Em Caná da Galileia...


Francisco e Jacinta Marto e as bilhas pequeninas de Caná

A partir do próximo dia 13 de maio, Portugal pode orgulhar-se de ter, entre os seus santos, os mais jovens santos de sempre da Igreja, à exceção dos mártires. Como me orgulho de ser portuguesa! S. Francisco e Santa Jacinta Marto – que bem que soa!

Se alguém dissesse aos pastorinhos, há cem anos atrás, que o Papa, por quem eles tanto rezavam, viria ao terreno dos seus tios, onde os meninos guardavam as ovelhas mansas, para celebrar uma missa e nela os proclamar santos, certamente que nem a Jacinta, nem o Francisco entenderiam palavra… Santos, eles?

Quando penso na santidade destas duas crianças, sou sempre invadida por grande emoção. Comovo-me diante desta grandeza do Senhor, que escolhe os seus discípulos e os seus apóstolos especiais entre os mais frágeis e pequenos, hoje como ontem e como sempre. Deus não olha para a posição social, para o grau académico, para o nome de família, para os conhecimentos de teologia, para os cursos bíblicos, para a aparência física… Assim explicou o Senhor a Samuel. De facto, o profeta Samuel ficou muito surpreendido quando descobriu que a bênção de Deus recaíra sobre o filho mais novo de Jessé, o pastorinho David, que entrou na sala ainda com cheiro a ovelha e brilho no olhar:

Os homens veem as aparências, mas o Senhor vê o coração. (1Sm 16, 7)

Como continuamos longe desta verdade, na vida diária das nossas paróquias! Continuamos à procura do nome, dos títulos e das honras, e continuamos a desprezar os preferidos de Deus…

Porque é que o Francisco e a Jacinta se santificaram tão depressa? Segundo os relatos de Lúcia, eles eram duas crianças iguais às outras em traquinice e defeitos. A Jacinta amuava com muita facilidade, o Francisco era um “não-te-rales” enervante. Mas bastaram dois anos – dois anos! – para converterem a sua vida e atingirem os cumes da santidade. E eu já vivo há quarenta e quatro anos e ainda estou tão longe! Como foi possível?

A resposta parece-me óbvia: os três pastorinhos viram o inferno e experimentaram o céu, nas visões da Senhora mais brilhante do que o Sol. E quando se vê o Céu, nenhum esforço, nenhum sacrifício, nenhuma oração, nenhum sofrimento parece demasiado para o alcançar!

Como S. Tomé, que ontem recordámos no Evangelho, também nós precisamos de ver para crer. Mas no dia em que decidirmos dar o passo que nos falta e acreditar de facto no amor infinito e absurdo de Deus por nós, também nós descobriremos que vale a pena morder os lábios antes de proferir uma palavra indelicada, vale a pena sorrir no meio da dor, vale a pena calar um queixume ou uma murmuração, vale a pena levantar mais cedo para rezar ou ir à missa, vale a pena dar a outra face, ser misericordioso, servir e amar. Diz S. Paulo:

Nem os olhos viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração do homem pressentiu aquilo que Deus preparou para aqueles que O amam. (1Cor 2, 9)

Nós, Famílias de Caná, acreditamos profundamente na capacidade de santificação das crianças. Essa é uma das razões que nos faz ter “pequenas bilhas de barro” em vez de “grandes talhas de pedra”: queremos que também os mais pequeninos as consigam “carregar”!

Porque acreditamos que as crianças podem ser santas, não hesitamos – como Nossa Senhora não hesitou – em propor-lhes a oração do terço diário e em sugerir-lhes continuamente pequenos sacrifícios, pequenas renúncias, pequenas obediências, praticando a Comunhão dos Santos que constitui a nossa primeira “bilha”: “Nós, Jesus!” Possam as nossas crianças atingir os cumes da santidade, hoje como há cem anos atrás!

S. Francisco e Santa Jacinta Marto, rogai por nós! Ámen.

One Comment

  1. Sim, esta é uma Graça e um Mistério… que nos convida a contemplar o sermão da montanha e as bem-aventuranças…
    O meu filho baptizou-se em Fátima, no Domingo da primeira celebração da festa dos pastorinhos… foi uma grande comoção!, e nunca questionei o seu lugar no Céu… como todos os portugueses!
    Agora este é o reconhecimento, o sublinhar do maravilhoso para que os Tomés que somos O reconheçam.

    Encantadora a menina das bilhas! Quando imaginamos os Anjos…

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