Recebi na semana passada uma interessante pergunta da Olívia Batista. Como me pareceu muito pertinente, decidi partilhá-la convosco. E claro, partilho também a minha tentativa de resposta:
Q: Sendo eu uma mãe católica que não vê interesse nenhum em festejar o halloween, preferindo festejar o dia de todos os santos, sou anualmente confrontada com o pedido da escola, na pessoa da professora de inglês para que a minha filha faça um trabalho alusivo ao tema. Foi uma abóbora, depois um chapéu de bruxa e agora uma casa assombrada em maqueta. Sabendo que o trabalho é obrigatório e conta para nota, como posso eu dar a volta à questão não desrespeitando a professora?
No ano passado fizemos um chapéu cor de rosa, com fitas de várias cores, este ano não tenho vontade de fazer nada, e a minha filha pergunta “porque é que eu tenho sempre de ser diferente dos outros?”
R: Vamos começar por perceber o que é, de facto, o Halloween. A palavra inglesa é uma abreviação de All Hallows Eve, isto é, Véspera de Todos os Santos. A nossa tradução para português, pelo contrário, fala em Dia das Bruxas… Eu, que gosto de palavras, vejo nesta tradução o sinal de que alguma coisa correu mal e se perdeu pelo caminho!
Há muita discussão sobre a origem do Halloween, e parece hoje acreditar-se que nasceu precisamente entre os católicos, gente feliz que não perde uma oportunidade de fazer festa e, por isso, gosta de começar sempre na véspera. É assim no Natal, na Páscoa, e claro, no dia de Todos os Santos!
De onde vieram, então, os símbolos tenebrosos deste dia? O mais provável é terem vindo de uma grande mistura entre os símbolos pagãos relacionados com o culto dos mortos e o “bom gosto” medieval, que se servia de caveiras, imagens de demónios, etc, para assustar “positivamente” os crentes e os afastar do pecado. À medida que o “bom gosto” medieval caiu em “desgosto”, estes símbolos deixaram de fazer qualquer sentido para nós, cristãos, pelo que apenas resistiram os significados pagãos.
Foi o que aconteceu, por exemplo, a práticas como o “pão-por-Deus”, que deixou de ser uma recolha de esmolas para os pobres e se transformou numa recolha de rebuçados e dinheiro para os mais novos, acrescida de partidas mais ou menos divertidas, a famosa “doçura ou travessura”.
A Véspera de Todos os Santos passou assim a Dia das Bruxas, e onde o paganismo cresce, cresce também o pecado e o ocultismo.
Como celebrar então este dia?
Para nós, Família Power, a resposta é muito simples: se o Halloween é a véspera de Todos os Santos, e se os católicos gostam de celebrar vésperas em grande estilo, não vamos abandonar esta noite ao paganismo, nem deixar a festa apenas para a manhã do dia 1. Vamos apostar, em grande, na noite do dia 31, e recuperá-la do paganismo onde ficou aprisionada. Vamos lutar pela nossa dama, regateando-a com pompa e circunstância (não estranhem, porque em breve teremos de fazer o mesmo com o Natal).
Como?
Jesus ensinou-nos a retirar do nosso baú tesouros novos e velhos (cf. Mt 13, 52). Significa isto que é preciso conhecer e respeitar as tradições passadas, mas é preciso também ter a liberdade de as abandonar e substituir por outras, quando deixam de fazer sentido. Ou corremos o risco de tentar algo tão impossível como reenfiar pasta de dentes no tubo de onde a esprememos (não tentem!)
Foi assim, sob o sopro do Espírito, que a festa do Halloween já passou a Holywins – A Santidade Vence. Recuperou-se o seu sentido cristão e vão surgindo novas formas de celebração que, com o tempo, se transformarão em tradições, tradições bem mais de acordo com a nossa sensibilidade pós-moderna, que de certeza não se serve de caveiras para falar de eternidade.
Celebremos, então, pela noite dentro, e ao longo de todo o dia 1! Façamos fogueiras, cantemos e joguemos, caminhemos pelas ruas e brinquemos no escuro. Mas não nos vistamos de demónios e bruxos: se a festa é dos santos, usemos e abusemos de tudo o que se relacione com eles! Caracterizemos os mais novos segundo os seus santos favoritos, cozinhemos refeições que nos lembrem a vida e os costumes de algum santo, façamos teatros, jogos, poemas, tudo o que nos ajudar a celebrar o Céu e a felicidade eterna.
E o “pão-por-Deus”? Faz sentido manter esta tradição? Talvez a possamos deixar cair… Conheço crianças que aguardam pelo dinheiro recebido neste dia para comprar brinquedos caros, por exemplo (e o mesmo com o dinheiro da Primeira Comunhão…). Porque não, como sugere a Olívia, substituir o peditório por um ofertório, confecionando bolinhos e levando-os aos amigos, vizinhos e paroquianos? Mas se quisermos manter o “pão-por-Deus”, será preciso que o dinheiro recebido seja de imediato entregue aos pobres ou à igreja, antes de nos deixarmos contaminar por esta “caca do diabo”, como lhe chama o Papa. Não seria fantástico, as crianças levarem ao ofertório da missa do dia 1 todo o dinheiro recebido, para que o pároco o distribua como achar melhor?
