Em Caná da Galileia...


Domingo de Pentecostes

Reflexão semanal, escrita pela Teresa, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga, sobre as leituras do domingo seguinte

DIA DE CANTAR OS PARABÉNS À IGREJA

Domingo de Pentecostes. Hoje é dia de cantar os Parabéns à Igreja, que celebra a cada Pentecostes o seu aniversário! O Antigo Testamento foi, podemos dizer, a Era de Deus-Pai. Os Evangelhos trouxeram-nos a Era de Deus-Filho, Jesus Cristo. Com o Pentecostes, inaugura-se a Era do Espírito Santo, a Era da Igreja. Que grande festa!

Diz-nos o Livro dos Atos que no dia de Pentecostes, “os Apóstolos estavam todos reunidos no mesmo lugar”. E foi a partir desse mesmo lugar que chegaram aos confins da Terra, de acordo com a convocatória de Jesus: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós.” Como é importante reunirmo-nos no mesmo lugar! Como é importante crescer numa família e numa paróquia, sermos Igreja! E depois, como é importante sentir-se enviado para fora da sua zona de conforto, para as periferias da vida e da sociedade, a fim de a todos anunciar a Boa-Nova!

Lucas descreve a descida do Espírito Santo em forma de línguas de fogo que se foram dividindo. É uma imagem poderosa. A chama de uma vela está toda inteira nessa vela, mas se a partilharmos com outra, não diminui em nenhuma, antes se mantém igualmente inteira, e assim infinitamente. O que faz diminuir a chama não é a quantidade de vezes que o fogo é repartido, mas a qualidade do pavio ou da cera de cada vela. Que tipo de vela somos nós? Estaremos preparados para receber o fogo de Deus sem o deixar apagar? Quantos batizados e crismados não tiveram “pavio” para mais que uns dias! Deus envia o seu Espírito a todos por igual. Cada um de nós, contudo, é responsável por o manter aceso e o repartir com os irmãos.

Paulo exprime o poder do Espírito Santo e o seu efeito na Igreja através de uma outra imagem, também poderosa: a imagem do corpo que, sendo um, possui muitos membros, cada um com a sua função específica. O Espírito, como o sistema nervoso ou sanguíneo no corpo humano, permite esta unidade na diversidade, ou esta diversidade na unidade. Sem Espírito, a Igreja não passaria de um conjunto de pessoas diversas – “judeus e gregos, escravos e homens livres” – impossível de unificar. Mas Paulo fora e continuava a ser testemunha de como Deus derramava o seu Espírito sobre pagãos e judeus sem distinção, e de todos fazia cristãos. Paulo conhecia de perto o poder santificador e unificador do Espírito de Jesus, capaz de operar verdadeiros milagres de unidade na diversidade.

Lucas explica estes milagres através do dom das línguas. Não fora a diversidade de línguas a causa da dispersão dos povos sobre a face da Terra, no episódio da Torre de Babel, logo nos inícios da humanidade? Agora, cheios do Espírito Santo, os Apóstolos descobriam em si a capacidade de falar línguas “conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem.” Não são os estrangeiros que aprendem a única língua dos Apóstolos, mas os Apóstolos que aprendem as várias línguas estrangeiras. É preciso fazer-se próximo de todos, pregar o Evangelho a todos, falar a sua língua, levar a sua cruz, partilhar a sua vida. O Criador de todos os povos tem um especial prazer na diversidade e quer-nos capazes de fazer a unidade sem destruir esta diversidade.

Ao longo da “Era do Espírito Santo”, somos testemunhas disto mesmo. A começar pela existência de quatro Evangelhos, os quatro inspirados pelo mesmo Espírito, os quatro diferentes… Depois, ao longo dos séculos de Igreja, o Espírito tem suscitado Movimentos, Ordens Religiosas, Comunidades, vocações, formas diversas de entender a liturgia, de celebrar e de rezar, de agir e de servir. Que graça tão grande quando conseguimos viver este dom da diversidade sem cismas e sem repetir os erros de divisão do passado! Como explica S. Paulo, “em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum.”

No Evangelho de João, a Ressurreição, a Ascensão e o Pentecostes acontecem num único dia. Jesus aparece no meio dos discípulos, sem fazer caso das portas fechadas pelo medo, e enche-os de alegria. No início da Humanidade, Deus soprara o seu Espírito sobre um pedaço de barro, insuflando nele uma alma e fazendo dele um ser humano. Agora, no início do Cristianismo, Jesus sopra o seu Espírito sobre estes homens a tremer de medo, insuflando neles a sua paz e fazendo deles suas testemunhas até aos confins da Terra. Era o primeiro da semana – e da Nova Criação.

Domingo de Pentecostes. Ajoelhamo-nos na igreja ao lado de estranhos a quem tratamos por irmãos. Dentro de instantes, o Espírito Santo irá tornar Jesus realmente presente no meio de nós. E o Pão que iremos comer fará de nós – estranhos, amigos, brancos, pretos, novos, velhos, são, doentes – um só Corpo.

Domingo de Pentecostes. É preciso que o fogo se acenda. É preciso deixar que Ele queime, que esgote o pavio e derreta a cera até ao fim, que nos gastemos de amor. É preciso que, ao sair daqui, sejamos capazes de proclamar as maravilhas de Deus nas línguas e nas vidas dos nossos irmãos… É preciso que Ele sopre sobre nós e nos recrie. Vem, Espírito Santo!

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