Em Caná da Galileia...


Domingo I do Advento, ano C

Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga

NATAL É QUANDO DEUS QUER

Entramos hoje no Advento, em contagem decrescente para o Natal. Que a Palavra nos ajude a centrar no que realmente importa!

Um dos slogans do Natal mundano é a afirmação: “Natal é quando o homem quer.” Mas Jeremias traz-nos outra mensagem: foi Natal quando Deus quis. “Dias virão em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel”, diz o Senhor. Não fomos nós que fizemos o milagre acontecer; foi o próprio Deus que, na loucura do seu amor infinito, decidiu vir ao nosso encontro no Menino de Belém. Nem nos nossos mais belos sonhos ousaríamos tanto! A primeira atitude perante o dom da Encarnação é uma transbordante gratidão.

No Evangelho, Jesus fala-nos da sua segunda vinda, já não na carne, mas na glória. Também ela acontecerá, não quando o homem quiser, mas quando Deus quiser. Antes, será precedida de “sinais no sol, na lua e nas estrelas”, bem como de “angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar.” Pensamos de imediato nos tsunamis, nas grandes calamidades, nas guerras… E damo-nos conta de que não há como prever esta segunda vinda de Jesus, pois não há nenhuma época na História em que não tenhamos conhecido tais angústias. Não quererá com isto dizer-nos o Senhor que todas as gerações precisam de se preparar?

É para nós uma enorme consolação saber que o “fim do mundo” não depende da maldade humana, da bomba atómica, do aquecimento global, mas da vontade de Deus. Por pior que façamos, não seremos capazes de destruir a obra criadora! Pelo contrário, a atitude que Jesus nos sugere, e que tanto podemos praticar ao ver o telejornal, como ao encarar os sofrimentos da nossa própria vida, é uma atitude de esperança e total confiança em Deus: “Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.” Esta confiança nada tem de fatalismo, antes nos incentiva a trabalhar pelo Reino de Deus com novo fôlego e de cara alegre.

Advento é, pois, o tempo que Deus nos dá, ano após ano, geração após geração, para acolhermos na nossa vida o Menino de Belém – o “rebento de David” – e nos prepararmos para a sua segunda vinda – “Hão de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória.” Sabemos, por experiência, que “o tempo passa a correr”, sobretudo o que antecede o Natal, tempo de tantas solicitações mundanas, tanto ruído nos centros comerciais, tanta agitação interior, de dias cada vez mais curtos – e mais cheios. Não só o Advento, mas tantas vezes a vida inteira é uma corrida contra o tempo!

No Evangelho, o Senhor alerta-nos: “Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela intemperança, a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha.” Este aviso serve para este Advento, para o fim dos tempos, e para a hora da morte, em que iremos “comparecer diante do Filho do homem.” Nenhuma destas situações é quando o homem quiser, mas quando o Senhor quiser. Pois se dependesse de nós, talvez nos sentíssemos tentados a adiar este Advento para uma época mais tranquila da nossa vida. “Tende cuidado”, repete Jesus. Quando a graça de Deus passa por nós, não a deixemos passar em vão, pois pode não tornar… Quando a graça de Deus passa por nós, deixemos tudo o que temos em mãos e acolhemo-la, para que dê fruto de salvação em nós.

E como agir, para que Deus não passe em vão? “Vigiai e orai em todo o tempo”, diz Jesus. Vigiar, ter continuamente os sentidos alerta para nos darmos conta da sua passagem – na Palavra, na Eucaristia, na família, no colega de trabalho mal-humorado, no amigo que pede ajuda, no pedinte que bate à porta. Vigiar também sobre o nosso interior, sobre as nossas tendências e as nossas reações – um exame de consciência diário ajuda certamente a melhorar o nosso comportamento no dia seguinte. Vigiar ainda em nossa casa, educando os filhos na Lei do Senhor, sem deixar nada ao acaso. E orar. O tempo todo. Mantendo continuamente o pensamento em Deus, mesmo nos dias mais agitados, através de curtas invocações: “Senhor, tem piedade de mim!” “Jesus, eu amo-Te!” “Nós, Jesus!”

Paulo, escrevendo sobre esta vigilância, encoraja-nos a crescer nas virtudes, especialmente na caridade, a fim de alcançarmos uma “santidade irrepreensível”. Ser santo, repete o Papa, é a vocação de todos os batizados, e S. Paulo lembra-nos de que nunca está concluída: “Deveis progredir ainda mais”. Para isso, precisamos conhecer a doutrina e a Escritura: “Recebestes de nós instruções sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus”, “conheceis bem as normas que vos demos da parte do Senhor Jesus.” Será que S. Paulo podia dizer o mesmo de muitos católicos hoje? Quanto desconhecimento dos fundamentos da nossa fé!

Hora da missa. O Advento começa aqui e agora, porque Deus assim quis. Não há tempo a perder! Eis que Ele vem, e já está sobre o altar… A graça passa por nós hoje, e é hoje que precisamos de a acolher. Vem, Senhor Jesus!

4 Comments

  1. Quero agradecer por todas as reflexões publicadas, pois são uma boa forma de me ajudar a viver melhor cada tempo litúrgico.
    Desejo ardentemente que tenha um Natal muito feliz com a presença do Daniel.

  2. Catarina Silva

    Pois. Eu também agradeço. Muito. São preciosas aulas de catequese que me têm ajudado muito. Já agradeci muitas vezes, mas na verdade, nunca me parecem vezes suficientes. Obrigada Teresa!

  3. Ana Mª Alves

    Já começam a fazer parte do meu vocabulário diário: AGORA e NÓS JESUS

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