Em Caná da Galileia...


Brincar com simplicidade

“As festas de anos aqui na tua casa são as mais divertidas de todas”, dizia-me uma menina simpática. Estava a despedir-se, depois de uma tarde intensa de brincadeira. É que estamos em plena “época alta” na Família Power, com quatro aniversários no espaço de um mês. Entre Missões Caná e aniversários Power, pouco tempo nos tem sobrado!

Eu sorri ao escutar este comentário. Já estou acostumada a ele, e por isso, já tive tempo para refletir. Na verdade, como podem as nossas festas ser as mais divertidas? Não alugamos um espaço especial, não temos insufláveis, nem pinturas faciais, nem palhaços, nem jogos de computador, nem televisão e, a não ser que haja da parte dos miúdos um pedido expresso, nem sequer ilusionismo caseiro!

Mas temos quartos com montes de brinquedos, temos uma arca com uma coleção enorme de disfarces de carnaval das lojas chinesas – e que vai crescendo a cada ano -, temos um jardim para jogar à bola, árvores para trepar, patins e bicicletas e, se os meninos pedirem com jeitinho e tivermos tempo para os vigiar, temos Náturia mesmo por detrás da nossa casa. Depois de uma semana inteira na escola e nas inúmeras atividades extra-curriculares, onde tudo é organizado, pensado e cuidado para que as crianças “se entretenham” de forma inteligente, que mais podem elas querer do que – desculpem-me a expressão – as deixem em paz para brincar como bem lhes apetecer?

A nossa sociedade deixou de acreditar na capacidade infinita que as crianças têm de se entreter sozinhas, ou umas com as outras. Por outro lado, cresceu a pressão sobre os pais, para que se afirmem como os mais empenhados, os mais criativos, os mais preocupados com o desenvolvimento harmonioso dos seus filhos. “Todos os seus amigos têm insuflável na festa de anos. Não quero que o meu filho se sinta diferente”, escuto com frequência. Temos tanto medo de ser diferentes, ou de, pela nossa diferença, magoar os nossos filhos! Eu também já tive esse medo e também já fiz muitas coisas apenas para que os meus filhos se sentissem especiais na sua conformidade com os demais, e por isso não tenho como criticar quem assim age. Felizmente, a graça de Deus, os exemplos de algumas famílias exemplares que fui conhecendo, a minha própria experiência de maternidade a cada novo filho, e as recordações felizes da minha infância livre e saudável, ajudaram-me a abandonar estes receios.

Então e se não houver jardim? E se vivemos num apartamento pequeno, no meio da cidade? Não será melhor alugar um espaço e contratar uma empresa para fazer a festa? Quando chove torrencialmente, ter ou não ter jardim é indiferente, e cá em casa também já vivemos essa situação. Mas não é necessário convidar 20 crianças. Podemos convidar cinco ou seis, aqueles com quem o nosso filho realmente gosta de brincar, pois o dia é dele. As crianças vão gostar de explorar os brinquedos do amigo, ou de brincar às escondidas pela casa. Lembram-se como gostavam de explorar as casas dos vossos amigos, quando eram crianças? Eu lembro-me.

Se as festas de aniversário e as festas que acompanham os sacramentos, como o Batismo, a Primeira Comunhão e o Crisma, forem festas caras, complicadas e difíceis de preparar, quem é que pode ter filhos? Não há tempo, nem dinheiro, nem paciência que chegue para criar uma família numerosa. Não será esta pressão social que nos é feita um dos obstáculos à abertura à vida?

Mas o nosso Deus é um Deus simples, e as Famílias de Caná são chamadas a ser no mundo sinal da simplicidade divina. Diz a nossa Carta Fundacional:

As Famílias de Caná procuram recuperar o sentido bíblico das bodas, não apenas no início da sua vida familiar, como ao longo de todo o caminho, vivendo o seu amor familiar com muita simplicidade e, inclusive, austeridade, longe da mundanidade que infeta o mundo atual.

Que os casamentos entre nós sejam festas simples, como o Papa Francisco pede na Amoris Laetitia, nº 212 (por que não um Piquenique em vez de um Banquete? Ah, esse era o meu sonho de jovem, que não concretizei…); que os batismos nunca se adiem por causa do dinheiro para a festa ou para as roupas; que as Primeiras Comunhões tenham tempos de silêncio e recolhimento durante o dia, para que as crianças não se distraiam de Quem receberam dentro de si; que as festas de anos sejam familiares, felizes, alegres, as melhores festas do mundo, porque feitas por crianças a brincar em liberdade.

Loucura?…

3 Comments

  1. O meu lema de vida…por isso o meu casamento foi apenas com a família e amigos mais chegados..( eramos 30 )…o baptizado do meu filho com avós, padrinhos e tios próximos, a Primeira Comunhão, apenas, com avós e padrinhos…nunca quis fazer destes acontecimentos arraíais, mas verdadeiras cerimónias, sem aparato comercial, mas com a eloquência de uma cerimonia católica discreta!!!

  2. Que post tão adequado para o dia de S. Francisco de Assis 🙂
    O piquenique pode ficar para as bodas de prata…

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