Em Caná da Galileia...


A bagagem certa

O meu rapaz regressou a casa esta madrugada, depois de doze dias em viagem no âmbito das JMJ. Vinha cansado, mas transpirando felicidade, pelo que não se calou o dia inteiro, contando história atrás de história e mostrando foto atrás de foto.

Francisco diante do Santuário da Divina Misericórdia

Francisco diante do Santuário da Divina Misericórdia

Alguns dias antes do seu regresso, imaginei-me a passar este dia lavando a roupa suja da sua mala, pois o Francisco foi para Cracóvia com roupa para doze dias, visto não haver possibilidade de a lavar lá. Imaginei, enfim, a confusão de roupa suja no chão da minha garagem… Nada disso. Aliás, foi bem mais simples: o Francisco simplesmente não trouxe a mala. Sim, deixou-a distraidamente em Cracóvia, sem qualquer identificação, numa paragem de transportes públicos, na pressa de apanhar o autocarro para Paris.

“Só fiquei com a roupa que trago no corpo”, disse-me ele todo sorridente, enquanto eu pensava no reforço de roupa que nós e a avó lhe compraramos antes da viagem, depois de constatar que ele não possuía t-shirts, meias ou calções para doze dias. E acrescentou: “Não te preocupes, porque só perdi a mala da roupa. A outra mala, com as recordações, os livros das orações e as pulseirinhas que troquei com pessoas do mundo inteiro, da China à Argentina, trazia-a às costas. Como vês, trouxe o mais importante!” E o seu sorriso feliz não deixava margem para dúvidas.

No chão da sala, durante uma tarde de encantamento, folheámos mapas e livros, cantámos canções, distribuímos pulseiras. “Toma, o livro de orações é para ti”, disse-me ele, estendendo-mo. “Achei que ias querer um, por isso arranjei logo um ao chegar! E trouxe aqui mais este, e mais este…” Já estão na minha mesa de cabeceira, para quando me deitar. Entretanto, procuro vencer o aborrecimento de ter de comprar nova roupa para o meu filho, enquanto olho para o fundo do meu coração e observo… Estarei a cuidar da bagagem certa, como o Francisco? Estarei, como ele, a privilegiar a oração, o encontro real com as pessoas reais, a troca de experiências, as memórias que construímos juntos, em família? Qual é a bagagem que não posso, de todo, perder? No domingo passado, escutávamos no Evangelho:

Disse Jesus: «Vede bem, guardai-vos de toda a avareza: a vida de uma pessoa não depende da abundância dos seus bens.» E contou-lhes esta parábola: «O campo de um homem rico tinha produzido excelente colheita. Ele pensou para consigo: ‘Minha alma, tens muitos bens em depósito para longos anos. Descansa, come, bebe, regala-te.’ Mas Deus respondeu-lhe: ‘Insensato! Esta noite terás de entregar a tua alma. O que preparaste, para quem será?’ Assim acontece a quem acumula para si, em vez de se tornar rico aos olhos de Deus.» (Lc 12, 13-21)

 

 

 

 

 

2 Comments

  1. Maria da Conceição Simoes

    Realmente quem quer saber de roupa. Que bom Francisco. Ainda esperei ver- te nas cerimónias. Beijos

  2. Que a Graça de Deus não deixe nunca de vos acompanhar!
    Sim, a melhor parte veio com ele, tal como Marta e Maria…
    Beijinhos, Rita

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