Em Caná da Galileia...


Uma só carne

Numa destas noites, quando nos fomos deitar, o Niall e eu tínhamos debaixo dos lençóis este lindo postal:

Rimo-nos com gosto. O António tem aprendido a ler e a escrever com grande facilidade, o que nos deixa contentes. Mas a alegria maior foram dois pormenores: o “ti” englobando ao mesmo tempo a mãe e o pai; e a caracterização dos seus pais como dois noivos, no momento do seu casamento,  a mãe de véu e flores e um grande coração no meio dos dois. Para o António, o pai e a mãe são eternos enamorados.

No Natal, recebemos este postal do David, feliz por ter um pai e uma mãe que cuidam dele em conjunto:

Mais giro ainda que o postal, foi o desenho que o acompanhou:

Não se trata apenas de um desenho, mas de um recorte, em que as duas figuras são recortadas ao mesmo tempo e depois o papel é aberto, ficando duas figuras exatamente iguais, uma ao lado da outra. Ficámos felizes por perceber que, para o David, o pai e a mãe têm o mesmo “tamanho” na sua curta vida de criança e formam “uma só carne” (Gn 2, 24-25)

O amor conjugal, diz S. Paulo, é o mais perfeito sinal do amor de Jesus pela sua Igreja, isto é, por cada um de nós. Será que, na nossa casa, o amor conjugal é, para os nossos filhos, o mais perfeito sinal do amor de Deus para com eles?

No outro dia, numa das nossas conversas, o Niall e eu falávamos do casamento.

“Já reparaste”, dizia-me ele, “como é irónica a situação no ocidente moderno? Nenhum de nós pode escolher os membros da sua família: não escolhemos os pais, não escolhemos os filhos, não escolhemos os tios ou os sobrinhos, os avós ou os netos, os sogros ou as noras. Há uma única pessoa da nossa família, uma única, que podemos escolher: o marido ou a mulher. Não é irónico ver que cada vez mais pessoas parecem errar na única escolha livre que têm que fazer?”

O Papa Francisco insiste na importância da preparação para o matrimónio e do acompanhamento dos casais jovens, na sua exortação A Alegria do Amor:

Torna-se indispensável o acompanhamento dos esposos nos primeiros anos de vida matrimonial, para enriquecer e aprofundar a decisão consciente e livre de se pertencerem e amarem até ao fim. (Nº 217)

Tanto a preparação próxima como o acompanhamento mais prolongado devem procurar que os noivos não considerem o matrimónio como o fim do caminho, mas o assumam como uma vocação que os lança para diante, com a decisão firme e realista de atravessarem juntos todas as provações e momentos difíceis. (Nº 211)

 

E a Irmã Lúcia escreve belas palavras sobre a beleza do matrimónio, falando das famílias dos pastorinhos no seu livro Apelos da Mensagem de Fátima (neste ano do centenário, vale a pena ler os escritos desta grande santa):

Os seus lares eram abençoados pelo sacramento do Matrimónio. E a fidelidade conjugal inteiramente guardada. Recebiam todos os filhos que o Senhor lhes quisesse conceder, não como uma carga, mas como mais um dom com que Deus enriquecia as suas casas. (…) Não penseis que nesses lares não existiam as deficiências próprias da fraqueza humana; havia-as sim, mas havia também compreensão, perdão, paz e amor.

Ultimamente, tenho recebido mails muito tristes de várias leitoras deste site, pedindo-nos orações pelas suas famílias, tragicamente feridas pelo vírus do divórcio. Escreveu-me uma mãe jovem, bonita e muito simpática: “O meu amado marido diz que deixou de me amar, Teresa. O mundo desabou para mim. O tapete saiu debaixo dos meus pés. Estou perdida e cheia de dor. Tenho uma dor agonizante e quase não consigo respirar ou sobreviver. Olho para os meus filhos pequeninos e sou trespassada. Ele já não me ama, Teresa, e já me amou tanto!”

