Reflexão semanal, escrita pela Teresa, sobre as leituras do domingo seguinte, publicada no jornal diocesano Correio do Vouga
QUE PACIÊNCIA, A DO “PROFESSOR JESUS”!
Este domingo continua a falar-nos da Cruz de Jesus, que precisamos de carregar atrás do Senhor, se queremos ser seus discípulos. Coloquemo-nos diante da Palavra e deixemo-nos tocar, moldar, triturar por ela, até sermos crucificados com o nosso Salvador, para com Ele também nós entrarmos na Vida.
“Armemos ciladas ao justo, porque nos incomoda e se opõe às nossas obras (…) Provemo-lo com ultrajes e torturas para conhecermos a sua mansidão e apreciarmos a sua paciência.” Assim nos diz o autor sagrado, citando os “ímpios” de todos os tempos. A primeira pessoa que me vem à lembrança, ao ler esta passagem, é o nosso querido Papa Francisco, a quem armam ciladas e testam a paciência, a mansidão e o espírito de oração, que se mantêm, como vemos, inabaláveis. Penso ainda em tantos outros “justos” do Senhor ao longo da História, dos profetas aos santos de hoje. Todos passaram o “teste” que o Livro da Sabedoria nos apresenta, a começar por Jesus, o Justo por excelência, “condenado à morte infame” e tudo suportando com paciência e mansidão.
A maior dor do “justo”, seja ele Jesus, o Papa Francisco ou qualquer outro santo, é que esta perseguição não é apenas perpetrada pelos “de fora”, pelo “mundo”, mas muitas e muitas vezes pelos “de dentro”, pelos que se dizem amigos, pelos que dizem partilhar a mesma fé. É o que refere S. Tiago na sua Carta, ao falar de “inveja e rivalidade, desordem e toda a espécie de más ações.” Todos podemos constatar o espírito da divisão e da destruição que hoje ataca de forma particular as famílias e a própria Igreja, traduzindo-se em divórcio, traição, murmuração, orgulho, vaidade, luta de poder. E isto, não lá longe, não entre os pagãos, mas aqui, dentro das casas e das paróquias de alguns de nós.
“Senhor, salvai-me pelo vosso nome”, grita o salmista verso após verso, e gritamos nós, numa oração espontânea que nasce da nossa angústia e da sensação de impotência que então se apodera de nós. Quando chegamos a este ponto e nos damos conta de que, sozinhos, nada podemos fazer contra as forças do mal que se levantaram contra nós, e só o Senhor nos pode valer, alegremo-nos, porque já estamos salvos! É nesses momentos que o Senhor vem em nosso auxílio e sustenta a nossa vida, como conclui o salmo. Pois só é salvo quem sabe que necessita de salvação, quem não se tem em grande conta, quem não confia em si mesmo, quem é verdadeiramente humilde.
Assim explica Jesus no Evangelho ao seu fraco grupo de Apóstolos. Jesus passa uma viagem inteira a falar-lhes da cruz que se avizinha. E que fazem os Apóstolos? Discutem uns com os outros sobre qual deles é o maior. Que paciência, a do “professor Jesus”! E que compreensão tão lenta, a dos “alunos Apóstolos”! Sorrio ao ler esta passagem, pensando em quantas vezes experimento, na minha vida profissional como professora, esta sensação de ter perdido o meu tempo a ensinar o que os outros não conseguiram aprender. E sorrio ao pensar que, na maioria das vezes, eu é que sou esta “aluna” de compreensão lenta, diante dos ensinamentos do meu Salvador.
Já em casa – a casa de Pedro? – Jesus chama uma criança e, carinhosamente, explica de novo aos seus discípulos que não há outro caminho para o Céu senão o da simplicidade, da mansidão, da paciência, da aceitação alegre e humilde da cruz de cada dia. “Quem quiser ser o primeiro será o último de todos”.
Depois, Jesus deixa-nos uma Palavra maravilhosa: “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe.” Que bela notícia! Afinal, é tão simples acolher Jesus nas nossas vidas! Basta servir os pobres e os pequenos deste mundo. Bastam as obras de misericórdia, materiais e espirituais, que a Igreja nos propõe como forma de vida, pois é de acordo com elas que seremos julgados no último dia (cf Mt 25).
Mas demos um passo em frente e tenhamos a coragem de ler a Palavra de Jesus tal qual ela nos é apresentada: “Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe”. Vivemos uma terrível crise de natalidade, infetados pelo vírus da contraceção, a que se juntam os gravíssimos pecados do aborto e dos abusos sexuais de menores, a que o Papa dedicou a sua última Carta. “Abandonámos os pequenos”, constata tristemente o Santo Padre. Quando foi que as crianças deixaram de ser para nós sinal da presença de Jesus? Deixemos que a nossa geração escute com o coração as Palavras exatas que Jesus pronunciou, quando chamou para o meio do grupo uma das muitas crianças que por ali serigaitavam, num tempo em que elas enchiam as casas, as ruas e as aldeias!
Hora da missa. Onde estão as crianças? Onde estão os pobres, os doentes, os que sofrem? Levamos a peito a missão de os trazer a todos ao Senhor? Jesus vai falar-nos da Cruz. Mais: diante dos nossos olhos da fé, misticamente, sobre o altar, “o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens e eles vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará” e será, para nós hoje, aqui e agora, Pão da Vida e Vinho da Salvação… Ámen.