Em Caná da Galileia...


Domingo I do Advento, ano B

Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras da missa do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga

COM HORA OU SEM HORA, ELE VEM!

Celebramos hoje o início do novo ano litúrgico. Haja festa em nossas casas! Se Mateus nos acompanhou durante o ano A, neste ano B teremos a companhia de Marcos, que registou sobretudo o que ouviu da boca de Pedro, de quem era discípulo. Que privilégio o nosso e o dele, descobrir Jesus através da memória e do coração de Pedro!

Quatro curtas semanas para preparar o Natal. Estamos atentos aos sinais dos tempos? A pandemia não nos deixa dispersar em atividades e viagens desnecessárias, e oferece-nos o ambiente propício a aquietar o espírito e a fazer antes uma viagem interior, até às profundezas do Evangelho – e da gruta de Belém.

A pandemia também impede que nos acomodemos às nossas certezas e rotinas, tornando-nos disponíveis para celebrar um Natal porventura diferente. Não que alguma vez estas certezas nos tivessem sido dadas, mas agora – sinal dos tempos – tomamos consciência da nossa vulnerabilidade. O Evangelho diz-nos isso mesmo: “Não sabeis quando chegará o momento.”

Estará Jesus a falar apenas do último dia ou da hora da nossa morte? Não falará sobretudo da Sua vinda, pela graça divina, aqui e agora? Pois é aqui e agora que perdemos ou acolhemos oportunidade atrás de oportunidade para nos convertermos e O recebermos na nossa vida.

“Oh, se rasgásseis os céus e descêsseis!” Exclama o profeta. E conclui: “Mas Vós descestes…” Jesus desce. Damos conta? No seu diário, Santa Faustina descreve um encontro comovente com este Senhor que vem aqui e agora:

“Jesus veio à portaria na figura de um jovem pobre. Um rapazito macilento, todo a tiritar. Pediu algo para comer. Quando fui à cozinha (…) lá achei um pouco de sopa que aqueci, juntando-lhe um pedaço de pão, e fui oferecer ao pedinte, que a tomou. No momento em que estava a devolver-me o prato, deu-me a conhecer que era o Senhor do Céu e da Terra. Logo que vi quem Ele era, desapareceu a meus olhos. Entretanto, em casa, ouvi estas palavras na minha alma: «Minha filha, chegaram aos meus ouvidos as bênçãos dos pobres que por aqui passavam e gostei tanto dessa tua caridade, que desci do Trono, para a saborear…»” (Diário nº 1312) Isaías conclui: “Vós saís ao encontro dos que praticam a justiça e recordam os vossos caminhos.”

Jesus desce também em cada sacramento da Igreja, não apenas no dia longínquo em que fomos batizados, em que nos casámos ou crismámos, mas aqui e agora, pois a graça do sacramento atua em nós ao longo de toda a vida, modelando-nos como o oleiro modela o barro. Diz S. Paulo: “De facto, já não vos falta nenhum dom da graça”. Infelizmente, a nossa pouca vigilância faz com que, muitas vezes, Ele “nos encontre a dormir”, como aos servos da parábola. Por isso, em alturas de fé vacilante, de crise matrimonial, de pecado ou de desalento, precisamos de suplicar, como o salmista: “Pastor de Israel, despertai o vosso poder e vinde em nosso auxílio!”

Jesus desce todos os dias no sacramento da Eucaristia. E ao contrário das Suas outras visitas, esta visita tem dia e hora marcados. “Fiel é Deus, por quem fostes chamados à comunhão com seu Filho, Jesus Cristo, Nosso Senhor.” Também sobre a Eucaristia, estes tempos de pandemia nos oferecem sinais divinos. Numa entrevista publicada a 31 de outubro, traduzida pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, o Papa Francisco responde assim ao bispo que o acusou de ter contribuído para que as pessoas se desabituassem de ir à missa, ao permitir a suspensão das missas durante o confinamento: “Eu digo que se esta “gente”, como lhe chama o bispo, ia à igreja por hábito, então é melhor que fique em casa. (…) Talvez após esta dura provação, com o sofrimento que entra nas casas, os fiéis sejam mais verdadeiros, mais autênticos. Acredite-me, vai ser assim.” Vamos à igreja por hábito, ou porque não queremos perder a oportunidade de nos encontrarmos com o Senhor que rasga os céus e desce para nós?

Também eu me pergunto, como Isaías: “Porque nos deixais, Senhor, desviar dos vossos caminhos e endurecer o nosso coração, para que não Vos tema?” Porque é a verdade tão evidente para alguns, e tão difícil de encontrar para outros? Porque esconde o Senhor o Seu rosto, permitindo-nos cair em pecado grave? Porque vemos tão nitidamente nalgumas ocasiões, e temos um véu tão espesso sobre os olhos noutras? Mistério do amor de Deus! Mas se a nossa inteligência não nos dá respostas, procuremo-las na humildade da oração de súplica: “Deus dos Exércitos, vinde de novo! Estendei a mão sobre nós e não mais nos apartaremos de Vós!” Então Ele virá, abrirá os nossos olhos à Sua luz, e será Natal.

Hora da missa. Tu vens, Jesus, aqui e agora, trazer “a graça e a paz da parte de Deus”, e eu quero estar vigilante para que não desças em vão. “Nunca os ouvidos escutaram, nem os olhos viram que um Deus, além de Vós, fizesse tanto em favor dos que n’Ele esperam!” Torna-me firme até ao fim, molda-me como barro, faz-me voltar! Mostra-me o Teu rosto, aqui escondido sob a aparência de pão e vinho, e serei salvo… Maranatha!

5 Comments

  1. Li com interesse, como sempre. São sempre belos os seus textos. Bem haja por despertar consciências.

  2. Linda reflexão, Teresa. Obrigado

  3. Maranatha! Vem Senhor Jesus aos corações dos vossos fiéis, principalmente dos que se deixam levar pelo comodismo e deixaram de ir ao teu encontro na eucaristia!
    Obrigada pela reflexão Teresa. Beijinhos

  4. Olá Teresa. Como é costume cá em casa, iniciamos o advento com o nosso presépio. Cada domingo contamos a história do nascimento de Jesus, desde o recenseamento até à chegada dos reis magos. Foi a firma que encontramos de viver intensamente todo o advento. Aqui fica o link para o vídeo. https://playmoblog.blogs.sapo.pt/presepio-2020-1-nativity-2020-1-169642
    espero que gostem.

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