Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras da missa do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga
ESTAMOS PREPARADOS?
Começamos neste domingo o Advento e, com ele, um novo ano, o ano A, que nos irá contar a vida de Jesus a partir de S. Mateus. Passa o ano, façamos festa!
Contudo, nas ruas e montras não existe Advento, apenas uma espécie de Natal antecipado. Um Natal de luzes e cartões de crédito, tão impossível como um nascimento sem uma gravidez… Maria esperou nove meses, a humanidade esperou milhares de anos. A nós, é-nos apenas pedido que esperemos quatro semanas, “segundo o costume de Israel”, para nós feito liturgia. Menos, não dá tempo para preparar o enxoval, o berço e o colo – pois é em nossa casa que Ele quer nascer!
Estamos a preparar-nos para o Natal, mas as leituras de hoje não nos falam do nascimento de Jesus. De Isaías a Paulo e ao Evangelho, somos desafiados a prepararmo-nos para um outro nascimento… É que também nós nos encontramos no útero divino, à espera do grande parto que nos lançará, a todos, na eternidade. Seremos, literalmente, “dados à luz”, acordando das trevas onde vivemos. “A noite vai adiantada e o dia está próximo”, diz Paulo, animando os cristãos a praticar as boas obras e a crescer na fé. Este dia virá para cada um de nós no momento da morte, e para toda a humanidade, na Última Vinda de Jesus. E só será dramático para quem não estiver preparado.
Será que nos lembramos com frequência de que somos mortais, e de que a morte nos dará à luz para a eternidade? Ou vivemos como se não houvesse amanhã? “Nos dias que precederam o dilúvio, comiam e bebiam, e não deram por nada”… Nos nossos dias, comem e bebem, colocam “likes” e criam perfis no Facebook, fazem compras, veem televisão e trabalham até tarde – e não dão por nada… O importante é andarmos divertidos, dizem-nos os mandantes deste mundo, para que não nos lembremos de pôr em marcha a “visão de Isaías”, em que “não levantará a espada nação contra nação, nem mais se hão de preparar para a guerra”. Aos “filhos das trevas”, dão jeito as famílias destruídas e as nações exploradas. As histórias felizes não vendem…
Mas o Evangelho repete, “Vigiai!”. Vigiamos? Construímos, como Noé, uma arca segura, para que a nossa família não se afunde no dilúvio que já se faz sentir? “Vivam seguros quantos te amam. Haja paz dentro dos teus muros,” canta o salmo sobre Jerusalém, outra imagem para esta arca. E que “materiais” usamos na sua construção? Oração, sacramentos, virtudes, catequese familiar, tempo de família? Há “materiais” que não podem faltar, entre eles a “Lei” e a “Palavra”, como sugere Isaías na sua profecia. E por “ferramentas” temos, naturalmente, o amor. Deixemos que o mundo se entretenha com “comezainas e excessos de bebida, devassidões e libertinagens, discórdias e ciúmes”, e ocupemo-nos na construção desta arca, não nos distraindo de tão nobre tarefa com nenhuma telenovela nem nenhuma montra de Natal.
“De dois que estiverem no campo, um será tomado e outro deixado”. Talvez eu hoje saia para trabalhar e não regresse… Talvez aquele beijo que dei ao meu filho, ao deixá-lo na escola, tenha sido o último. “Estai preparados!” Estou? Se hoje eu soubesse que só tenho umas horas, alguns dias, ou uns meses de vida – o que faria diferente? E se o faria diferente – porque não o faço já? “Na hora em que menos pensais”, o Bebé que vai nascer no Natal “será juiz no meio das nações e árbitro de povos sem número”, dando a cada um conforme as suas obras. Hoje eu preparo a festa para o Menino, mas nesse dia, será este Menino a preparar a festa para mim…
“Vigiai e estai preparados”. Penso em Maria, enquanto recordo cada uma das minhas gravidezes. Vivia então, como Ela, centrada no meu interior, mala pronta, atenta ao mais pequeno movimento do bebé e aos “sinais dos tempos”. Como é difícil e misteriosa, a espera! Temos muita pressa, mas pouco depende de nós. E nunca nos ocorreria celebrar o nascimento do filho antes dele nascer – como o mundo faz com o Natal! É preciso primeiro que a hora chegue. Como é preciso primeiro que venha o Natal, para o podermos celebrar. Teremos, então, todo um Tempo litúrgico para viver – o Tempo de Natal – e será um Tempo verdadeiramente cristão, porque nessa altura, o mundo já se cansou da sua festa e já pensa na seguinte…
Faltam quatro semanas. Ou talvez menos para mim ou para ti, quem sabe? É a altura de nos pormos a caminho. “Vamos com alegria para a casa do Senhor!”
Hora da missa. Haverá melhor arca, Senhor, do que a tua casa, para me proteger do dilúvio que faz lá fora? Porque hesito ainda em trazer os filhos comigo, como fez Noé? Porque me permito ainda, ou a eles, ficar a dormir, em vez de vir ao teu encontro? “Chegou a hora de nos levantarmos do sono…”
Se o mundo soubesse o que é a missa! Aqui, e só aqui, sobre o altar, tudo é divinamente antecipado: o teu nascimento no meu coração, feito gruta de Belém, e o meu nascimento no teu Coração, no último dia… Durante uma hora, vivemos ainda na Terra e já no Céu, estamos ainda a caminho e já chegámos. É Advento. Vigiai e estai preparados… Vem, Senhor Jesus!
Feliz Ano Novo!!!!! 🙌😃
Santo Advento para todos!!