Que fenómeno estranho é este, do fim do amor? Como pode o amor terminar? O amor, por definição, não tem fim. Ninguém ama a prazo. Ninguém ama sem ser loucamente, absurdamente, para sempre.

Aliás, o amor não é um sentimento, que hoje se experimenta e amanhã já mudou. O amor, diz Jesus, é um mandamento:

Este é o Meu Mandamento: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (Jo 15, 12)

Como Ele nos amou?! Mas alguém ama assim, hoje em dia? Dar a vida pelos que amamos? Ser fiel até ao fim?

Sabemos onde nasceram as Famílias de Caná: ali, junto àquelas talhas, onde Maria nos ensinou a fazer tudo o que Jesus disser, e onde Jesus transformou em vinho bom a água dos nossos pecados. Ah, o vinho de Caná! Como precisamos dele aqui e agora, nas famílias cristãs de hoje! Como seria bom se todas as crianças vissem nos pais os eternos noivos de Caná e os desenhassem de véu e fato de gala, num desenho com muitos corações!

Aproxima-se o dia de S. Valentim. Aceitam o desafio? De hoje até dia 14 vamos rezar todos os dias, intensamente, pelo menos uma dezena do terço em família pelos casais que mais precisam da nossa oração, especialmente os leitores deste site em risco de divórcio. Unamo-nos diante do Senhor! Comecemos agora mesmo: Pai-Nosso…

 

 

 

6 Comments

  1. Rogėrio Ribeiro

    “Uma só carne”, é um mistério que sempre me encantou e objeto de muita meditação de minha parte!
    Grande è este mistério digo-o em relaçao a Cristo e à igreja diz-nos S.Paulo.
    Que lindo quando comungamos e nos torna-mos com Cristo uma só carne!
    O esposo (Cristo) e a esposa (igreja) uma só carne!
    O homem e a mulher pelo sacramento do matrimónio também são uma só carne, já não são dois, mas um só…
    Se todos nós tivermos consciência deste mistério, de que o amor conjugal è imagem do amor de Cristo pela igreja poderemos santificar o nosso matrimónio!

  2. Infelizmente tenho acompanhado de perto duas situações de divórcio que muito me entristecem. Na verdade não consigo entender como é que duas pessoas que um dia se amaram tanto e têm filhos em comum se tratam tão mal e se desrespeitam mutuamente.

    Já tenho rezado e dedicado as minhas orações a estes casais que mais precisam de entendimento. Por isso…. desafio aceite!

  3. Conceição Simões

    Bom desafio Teresa.
    Eu passei por esse amor que acabou, mas penso muita vez se foi amor ou só paixão. A paixão acaba. Quando não se percebe a união do casamento, com facilidade tudo acaba.
    Desejo de todo o coração que acabe este sofrimento nos casais.

  4. Como jovem/adulta, (24 anos eheheh), sinceramente sinto que não há referências. Não sei o que esperar de um casamento…..é suposto discutir? até que ponto discutir? é suposto haver mágoas entre uma casal? é suposto um casal passar umas décadas em que até gostam um do outro, e anos em que não? É suposto haver momentos em que se quer acabar tudo? E se a pessoa mudar?

    Sei que podem parecer questões infantis ou básicas, mas quando não se sente que temos as melhores referências, fica-se mesmo confuso acerca do que esperar de um casamento. É confuso 🙁
    Abraço

    • Havemos de falar mais disto, Célia! Tem toda a razão: precisamos de referências. Vamos procurar dá-las aqui no site também! Ab

  5. Bom dia,

    na nossa casa nunca deixamos de entregar um mistério do terço pelas famílias que correm o risco de se desintegrarem.
    A desintegração decorre sempre da falta de Amor… da confusão do Amor… e a dor da perda do Amor, a “morte” do Amor é assaz dolorosa e transformadora… por isso muitas vezes as famílias não resistem a esse momento de confronto com as trevas, no seio que se imagina protector da intimidade…
    Que o Senhor nos guie e proteja.
    Momentos de partilha e reflexão vivida seriam muito importantes sim.

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