Oração familiar. Esta semana, a primeira leitura da missa diária é retirada do Livro do Génesis. Lemos atentamente, versículo a versículo, o belíssimo hino à Criação do autor do Génesis.
Veio a tarde, veio a manhã, era o primeiro dia… (Gn 1, 5)
“O dia começa com a tarde?” Querem saber os meninos.
Começa, sim senhor! Para os judeus, o dia começa ao pôr do sol. É por isso que o Shabbat se celebra ao pôr do sol de sexta-feira, e é esta herança litúrgica que nos permite a nós, cristãos, celebrar missas vespertinas, considerando a missa de sábado à tarde (tecnicamente, apenas depois do pôr do sol) como missa dominical.
“Antes da criação do homem não deviam vir os dinossauros?” Quer saber o David. Mas a Bíblia não é um livro de ciência. A Bíblia é a leitura da história de um povo a partir do amor de Deus, Deus que tudo criou. O relato da Criação, no Génesis, é pura poesia, da mais bela, da mais profunda, cheia de rima e ritmo, que desce da inteligência ao coração. E há mais:
Deus criou o ser humano à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher Ele os criou (…) Fez-se tarde e veio a manhã: era o sexto dia. (Gn 1, 27.31)
Quando terminamos a leitura, sugiro abrir o Evangelho no capítulo 1 e 2 de S. João.
“Não é aí que estão as Bodas de Caná?” Pergunta o Francisco. Fico feliz por saberem isso.
“Queria que reparassem em alguns pormenores”, digo. E começo:
No Princípio era a Palavra, e a Palavra estava com Deus, e a Palavra era Deus… (Jo 1, 1)
“Ah, como no início do Génesis, onde diz que o Espírito de Deus pairava sobre as águas!”
“Sim, João está a falar das origens. Ouçam agora:
Era esta a luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todas as pessoas… (Jo 1, 9)
“Agora repete o que aconteceu no Génesis, em que Deus separa a luz das trevas!”
“Precisamente. Não vou ler o primeiro capítulo todo, mas queria ler o início de cada parágrafo. De facto, há uma série de parágrafos que começam assim:
“No dia seguinte… (Jo 1, 29. 35.43)
“Parece o relato da Criação, dia a dia!”
“Sim, João apresenta Jesus dia a dia, como a segunda Criação, a Criação prometida no Génesis depois do pecado de Adão e Eva. Mas agora vamos iniciar o segundo capítulo, sobre as Bodas de Caná. Façam as contas:
Ao terceiro dia houve um casamento em Caná da Galileia… (Jo 2, 1)
“Terceiro dia a partir do terceiro ‘dia seguinte’ enunciado? Mas isso é o sexto dia…”
“Ah, já entendi! O dia da Criação do homem e da mulher!”
“Jesus, novo Adão, e Maria, nova Eva…”
“Os dois imaculados, como Adão e Eva também o eram… Não eram?”
“Eram sim, Francisco. Ambos foram criados sem pecado. E agora temos Maria e Jesus, a nova Criação. Reparem na forma como Jesus Se dirige à sua Mãe, e que tanta gente acha escandalosa:
Mulher, o que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a minha hora. (Jo 2, 4)
Jesus trata-a por mulher, como o Livro do Génesis, porque estamos perante a nova Eva, a nova mulher, criada por Deus sem pecado. E quando chegar a sua hora, a hora da Cruz, Jesus voltará a tratar Maria por mulher:
Mulher, aí está o teu filho. (Jo 19, 26)
Nas Bodas de Caná, anuncia-se a nova Criação; na Cruz, ela realiza-se. Por isso, as Famílias de Caná têm na Festa da Exaltação da Santa Cruz a sua grande celebração. Do lado aberto de Jesus morto, como outrora do lado aberto de Adão adormecido, Deus irá retirar a Igreja, sua esposa, Nova Eva à imagem de Maria, a Mulher por excelência, a Mulher vestida de sol do Apocalipse. Estaremos de novo num jardim – o jardim das Oliveiras, e depois o jardim do sepulcro – como no início… Como Adão e Eva formaram uma só carne, também a Igreja e Jesus são um só Corpo, dirá S. Paulo mais tarde; e também o marido e a esposa unidos no matrimónio são um só Corpo, acrescentará. O amor que os une terá de ter as mesmas características do amor que une Jesus à Igreja, Jesus a Maria.
“Então os dois primeiros capítulos de João e os dois primeiros capítulos do Génesis são como um só…”
É por isso que nunca entenderemos os Evangelhos verdadeiramente, em toda a sua profundidade, enquanto não conhecermos as histórias do Antigo Testamento. Elas foram escritas para iluminarem a vida e a Palavra de Jesus, para que saibamos que Ele é verdadeiramente o Salvador prometido ao longo dos séculos.
As Bodas de Caná já estavam previstas no Livro do Génesis, e só serão concluídas no Céu. Hoje, aqui e agora, cada um de nós é chamado a viver com Jesus esta nova Criação, unidos a Ele numa só carne, num só espírito, Ele que na Cruz nos saciou com o seu Vinho Novo. “Nós, Jesus!” Tanto que queremos dizer, com estas duas pequenas palavras…
Queria tanto fazer um comentário inteligente, mas só me ocorre:
UAU!!!
Que bonita catequese para fazermos em nossas casas!!!
Lindo!
Concordo com a Olívia…mas a mim nem me sai um UAU! Estou completamente sem palavas! A única que me ocorre assim de repente: Admirável!!!
Teresa, que Cruz linda é esta que está na última fotografia?
Nunca tinha visto nada assim, que beleza.
A minha afilhada vai fazer a primeira comunhão em Maio e esta Cruz era uma prenda fantástica…
Seria possível saber onde adquirir?
PS – UAU!
Teresa, não será nada difícil para ti adquiri-la: é a cruz venerada nas capelas de Schonstatt, e portanto, aí na Alemanha é de fácil aquisição, imagino! Bjs
Lindo…..!
Paula Almeida