Em Caná da Galileia...


Domingo IV do Advento, ano C

Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga

O DEUS OMNIPOTENTE QUIS SER SUBMISSO A UMA MÃE

O Natal está quase, quase a chegar. Mais um dia, e o Menino nascerá entre nós, enchendo o Universo de Luz. É hora de deixar tudo o que temos em mãos, desligar as luzes do mundo, fugir dos centros comerciais e procurar dentro de nós um lugar para Ele. Mesmo escuro, mesmo vazio, mesmo pobre. Como a gruta de Belém.

“De ti, Belém-Efrata, pequena entre as cidades de Judá, de ti sairá aquele que há de reinar sobre Israel”, profetiza Miqueias. Ele nascerá em Belém, humilde terra do pastorinho David, também ele pequeno, também ele o último dos seus irmãos, e que veio a ser rei. Eis a primeira boa notícia da Palavra de hoje! Não precisamos de ter medo da nossa própria pobreza: em vez de afastar o Senhor, a pobreza atrai-o como um íman. É aqui e agora, na Belém que somos, que Ele quer voltar a nascer, e é daqui que Ele quer partir de novo para restaurar as ruínas deste mundo.

E a segunda boa notícia é ainda mais bela: para nos visitar e ficar, para sempre, entre nós, o Deus omnipotente quis o colo de uma mãe! No seio da Virgem Maria, jovem humilde de Nazaré (lugar nunca mencionado ao longo do Antigo Testamento, tão recôndito ele era), Jesus foi mórula, embrião, feto, nascituro. Haverá maior honra para a nossa natureza humana do que saber que Deus a quis para Si próprio? Haverá maior honra para uma mulher grávida do que saber que um dia, Deus elegeu um útero materno como o mais perfeito sacrário? “Não quiseste sacrifícios nem oblações, mas formaste-Me um corpo”, diz Jesus segundo a Carta aos Hebreus. E este corpo foi formado no seio de uma mãe.

Imagem artesanal que nos foi oferecida na paróquia de Matosinhos. Bem hajam!

Mas há ainda uma terceira boa notícia no Evangelho de hoje: Quando Maria chegou a casa de Zacarias e Isabel ouviu a sua saudação, “o menino exultou-lhe no seio.” João Batista, ainda no seio de Isabel, acolhia assim alegremente a bênção que Jesus lhe oferecia, ainda no seio de Maria. Os nascituros, diz-nos o Evangelho, são Gente com letra maiúscula, têm emoções, sentimentos, pensamentos, vontade própria. E como qualquer um de nós, são capazes de se abrir ao infinito e acolher a bênção e o amor. Que o Evangelho da Visitação ressoe aos nossos ouvidos como um hino ao nascituro, hino que, nos nossos dias, o mundo precisa de ouvir com insistência, para aprender de novo a proteger, guardar e desejar a vida, sublime presente de Deus!

“Naqueles dias, Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha…” De onde veio este impulso de partir, assim que recebeu Jesus dentro de si? Terá sido a urgência de conversar com Isabel, a única que, naquele momento, a compreenderia? Terá sido a vontade forte de ajudar a prima idosa, para quem a gravidez e o parto seriam naturalmente perigosos e difíceis? Ou terá sido simplesmente um impulso missionário de alguém que, até aos nossos dias, nunca deixou de ser a Primeira Missionária? Ao longo da História, Maria continuou a visitar o mundo, escolhendo quase sempre lugares e pessoas que, pela sua humildade, fazem recordar o povoado de Nazaré da Galileia…

Esta visita de Maria a Isabel traz-nos, de novo, uma boa notícia: a partir da Encarnação, onde Maria entra, entra Jesus; e o caminho mais rápido para acolher Jesus é acolhendo Maria. Mais ainda: se Jesus quis vir ao mundo através de Maria, será também através de Maria que virá segunda vez, na glória. Não admira que Maria esteja desde sempre a preparar o caminho do regresso, com as suas aparições! “Bendita és tu entre as mulheres”, proclama Isabel, ensinando-nos, também a nós, a louvar Maria.

Sacrário de Jesus, Maria tornou-se a Primeira Igreja e a imagem maternal da Igreja. É preciso repetir até à exaustão: não há Jesus sem Maria, não há Jesus sem Igreja. É Maria, é a Igreja, quem no-l’O dão. A afirmação: “Eu gosto de Jesus, mas não gosto da Igreja”, é para o Senhor tão ofensiva como aquela outra, típica de alguns irmãos separados da Igreja Católica: “Eu gosto de Jesus, mas não venero Maria”. Chega de orgulho, pai de todo o pecado! Chega de nos convencermos que podemos obter a salvação pelos nossos próprios meios! Deus quis vir ao mundo através de Maria, e continua a querer vir ao mundo através da Igreja. O Deus omnipotente quis ser submisso a uma Mãe, e continua a ser submisso à sua Igreja, nas mãos dos sacerdotes ordenados, que O tornam presente entre nós. Maria é a mais humilde das mulheres; mas mais humilde ainda que Maria é Deus.

Hora da missa. O Senhor está mesmo à porta, escondido no seio de Maria. Mais um dia, e será Natal. Por isso, na Eucaristia de hoje voltamo-nos para a Mãe, louvando-a como a louvou Isabel e recebendo a bênção de Jesus através dela; e no dia de Natal voltaremos aqui para receber Jesus através Igreja, pelas mãos do sacerdote. Não há Natal sem Maria, não há Natal sem Eucaristia. E porque Maria e a Igreja são um mesmo Mistério divino, hoje, quando a missa terminar, imitaremos a pressa da Mãe e seremos, nas palavras do Papa Francisco, “Igreja em Saída”, levando o Menino dentro de nós a todos os que O quiserem receber. Vem, Senhor Jesus!

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