Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga
CANTEMOS DE NOVO ALELUIA!
Aleluia! Cristo ressuscitou! Exultemos e cantemos de alegria, desafia-nos o salmo. Que maravilha, voltarmos a cantar aleluias! Este é, na verdade, o dia que o Senhor fez!
Vivemos, quinta e sexta-feira santas, dias tenebrosos. “A morte e a vida travaram um admirável combate”, explica a Sequência Pascal. O mesmo combate que travam hoje também, neste nosso mundo…
Madrugada de domingo. O Sábado passou, Maria Madalena já tem permissão divina para correr ao sepulcro, e é isso mesmo que vai fazer, pois não se pode adiar o amor. Mas eis que a pedra tinha sido retirada, e lá dentro, nem sinais de Jesus! Maria corre ao encontro dos Apóstolos, incapaz de discernir sozinha os acontecimentos daquela noite.
“Diz-nos, Maria, que visto no caminho?” Perguntamos nós na Sequência Pascal, desejosos de escutar a primeira testemunha da ressurreição. “Vi o sepulcro de Cristo vivo, e a glória do ressuscitado. Vi as testemunhas dos Anjos, vi o sudário e a mortalha”, responde Maria Madalena, também na Sequência Pascal. Ainda hoje não sabemos exatamente o que ela viu, porque os evangelistas contam histórias diferentes. A ressurreição de Jesus foi uma experiência tão forte e transformadora para as suas testemunhas, que nenhum relato a poderá conter. Precisamos de nos focar, não nas palavras, mas na Palavra.
Inquietos, Pedro e João correm ao sepulcro. João chega primeiro, porque “o amor deita fora o temor”, como ele dirá mais tarde, e sem temor corre-se mais depressa. “Debruçando-se, viu as ligaduras no chão, mas não entrou.” Seria Pedro a atestar a veracidade da ressurreição. É desafiante, para nós hoje, ver esta submissão de Madalena e de João a Pedro, a submissão da Igreja ao Papa. De nada importa, para Deus, que eu seja mais instruído, mais santo ou mais adequado para conduzir a Igreja. Importa apenas que eu me submeta. Coube a Pedro – e cabe hoje a Francisco – discernir os sinais dos tempos, e é preciso que ele seja o primeiro a entrar no sepulcro vazio.
“Viu e acreditou. Na verdade, ainda não tinham entendido a Escritura…” Pedro, João e Madalena acreditaram, antes de entenderem a Escritura. Dizia alguém que, para quem tem fé, nenhuma explicação é necessária; para quem não tem, nenhuma explicação é suficiente. Na verdade, quantos mistérios ainda há por desvendar, nas Escrituras Sagradas! No entanto, mesmo sem compreendermos tudo, nós acreditamos.

A pressa de Madalena, de João e de Pedro, correndo até ao sepulcro, marca o ritmo desta passagem do Evangelho. A partir deste dia, os Apóstolos ficarão impregnados de santa pressa, que os fará percorrer o mundo anunciando a boa notícia da ressurreição. Uma pressa certamente contagiosa, a julgar pelo dinamismo de evangelização que conduziu a Igreja através da História, transformando, uma a uma, todas as nossas realidades. A Igreja estará na linha da frente, povoando o mundo de hospitais, escolas, universidades, lutando pelos direitos humanos e por sistemas de valores justos, mediando conflitos, trabalhando pela paz. Não afrouxemos o passo, porque ainda há muito a fazer!
Se também nós formos testemunhas da ressurreição de Jesus, as nossas prioridades têm necessariamente de mudar. “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto”, diz S. Paulo. Mas nós continuamos a faltar à missa por causa de uma explicação de Matemática, a adormecer sem ter dedicado cinco minutos inteiros a Deus, a não encontrar tempo para fazer um retiro, a esquecer o irmão que vive a nosso lado, a não perdoar…
Não vivemos como ressuscitados, porque ainda não morremos: “vós morrestes”, diz Paulo, assim mesmo, aos Colossenses. Não havia, para ele, qualquer dúvida: só ressuscita quem primeiro morre para si próprio, para os seus sonhos, os seus interesses, o seu egoísmo, o seu orgulho. E morrer nunca é fácil! Sentimo-nos magoados com alguém? É preciso colocar uma compressa sobre a ferida e perdoar de imediato; chegamos a casa cansados e irritados com o trabalho ou o trânsito? Há que abrir um belo sorriso e abraçar o marido ou a esposa, os pais ou os filhos, reservando-lhes o melhor de nós mesmos naquele final de dia em que a tentação seria “descomprimir”; alguém nos roubou um projeto e o apresentou como seu? O Evangelho diz para não o reclamarmos… Morrer. Para que seja realmente Páscoa na nossa vida.
Hora da missa. “Vós sabeis o que aconteceu em toda a Judeia… Nós somos testemunhas.” Pedro anuncia a boa nova, e o seu testemunho, passando de cristão em cristão como numa corrida de estafetas, atravessa o tempo e a História, até chegar aqui, a esta pequena igreja onde me encontro. Que poder tremendo, o da ressurreição! Jesus, diz Pedro, manifestou-se “a nós que comemos e bebemos com Ele”, e aqui estou eu, à mesma mesa, para comer e beber com Ele e os irmãos. É um aleluia imenso, contínuo, nunca interrompido, que agora escuto, que me arrasta para fora do meu sepulcro e que agora me cabe testemunhar, agarrando a estafeta que me estendem e entrando nesta corrida sagrada com a pressa dos meus antecessores…
Que lindo!
Santa Páscoa para todos vós!