Sexta-feira foi um grande dia, que precisámos de planear ao pormenor. De facto, devíamos estar em Manique, Cascais, pelas 19h30, mas a escola da mãe e dos quatro mais novos só terminava às 16h30… Fui buscá-los a toda a pressa, expliquei pormenorizadamente, no carro, as tarefas seguintes, entrámos em casa, onde a Clarinha, o Francisco e o Niall já tinham tudo arrumado e pronto, e depois dos mais novos tomarem uns duches ultra rápidos, estávamos sentados nos carros prontos para partir às 17h10. Nada mal!
A viagem, como sempre, foi Tempo de Família por excelência. Cantámos, contámos histórias da Bíblia sem pressa, fizemos a oração familiar completa – a Clarinha não se esqueceu de levar o missal com as leituras da missa do dia e de levar terços para todos. Três horas de viagem ainda nos permitiram contemplar as luzes brilhantes da Grande Lisboa, absolutamente fascinantes para quem vive numa aldeia pequenina. “Tantas luzinhas! Parece um céu estrelado!” Comentavam os meninos. As longas filas da hora de ponta foram, para nós, um momento de beleza. E, claro, houve tempo para algumas discussões entre irmãos, aborrecidos com os jogos de contagem de carros ou de túneis, e para algumas paragens em estações de serviço consecutivas, com idas ao quarto de banho que não lembraram na estação anterior…
Finalmente, Manique! A comunidade de sacerdotes salesianos, que reside no colégio, estava à nossa espera com um jantar de festa. Celebravam os 96 anos do padre José Fernandes, um sacerdote velhinho que, em tempos, também residiu em Mogofores. Associámo-nos a esta celebração com alegria. Pelas 21h, estávamos prontos a testemunhar a felicidade de sermos uma família católica. E fizemo-lo ao nosso jeito, com cantos de louvor, truques de ilusionismo, oração, ensinamento, a Sara, cansada, agarrada às minhas pernas ou a brincar no chão.
Foi uma imensa alegria descobrir, entre as pessoas que nos escutavam, os rostos conhecidos de duas Famílias de Caná, da Aldeia de Caná Nossa Senhora da Conceição, Abóboda. Trocámos sorrisos cúmplices, enquanto as suas crianças se reviam com naturalidade nos gestos das canções, habituadas a rezá-las nas suas casas. É uma sensação tão boa, esta de nos reconhecermos nos gestos que partilhamos!
O longo dia chegou ao fim. Passámos a noite no colégio, e na manhã seguinte, enquanto tomávamos o pequeno-almoço, o padre Aníbal, diretor, convidou-nos para um passeio: queria mostrar-nos todos os recantos! Aceitámos, agora já acompanhados da Sofia Portela, a namorada do Francisco, que por viver ali perto, veio passar o dia connosco. A animação foi total: visitámos salas de aula, campos de jogos, o pátio, o ginásio… “Um ginásio só para nós?” Quando o padre Aníbal abriu a porta do ginásio, pensei que já não ia conseguir reunir novamente os meus filhos. Descalços e aos gritos, saltaram, fizeram cambalhotas, experimentaram a trave e as barras, correram e cabriolaram com entusiasmo contagiante. Ainda conseguimos visitar a quinta, vimos cavalos e até, imagine-se, duas avestruzes, que fizeram as delícias de todos. Claro que já não saímos do colégio sem trazer vários ovos de avestruz vazios…
Partimos para a Quinta do Conde muito atrasados. Eram dez horas quando abraçámos velhos amigos e iniciámos mais um grande dia de retiro, de convívio, de partilha, de encontro…
“Como é bonito constatar a evolução do movimento em tão pouco tempo!” Concluiu a Carmina, depois da nossa partilha. Todos conseguimos perceber o sopro do Espírito, conduzindo-nos por caminhos novos e belos.
Já era tarde quando regressámos a casa. Ao passarmos, na autoestrada, ao lado de Fátima, e ao darmo-nos conta da beleza da basílica iluminada na noite, não resistimos e parámos. Chovia mansamente, mas o silêncio era profundo e acolhedor.
“Vistam os casacos, coloquem os gorros na cabeça e vamos!” Decidiu o Niall. A Sara, acordando estremunhada, deixou-se aconchegar no carrinho. E lá fomos nós! Rezámos a nossa consagração diante da Capelinha das Aparições, atravessámos o recinto em oração interior, e depois – grande surpresa, hei? – fomos jantar ao restaurante! Que melhor forma de terminar dois dias tão maravilhosos de missão em família?
Horas mais tarde, no silêncio da nossa casa adormecida, meditei na alegria dos setenta e dois discípulos que Jesus enviou em missão. E pensei no diálogo pequenino que Lucas registou:
Voltaram os setenta e dois cheios de alegria, dizendo: ‘Senhor, até os demónios se submetem a nós em Teu nome!’ E Jesus disse: ‘Vi Satanás cair do céu como um raio. Dei-vos poder para pisar em serpentes e escorpiões, e nada vos fará mal. Mas não vos alegreis por os espíritos se vos submeterem. Alegrai-vos, antes, porque os vossos nomes estão escritos nos céus. (Lc 10, 17-20)
Nos céus… Nada mais importa mesmo! Nos céus! Ámen!

Ovos de avestruz… Ainda intactos!!!
Oh coisa mais boa esse sorriso da Sara!
Beijinhos com muitas saudades