Em pleno mês de Maria, lembrei-me de partilhar convosco uma palavra que me encheu de felicidade. Trata-se da Mensagem de Akita, no Japão, aprovada pela Igreja, e que aconteceu nos anos setenta do século passado. A recetora desta mensagem foi a Irmã Inês.
Por que me lembrei agora desta mensagem? Por causa das palavras que o Anjo disse à Irmã Inês, no dia em que alguns leigos se consagravam na Ordem à qual a Irmã pertencia. Disse-lhe o Anjo:
Espalhai a devoção a Nossa Senhora. Ela está contente com a profissão dos membros leigos que hoje se consagraram por seu intermédio segundo o espírito do vosso Instituto. Não deveis considerar os membros leigos assim consagrados como de menor categoria. (4 de janeiro de 1975)
“Não deveis considerar os membros leigos assim consagrados como de menor categoria. ” Ela está contente…” Que alegria senti ao ler estas palavras, que acredito virem do céu! Não resisti a partilhá-las convosco. O Senhor e a sua Mãe alegram-se quando alguém se consagra totalmente, seja leigo, seja religioso ou sacerdote.
Mas não é apenas entre as diversas vocações que existe a sensação de “categorias” diferentes. Existe também uma certa confusão, entre católicos comprometidos, de que algumas formas de consagração marianas são mais “seguras” ou de “maior categoria” do que outras, e eu tenho recebido e-mails com essa dúvida. Por exemplo, algumas pessoas estão convencidas de que não se consagram verdadeiramente a Maria senão no dia em que fizerem formalmente a sua consagração segundo o método de S. Luís Maria Montfort.
Ora o método é belíssimo, mas é isso mesmo: um método. A consagração a Maria já existia antes dele, como o próprio S. Luís afirma no seu maravilhoso livro, o Tratado da Verdadeira Devoção. Eu conheço este livro quase de cor desde a minha adolescência, tantas as vezes que o li! Mas a consagração feita por este método é tão válida como a consagração feita pelo Movimento de Schonstatt, ou como a nossa consagração, tão singela, à Mãe de Caná. Se alguma forma de consagração nos trouxer uma vaga sensação de superioridade, afastando-nos assim da maior virtude de Maria – a humildade – então não se trata de verdadeira consagração, muito menos como S. Luís a entendia.
No dia do nosso matrimónio, o Niall e eu consagrámo-nos em família a Maria. Foi um momento especialíssimo da nossa vida familiar. Maria nunca mais nos deixou. Desde aí, todas as manhãs repetimos com os nossos filhos a oração que então compusemos.
Quando surgiram as Famílias de Caná, quisemos que o primeiro passo de cada família, à semelhança do que acontecera connosco em casal, fosse precisamente a consagração a Maria feita da forma mais humilde possível. Assim, escrevemos nova oração, que todas as noites rezamos com os nossos filhos. É uma oração muito simples, tão simples que talvez nem todas as famílias a levem a sério. Mas há alguém que leva: Maria. Maria nunca abre mão daqueles que se Lhe consagram de coração.
“Não deveis considerar esta consagração como de menor categoria…” Uma consagração é sempre uma entrega total da vida. Nada guardamos para nós. Não há diversas categorias. Se for feita com o coração, ela é sempre total; e se não for feita com o coração, por mais bela que seja a fórmula ou a preparação, ela é completamente irrelevante. Repetir a consagração com diversas fórmulas não faz com que seja “mais consagração”, tal como renovar as nossas promessas matrimoniais não nos vai fazer “mais casados”. O que não significa que não possamos aprofundar, cada vez mais, e com métodos diversos, a nossa entrega no matrimónio ou a nossa entrega a Maria.
Algumas famílias, depois de um retiro Famílias de Caná, depois de um encontro testemunhal da nossa família, tomadas por um impulso que veio do fundo do seu coração, fizeram com toda a sinceridade a sua consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná, mesmo que não sintam ainda capacidade para se comprometerem no Movimento. A partir daí, todos os dias a renovaram, em família. Talvez ninguém, a não ser Nossa Senhora e Nosso Senhor, saiba desta consagração! Será válida? Não será demasiado espontânea, demasiado simples para ser tomada a sério? Quem conhece Nossa Senhora pressente a resposta… Estas famílias estão totalmente consagradas, e não devem duvidar da sua consagração. Mas precisam de a aprofundar, para que ela ganhe raiz, dê flor e fruto.
