma feliz aventura!…

  4. Olá querida Teresa.
    Como sabe, venho muitas vezes aqui, ao vosso espaço. Não resisto a deixar apenas isto que há muito aprendi no Movimento de Schoenstatt: NADA, mas mesmo NADA acontece por acaso; não acredito, desde há muito tempo, em coincidências, mas acredito sim, em “Deuscidências”, como uma vez ouvi a alguém a dizer.
    Por isso fique tranquila e na paz porque antes dos seus tesouros chegarem à nova escola, Jesus Amigo já está à porta para os receber.
    Um abraço grande com a força do mar da Praia da Barra

    • Obrigada! Sim, não tenho qualquer dúvida sobre isso! Também há já algum tempo que só tenho, perante as surpresas de Deus, um sentimento de curiosidade: “Que quererá Ele agora de mim, de nós?” E que bom que é viver assim! Um abraço até ao mar também para si! As violetas que nos ofereceu continuam a alegrar o nosso jardim 🙂

  5. A mudança é sempre assustadora… principalmente quando nos é imposta! Que o Senhor nos guie também a nós, porque vamos ter de deixar esse espaço de educação, escolhido essencialmente por se tratar de uma escola católica, em que Deus Nosso Senhor seria presença viva no quotidiano e não uma excentricidade da mãe… Um olhar de fé é sempre um olhar positivo! Obrigada Teresa!!!

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