Estamos em pleno mês de D. Bosco. No Colégio Salesiano, onde cada vez se sente mais em casa, o David tem vindo a conhecer o seu fundador. Entretanto, também eu vou aprofundando as minhas leituras sobre a sua vida. Entre os vários pontos que fazem dele um grande homem, a pedagogia ocupa um lugar cimeiro. D. Bosco foi um grande pedagogo, daqueles de fazer inveja a uma simples professora como eu. Enquanto eu, diante de uma turma de rapazes mal-formados e maldosos, sinto as lágrimas chegarem-me aos olhos e os nervos ao corpo todo, D. Bosco convencia os guardas-prisionais a deixá-lo sair com os rapazes em passeio pela montanha – e não perdia nenhum.
Um dos episódios de D. Bosco que li recentemente, e que tive oportunidade de partilhar no Retiro de Natal, parece-me particularmente adequado aos pais e educadores do nosso tempo. Aqui fica:
Um dia, num dos colégios de D. Bosco, tinham comprado belas maçãs que colocaram num cesto junto da janela da dispensa. Eram para o almoço dos visitantes numa festa salesiana. Ora repentinamente, as maçãs desapareceram. A diretora vê D. Bosco e queixa-se dos rapazes, que as roubaram todas. D. Bosco, com a sua calma habitual, diz:
O erro não é dos rapazes, mas nosso. Chame o prefeito e diga-lhe que D. Bosco mandou que se pusesse imediatamente uma grade naquela janela. Lembre-se de nunca pôr os jovens em ocasião de poderem cometer uma falta; eis o sistema preventivo de D. Bosco! (Citado em Pais Felizes – como educar os filhos hoje – página 68)
Ao ler este episódio, pensei imediatamente nas incontáveis cenas de que sou testemunha, na paróquia, na escola, junto dos amigos, de discussões entre pais e filhos. A conversa é mais ou menos assim: “Lá estás tu com o telemóvel! Quantas vezes te disse para desligares isso e ires brincar? Não vês que na tua idade o importante é conviver? Estás a ouvir? Estou a falar contigo!” Ou então: “Professora, que hei de fazer? De facto, acredito quando me diz que o meu filho adormece nas aulas, mas não consigo convencê-lo a deixar o jogo de computador. Acho que deve adormecer pelas duas da manhã.” Ou pior ainda: “Ontem, deixei o meu filho ir a uma ‘festa de pijama’ em casa de um colega de turma. Hoje de manhã estavam todos de ressaca. Parece que um deles levou bebidas e às escondidas, depois dos pais se deitarem, beberam até não se lembrarem de mais nada.”
Todos nós, pais educadores, cometemos erros. Muitos. E felizes seremos se os conseguirmos identificar. Mais felizes ainda se os conseguirmos corrigir em tempo útil. Podemos sempre, enquanto os filhos são crianças e adolescentes, dizer-lhes: “Desculpa, filho. Cometi um erro ao permitir-te isto. Não devia ter-to permitido. Vou retirar-te este privilégio até um tempo em que o possas ter sem perigo.” O erro é nosso, não deles. Nós, educadores, somos os responsáveis por termos permitido que os filhos desenvolvessem determinado comportamento ou vício, e por isso, é a nós que cabe pedir desculpa. Podemos sempre recolher o telemóvel dado numa idade precoce; impedir o visionamento do programa de televisão com linguagem e com conteúdo pouco próprio; desinstalar o jogo de computador; não permitir nova “festa de pijama” ou estadia em casa de um colega onde as coisas correram mal; apagar a página do Facebook criada e que levou à publicação daquelas fotos pouco decentes, etc. Se o fizermos com amor, com firmeza e com a humildade de quem errou, sem gritos e sem recriminações (porque nunca esquecendo que o erro foi nosso…), os filhos agradecerão. Se não agora, mais tarde. Com toda a certeza.
Cada idade com os seus privilégios, cada idade com a sua dose de responsabilização. Nunca pôr os filhos em ocasião de poderem cometer uma falta – eis o sistema preventivo de D. Bosco…
Teresa,
Não podia estar mais de acordo com este post. Sobretudo com o pedido de desculpas por parte dos pais aos seus filhos. Esse pedido de desculpa deveria também ser alargado ao Senhor, pois ele confiou-nos os filhos para amar e cuidar e nós permitimos introduzir na vida deles ferramentas que os levam a vícios e maus comportamentos. E permiti-mo-lo, muitas vezes, com receio de ser “apontados” por outros pais que tudo permitem aos seus filhos em nome da “felicidade” deles…Não percebemos que muitas vezes são os próprios pais que lhes apontam o caminho da infelicidade…
Peçamos também perdão a Deus. E que o Senhor nos dê sempre a lucidez necessária para afastar os nossos filhos do perigo. Sem medo de ser julgados pelos outros e tendo sempre em mente as contas que um dia teremos de dar ao Pai. Abraço.