“Não há palavras para descrever o horror que se vive em Aleppo”, dizia o Niall à volta da mesa de jantar, quando nos reunimos para a nossa refeição familiar. “Daqui a uns anos, a nossa geração será julgada pelo seu esquecimento. Pela sua inatividade. Por não se lembrar. Aconteceu a mesma coisa no genocídio do Ruanda: só depois do conflito acabar é que a comunidade internacional interveio, simplesmente para declarar que o que tinha acontecido se chamava genocídio. Em Aleppo acontece novo genocídio, e de novo, a comunidade internacional intervirá no fim, para afirmar que sim, que foi um genocídio.”
Ficámos em silêncio. O Niall costuma escutar as notícias do dia na rádio, no trajeto diário de quarenta minutos entre o trabalho e casa. Depois, durante o jantar, vai-nos contando o que se passa pelo mundo. Como nunca ligamos a televisão durante o dia (os mais pequeninos só vêem televisão uma hora ao sábado), esta conversa diária torna-se numa verdadeira meditação sobre a relação entre a vontade de Deus e a vontade dos homens.
Os meninos quiseram perceber um pouco melhor a história da guerra na Síria, e eu também, porque desconhecia o contexto. Com calma, o Niall foi explicando…
A guerra civil na Síria entre as forças do governo do Presidente Bashar al-Assad e os rebeldes, que desde 2010 procuram derrubar o Presidente, já viu 300,000 mortos e milhões de pessoas sem abrigo. O Presidente goza do apoio da força aérea russa e outros aliados regionais, enquanto os rebeldes são apoiados pela Turquia, os Estados Unidos de América e alguns estados do Golfo Pérsico.
O conflito chegou a Aleppo no norte de Síria em 2012, quando os rebeldes avançaram sobre a cidade mas só conseguiram tomar metade da cidade. Em meados de 2016, com o apoio da força aérea russa, as forças do governo conseguiram bloquear a entrada na cidade das forças rebeldes, deixando 250,000 pessoas sem defesa e efetivamente numa situação de cerco.
Aleppo tem sido o palco mais mediático e mais perigoso da guerra civil da Síria. Estão implicadas muitas nações e, entre diplomacia falhada e bombardeamentos, quem tem mais sofrido são milhares de civis. O governo de Síria não tem permitido que o apoio humanitário chegue a muitas zonas da cidade. Os bombardeamentos aéreos de parte a parte, em tentativas desastrosas de derrubar as posições uns dos outros, atingiram vastas zonas de habitação, causando uma destruição clamorosa.
Frente ao Papa Francisco nas Jornadas Mundiais de Juventude, em Cracóvia, em Julho deste ano, a jovem Síria Rand Mittri, que trabalha num Centro Salesiano em Aleppo, testemunhou: “O sentido da nossa vida foi cancelado. Somos a cidade esquecida”. O Presidente da Câmara da cidade, Brita Haj Hassan, numa entrevista a semana passada ao Sky News, disse: “Vivemos num holocausto em Aleppo. A cidade está em chamas todos os dias. A comunidade internacional está a observar, mas nada faz”.
Que posso eu, católico, aqui em Portugal fazer para ajudar Aleppo?
A leitura diária que estamos a fazer, em família, das Memórias da Irmã Lúcia dá-nos algumas respostas. Na verdade, tanto o Anjo de Portugal, como Nossa Senhora, ofereceram aos pastorinhos estas respostas como forma de alcançar o fim da Primeira Guerra Mundial: rezar e fazer sacrifícios. Rezar a sério, a doer, e fazer sacrifícios a sério, a doer. Ficámos impressionados quando lemos que a Jacinta, doente terminal, se levantava da cama para rezar as orações do anjo não de pé, não de joelhos, mas prostrada, de cabeça no chão… Rezaremos assim, a valer, pela Síria? Seremos verdadeiramente insistentes com a nossa oração e sacrifício, como nos dizia o Evangelho neste domingo? Ou rezamos vagamente pela paz, levemente distraídos, seguros e confortáveis nos nossos sofás, longe, muito longe das bombas de Aleppo?
Depois, podemos participar nos vários projetos que estão em curso para ajudar os refugiados. O Papa Francisco pediu a todas as paróquias da Europa, há um ano atrás, para cada uma acolher pelo menos uma família de refugiados. Não seria maravilhoso se as paróquias de Portugal lhe oferecessem esse presente, quando o papa nos vier visitar? Quereria ele coisa melhor? Vamos a isso: consultem a Plataforma de Apoio aos Refugiados e descubramos, juntos, soluções! Afinal, o nosso carisma faz-nos correr às periferias, para servir a todos o Vinho Novo do Senhor!
Que Nossa Senhora, Rainha da paz, nos dê o dom da pressa, o dom que a fez dar Jesus a todos ainda antes do seu nascimento, que a fez apressar a hora do seu Filho nas Bodas de Caná, e que continua a fazê-la descer à Terra, em Fátima e um pouco por todo o mundo, para que ninguém se perca… Ámen!
Também eu desconhecia o contexto…
E faço parte dos que não rezam a doer, mas sim vagamente, no conforto do lar, sem tirar nem pôr. É a verdade, infelizmente.
É verdade….. qundo refleti sobre este assunto tive o mesmo pensamento. … como ajudar …!?
Encontrei a plataforma e estou inscrito já faz uns meses.
Nunca fui contactado, mas senti-me muito melhor depois de o fazer.
Pensei na minha família e como gostaria que alguém me estendesse a mão caso fosse conosco.
Há muito muito tempo que “rezo” e rezamos pelos meninos da frente de combate das Sírias do mundo… recordo com imensa mágoa duas reportagens de guerra, francesas, sobre o papel das crianças nesta guerra… ativo, diligente… tudo o que imaginamos que nenhuma criança fará. Por lá há muitas e diferentes facções de rebeldes e as crianças opinam nas ruas… Chocou-me profundamente o enorme respeito com que não roubavam os pertences esquecidos nas casa bombardeadas… e falo de crianças com quatro, nove anos… Saulo ia a caminho de Damasco, quando… e olho a Síria…
Peço perdão pela pobreza da minha oração e que o Senhor me, e nos, guie na fé, para que saiba fazer as minhas pequenas tarefas para os não Aleppos que possa causar…
Pedia há pouco um habitante de Aleppo que os homens de honra os fossem salvar, se calhar porque nós os homens da fé não pedimos o suficiente, não acreditamos o suficiente…
Que Deus tenha piedade dos nosso irmãos e Sua Mãe, Maria Santíssima os cubra com o Seu Manto.