Em Caná da Galileia...


Dia Nacional do Pijama

Ontem, a Sara foi para a escolinha… de pijama:

Como certamente sabe quem, como nós, tem filhos no infantário, o dia em que se celebra a Convenção dos Direitos da Criança é também o Dia Nacional do Pijama. Com este dia, pretende-se alertar a sociedade portuguesa para a realidade de mais de oito mil de crianças que, em Portugal, vivem em instituições. Não terão esses meninos e essas meninas o mesmo direito inato a crescer numa família? Não terão esses meninos e meninas o mesmo direito inato a passar o dia de pijama, que o mesmo é dizer, vestidos à vontade, porque estão em casa e em casa está-se como bem apetece? Só 4% das crianças separadas de seus pais estão em famílias de acolhimento, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus.

Seguindo a sugestão do folheto que a Sara trouxe para casa, alguns dias atrás, fui visitar o site Mundos de Vida, instituição de solidariedade social no norte do país, onde se contam as histórias de algumas destas crianças, e sobretudo, as histórias das famílias que, generosas, abriram o seu lar e o seu coração para as acolher. Vale a pena a visita!

A Igreja foi, ao longo da História, pioneira no acolhimento. Com a Igreja, nasceram as Misericórdias, os orfanatos, os hospitais. Com a Igreja, surgiram as vocações de consagração daqueles que estão disponíveis para deixar tudo e servir as crianças pobres e abandonadas. E as famílias cristãs, Igreja Doméstica? Não terão também, muitas delas, no coração e em casa espaço para mais uma criança? A lei portuguesa já prevê, desde há poucos anos, que as crianças até aos seis anos sejam colocadas preferencialmente em famílias de acolhimento. Mas onde vão os juízes encontrar estas famílias, para poderem dar cumprimento à lei?

Algumas Famílias de Caná têm, de momento, a casa demasiado cheia para acolher outras crianças, mas certamente não será assim para sempre! Quando o coração é capaz de acolher os filhos que Deus envia, também será capaz, um dia, de acolher os filhos dos outros. Por que não?

Outras Famílias de Caná têm a casa demasiado vazia, porque o Senhor não lhes concedeu o dom da fertilidade, ou porque, por razões de saúde, não devem ter (mais) filhos. Quando um sonho bom é interrompido, precisamos de acreditar que Deus tem para nós um sonho ainda melhor. Diz o Papa Francisco:

Nunca se arrependerão de ter sido generosos. Aqueles que assumem o desafio de adotar e acolhem uma pessoa de maneira incondicional e gratuita tornam-se mediação do amor de Deus que diz: “Ainda que a tua mãe chegasse a esquecer-te, Eu nunca te esqueceria.” (Cf Is 49, 15) (Amoris laetitia, nº 179)

Acolher não é adotar, eu sei. Acolher é estar disposto a sofrer, a dar até doer, a relacionar-se com uma criança provavelmente difícil, a passar noites em claro ao lado de um menino com pesadelos, a visitar uma família biológica talvez ainda mais difícil, e finalmente, a fazer isso tudo sabendo que, de um dia para o outro, a criança que nunca foi nossa vai embora. A esta entrega não pode dar-se outro nome senão amor. Não haverá entre nós gente capaz de um amor assim? Afinal, a generosidade e o serviço à família são elementos centrais na nossa vocação de Famílias de Caná.

Não tarda estamos a fazer o presépio em nossas casas… Por que não pensarmos, alguns de nós talvez, num presépio a sério? Não estarão Maria e José, hoje como há dois mil anos atrás, ansiosamente à procura de um lugar para Jesus nascer?

Quem receber um destes pequeninos em Meu Nome, a Mim recebe. (Mc 9, 37)

Receber o próprio Deus em nossa casa?! Isso muda tudo… ou não?

2 Comments

  1. Interpelação de grande, grande pertinência… que o Espírito Santo continue a insistir nesta necessidade de partilha interior!
    Peçamos ao Senhor que toque o coração da mãe, do pai e dos filhos… e que ponha no seu caminho a interpelação ao acolhimento.
    A interpelação real e concreta, quem, onde e como… entretanto que saibamos acolher os desafios de cada dia!

  2. Oh Teresa,
    Devemos ter lido o mesmo artigo,e fiquei impressionada.
    Ontem preenchi o formulário no Mundos Vida,ao qual me responderam que a área de atuação é por agora, mais no Norte.
    Mas não desisto,e vou continuar inscrever me noutros sites,sítios pois sinto esse chamamento há alguns anos.e agora estou na ação.
    Que seja o que Deus Quiser.

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