Em Caná da Galileia...


Fátima, um século depois

Das Memórias da Irmã Lúcia, páginas 80-81:

“Entretanto, o Governo não se conformava com os progressos dos acontecimentos. Tinham posto, no local das aparições, uns paus, à maneira de arco, com umas lanternas que algumas pessoas tinham o cuidado de conservar acesas. Mandaram, pois, uma noite, alguns homens com um automóvel, para derrubar os ditos paus, cortar a carrasqueira onde se tinha dado a aparição (…) Mas qual não foi a minha alegria quando notei que os pobres homens se tinham enganado e que, em vez da carrasqueira, tinham levado uma das azinheiras contíguas!

Passado algum tempo, em um dia 13 de maio, não me lembro se de 1918 ou 1919, ao amanhecer, correu a notícia que, em Fátima, estava uma força de cavalaria, para impedir ao povo a ida à Cova de Iria. Toda a gente meio assustada me ia levar a notícia, dizendo que, decerto, era aquele dia o último da minha vida. Sem fazer caso do que me diziam, pus-me a caminho para a igreja. Ao chegar a Fátima, passei por entre os cavalos que cobriam o adro, entrei na igreja, ouvi missa e comunguei, em paz voltei para casa, sem que ninguém me dissesse uma palavra. (…)

À tarde, apesar das notícias que constantemente chegavam de que a tropa fazia esforços para afastar o povo, sem o conseguir, lá fui também para rezar lá o meu terço. No caminho, juntou-se a mim um grupo de mulheres que tinham vindo de fora. Quando me aproximava já do local, vêm ao encontro do grupo dois militares, fustigando apressadamente os seus cavalos, para nos alcançarem. Ao chegar junto de nós, perguntam para onde vamos. Ao ouvirem a resposta ousada das mulheres, fustigaram os cavalos, fazendo menção de querer atropelar-nos. As mulheres deitaram a fugir, cada uma para seu lado e, em um momento, encontrava-me só, em presença dos dois cavaleiros. (…)

Ao cair da tarde, correu a notícia de que a tropa se tinha retirado, vencida pelo povo; e ao pôr do sol, eu rezava o meu terço na Cova de Iria, acompanhada por centenas de pessoas.”

Como dizia Mark Twain, a História pode não se repetir, mas a verdade é que rima…

Rezemos hoje, como todos os dias, o Terço a Nossa Senhora. E rezemo-lo, como os pastorinhos faziam, oferecendo: “Ó Jesus, é por vosso amor, pela conversão dos pecadores, e em reparação dos pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria!”

Nossa Senhora do Rosário de Fátima, rogai por nós!

Valinhos, onde Nossa Senhora apareceu no dia 19 de agosto, porque no dia 13, os pastorinhos estavam na prisão de Ourém…

 

5 Comments

  1. Mais do que nunca, Fátima é um grito do Céu a pedir reparação que este ano fará um eco imenso por tão vazia que está a cova….vazia de tanto…
    Com um pedido tão claro, nós homens, nós Igreja cada vez O ofendemos mais e mais descaradamente…

    “Oh Jesus é por vosso amor….em reparação…”

  2. Tal como a Praça de S. Pedro, vazia de pessoas, plena de simbolismo… lembro S. João Paulo II, que dizia que o inferno era a ausência de Deus.

    Talvez este vazio, que esperamos que seja um incidente pontual no tempo, convide à reflexão, implique a conversão… a mudança plena no sentido da fidelidade ao caminho do Senhor!

    Que Nossa Senhora no cubra com o Seu Manto!… e que por lá fiquemos, sem vontade de saber como é que a chuva molha ou o sol queima…numa eterna revisitação do pecado original!

    Um beijinho a todos!

    • Um incidente pontual? Mas as pandemias vieram para ficar… dentro de poucos anos haverá outra, certamente. Sempre as houve. Os precedentes estão todos abertos agora! O que nunca antes fora possível, agora é. As portas que se abrem, dificilmente se voltam a fechar. Bjs a todos aí em casa!

  3. Obrigada Teresa pela partilha!
    Fátima para mim é sempre uma contradição de sentimentos… e este ano não é exceção, eis que assim que abro hoje as redes sociais sou inundada por fotografias de velas acesas ontem em casa, algumas pessoas que eu sei que não vão à missa… nenhuma foto a rezarem o terço em família, nem uma dezena… Parece que a Senhora de Fátima é só um amuleto da sorte e da saúde, que convém não desprezar nestes dias para não haver azares…
    Desculpem-me o desabafo, (Teresa se quiser pode eliminar o comentário, secalhar estou só num dia mau).

    • Sara, Fátima tem de tudo isso, eu sei. Se a conforta, nós não colocámos velas nenhumas à janela nestes dias, embora as acendamos todos os dias, sem exceção, no nosso canto de oração, durante cerca de 45 minutos, que é o tempo que leva a nossa oração familiar. Não fizemos nenhuma “peregrinação interior” a Fátima, mas rezamos o terço todos os dias, em maio e fora de maio, com ou sem pandemia, e de vez em quando, lemos excertos de livros de santos, como neste caso, as Memórias da Irmã Lúcia. A avaliar pelos sinais externos, estamos muito fraquinhos na fé, por estes lados 🙂 Não o fizemos – ou não o deixámos de fazer – por nenhum tipo de “finca-pé”, mas porque não nos centrámos nisso, simplesmente. Não calhou… Ab!

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