Ser Família de Caná é estar consagrado a Maria. Como uma criança que, num impulso de coração, ainda sem grande uso da razão, se lança deslumbrada nos braços da mãe.
“Ela está contente!” Ela fica contente. Fiquemos nós também contentes, com fé simples de criança, sob o seu olhar maternal! Ámen.
Caso para eu exclamar um grande Aaaahhhh!
Num dos antigos textos do blogue escreveste que quem se consagra todos os dias à Mãe de Caná era consagrado, assim, de forma simples e total. Confesso que tal como afirmas às vezes parece que estamos um bocadinho abaixo na tabela das vocações… vinha a pensar nisto enquanto vinha para o trabalho…. mas este texto responde a todas as minhas dúvidas. Obrigada!
Nem de propósito…..
Iniciei a leitura do tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem e embora ainda esteja nas primeiras páginas, já consegui entender que a melhor forma de chegar a Deus Pai e Filho é com devoção a Maria, que é chave do “tesouro”. E só com humildade conseguimos lá chegar, independentemente do método de consagração.
A primeira vez que me consagrei Maria foi efetivamente num retiro das Famílias de Caná e por isso para mim este método é o que faz mais sentido porque é simples e puro e repito-o continuamente cada vez com mais intensidade.
Abraço
Os últimos serão os primeiros…
Estou cansada destas guerrilhas tontas! Somos baptizados em Cristo e isto deveria bastar… Fiz a consagração a Nossa Senhora nos dois movimentos referidos e em casa rezamos e oramos a consagração que já rezávamos antes, não a mudamos porque as Famílias de Caná propuseram outra, que na essência dizia o mesmo! (E sentimo-nos Famílias de Caná, e a minha gratidão a alguém que ousou mostrar que viver assim é bom é imensa!!!)
A Nossa Mãe é só uma, cuida de nós para que consigamos amar plenamente o Seu Filho e isto nos deveria bastar! Consagramo-nos todos os dias e tropeçamos nos nossos pecadilhos… e Ela cobre-nos com o Seu Manto…
Não há caminhos perfeitos, senão os do Amor, guiados pela Palavra, suportados pela Sua presença maternal, sendo pertinente a família como o caldo da prática quotidiana, enriquecido pela Eucaristia.
Nunca me fez sentido que a laicidade implicasse pecado… Seguir a Cristo no meio da vida… é bem complicado!
Que o Senhor nos guie e lembremos que o nosso maior compromisso consciente foi o do Sacramento do Crisma!
Um Santo mês de Maio… caminho nosso para melhor servir a Deus!!!
Não há dúvida de que a consagração é só uma independentemente da fórmula, das palavras que se usam para expressar a disposição de coração de se entregar a Nossa Senhora. Por isso, apesar de anteriormente usarmos outra fórmula, rapidamente adotámos a das Famílias de Caná porque é a que é formulada com as palavras concordantes com a espiritualidade do Movimento. Para além disso é feita em família, o que só por si é razão mais do que suficiente para a usarmos em vez de uma formulação individual. Não sou eu que me consagro individualmente mas somos nós em comunhão como casal que consagramos a família que o nosso matrimónio origina.
Quanto aos métodos, eu diria que talvez penses assim por conheceres o tratado de S. Luís quase de cor desde a tua adolescência. Porque apesar da consagração ser só uma, a consciência com que é feita pode ser muito diferente. E não duvides que mesmo para quem já se consagra há muitos anos, a leitura e a preparação usando, por exemplo, o tratado e o método de S. Luís abre um sentido renovado e aprofundado para a entrega inteira e completa a Nossa Senhora, ou mais precisamente a Jesus por Maria.
Talvez daí se poder ter essa sensação de “agora sim, estou a consagrar-me”.
Eu sei 🙂
Quando nos casamos, passamos a ser um só. Daí a consagração familiar ter o valor de uma consagração pessoal, no caso das pessoas não casadas. Eu estou profundamente convicta – e talvez seja o Senhor a dar-me essa convição como fundadora de um movimento familiar – que é tão válida a consagração familiar quanto a pessoal.
A consciência que eu tenho, neste momento, da minha entrega a Maria é muitíssimo mais profunda do que a que tinha quando me consagrei, no dia do meu casamento. Olho para o caminho percorrido com humildade, sabendo que, no fundo, nada sei… Um mês de preparação profunda pode ser fantástico, ou pode ser uma fonte de soberba… Já vi de tudo 🙂