Em Caná da Galileia...


Família Ulma, rogai por nós!

Na Polónia, esta manhã, a família Ulma foi beatificada. Certamente que também aí nas vossas casas se tem vindo a contar a história desta família, e certamente que também aí nas vossas casas há um arrepio na espinha cada vez que se pensa no que lhes aconteceu e, sobretudo, no que faríamos nós, se nos fosse pedido o mesmo. Seríamos capazes?

A Palavra do Evangelho é reconfortante:

Muito bem, servo bom e fiel! Porque foste fiel nas pequenas coisas, grandes coisas te serão confiadas! (Mt 25, 21)

Fica, assim, claro que os atos heróicos a que alguns de nós podem vir a ser chamados, são preparados pelos pequenos gestos quotidianos de serviço ao próximo e de amor a Deus. Quem é fiel nas coisas pequenas, dia após dia, também receberá, em recompensa, a graça necessária para ser fiel nas grandes, quando a isso for chamado. A graça, essa, só nos é dada no momento exato em que dela necessitamos, pelo que não vale a pena ficarmos a imaginar a nossa falta de coragem na hora H, porque na hora H, o Senhor combaterá por nós.

Importa, sim, deitar mão ao arado e lavrar a terra, aqui e agora, paciente e humildemente, nestes atos caseiros de santificação que parecem tão pouco heróicos, e que nos são oferecidos a cada dia: cozinhar mais uma refeição, lavar as casas de banho, ajudar uma criança com os TPC, mudar uma fralda, sorrir em vez de gritar, levantar a meio da noite quando o Senhor, escondido nos mais pequeninos, nos chama, adiantar-se ao marido ou à mulher, quando há uma tarefa pouco atraente para fazer, rezar o Terço e ler a Bíblia todos os dias. Acreditem: foi assim mesmo que a família Ulma se santificou. O resto veio por acréscimo.

A família Ulma era uma família sem importância, que vivia, como a Sagrada Família, “nos confins da Terra”, numa dessas povoações que não aparecem na Bíblia ou no mapa. Esta é uma das razões porque gosto tanto dela.

A outra é a sua proximidade ao povo judeu. Os Ulma e os judeus escondidos em suas casas foram mártires juntos, testemunhas conjuntas do mesmo e único Deus. Aqui em casa, aprendemos com os judeus de todos os tempos a contar as histórias da Bíblia aos mais novos e a celebrar o ano litúrgico com entusiasmo. Estou convencida de que esta beatificação, na presença de tantos judeus, alguns vindos expressamente de Israel para o efeito, poderá marcar um novo tempo de amizade e celebração entre os cristãos e os nossos irmãos mais velhos.

Uma família inteira beatificada: um pequeno passo para esta família, um passo gigante para a História da Igreja. De facto, os Ulma não foram beatificados enquanto indivíduos, enquanto mártires individuais, como os restantes mártires poloneses que sofreram o martírio nas mãos dos Nazis, mas enquanto família.

Aqui há uns anos, a seleção portuguesa de futebol fez uma péssima prestação no Mundial, e houve “choro e ranger de dentes”. Eu percebo pouquíssimo de futebol, mas o que na altura se comentava é que a nossa seleção era um conjunto de estrelas, mas não uma constelação. Cada uma destas estrelas jogava belissimamente bem, mas fazia-o individualmente, ou nas suas equipas habituais. Na seleção, simplesmente, o jogo não acontecia. Então, Portugal contratou um treinador novo, diferente, capaz de gerar a união necessária para que o jogo triunfasse, e o milagre aconteceu. No Euro 2004, não foi só a equipa a jogar em uníssono, foi o país inteiro.

Assim com a família. Podemos ser santos individualmente, independentemente da família em que nascemos, ou até, apesar dela. A família Ulma abre um novo patamar: agora sabemos que também podemos ser santos com a nossa família e através dela, iluminando o céu com uma nova constelação, a brilhar eternamente sobre a Terra.

O Movimento Famílias de Caná quer ter este papel de treinador da família inteira. Há vontade em vir ao treino?

Família Ulma, rogai por nós!

2 Comments

  1. José Pereira de Oliveira

    Quem me dera.

  2. Muita vontade em ir ao treino❤️

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