A Olívia e a Filipa já sugeriram muitas e belas atividades para a noite de 31 e todo o dia seguinte. Vale a pena ler os seus posts!
Por falar em Olívia… Vamos lá então à história da professora de Inglês e do trabalho da Maria.
Nos tempos que correm, e vivendo nós numa sociedade cada vez mais multicultural, qualquer professor está acostumado a respeitar as crenças e as religiões dos seus alunos. Como professora de Inglês, já tive alunos Geová que não tinham autorização para cantar Chrismas Carols – e não cantaram; e uma Adventista que não podia ficar na minha aula das cinco horas de sexta-feira durante o inverno, porque já era depois do sol posto, ou seja, acabava de entrar no Sabbath – e não ficava. Nada mais natural que ter uma aluna simpática e bonita como a Maria a dizer, “professora, na minha família não gostamos de assombrações, por isso peço-lhe o favor de me dar um trabalho alternativo”. Não consigo imaginar nenhum professor a negar tal pedido!
E se, mesmo assim, negar? Ora bem, então não bastará sermos humanos, é preciso sermos heróis. Lá virá a nota mais fraca a inglês, não é verdade? Pouca coisa, comparada com os castigos de morte que, noutros países, ser cristão pode significar!
Porque é que tenho de ser sempre diferente dos outros, pergunta a Maria? Neste caso tão simples do Halloween e do Holywins, Maria, e atendendo a que as bruxas são marcadamente mais feias que os santos que celebramos, ser diferente é mesmo uma questão de… bom gosto! Estás, por isso, de parabéns!
E agora, vamos lá, que o dia 31 chega num instante! Já prepararam a festa?
Fico sempre um bocadinho “chateada” quando me lembro que estudei numa escola católica e sempre festejamos o Halloween 😑😏 talvez porque nunca percebi muito de inglês, a professora lá devia explicar e eu não entrei no espírito daquilo…porque não entendia nada! Ahah “obrigada Jesus!”
Mas realmente…hoje fico um bocadinho”chateada”!
Há um certo receio de ser diferente dos outros…ou criticado pelos outros. E eu fico mesmo feliz quando vejo católicos a serem criticados porque são diferentes!
Olívia, se me permite, gostaria de lhe dizer: que bom que a sua filha já percebe que é diferente nessas atitudes e posturas perante tudo o que os outros fazem! Mais tarde irá agradecer-lhe 😉 lá a nota de inglês…..como dizia s. Francisco Marto: “que me importa??!”
Na escola salesiana onde o David e a Lúcia estudam, graças a Deus, o dia 31 vai ser de festa e sem aulas – já souberam que não precisam levar mochila – porque é dia de… “Festa da Santidade Juvenil”, o dia onde irão celebrar especialmente os santos juvenis salesianos e, com eles, todos os santos. Que contraste com outras escolas católicas, realmente… 🙂
Que maravilha!!!
A imposição normativa do Halloween sempre me incomodou… nas nossas escolas mais nenhuma celebração extrínseca á nossa cultura ou até mesmo da nossa cultura é tão incentivada. Proibiram-se as missas pelo Natal e Páscoa, mas mimetizam-se os anglo-saxónicos em idolatrias de gosto tão duvidoso… Será que a cultura inglesa não teria outros contributos a cultivar! Um feliz dia de todos os Santos e de Fiéis Defuntos, que eu adora confundir na esperança de que os meus estejam junto do Senhor…
Por aqui, Vila de Canas (paróquia do Milharado, Mafra) ainda se mantém viva a tradição do pão-por-Deus e o halloween ainda não está muito presente.
Os miúdos, mais de 20 crianças, juntam-se no dia 1 e percorreram as ruas. Habitualmente recebem frutos de Outono, alguns doces, broas e bolinhos e muito pouco dinheiro. Fazem-no com muita alegria e são convidados a levar alguma coisa e a entregar na Eucaristia desse dia.
Ao ler esta reflexão lembrei-me que não era má ideia eles partilharem mais coisas, até porque ficamos com doces para o ano inteiro….
Obrigada por esta excelente partilha!
Os meus filhos e mais uns filhos de casais amigos já fazem o pão por Deus há algum tempo e este ano vão fazê-lo vestidos de Santos.
A minha filha do meio chegou a casa muito contente porque no dia 31 não vai ter aulas e logo não vai fazer nada no Halloween. O que eu gostei mesmo foi da alegria dela pois já me disse que não gosta nada do Halloween.
A Sara não tem essa sorte. No ano passado, com o susto que apanhou ao ver os disfarces dos “meninos grandes”, enfiou-se na biblioteca durante todos os intervalos… Este ano, vamos ver como é!
Quanto ao pão-por-Deus, é mesmo preciso cristianizá-lo, vestindo de santos e nunca guardando o dinheiro recebido (e que pode mesmo ser muito, em alguns lugares), porque é uma tradição que se tornou tão pagã quanto as anglo-saxónicas. Força aí!
Depois envio uma fotografia do grupo!
Não pude deixar de sorrir quando li as vossas partilhas. Por dois motivos:
Este ano na catequese paroquial e muito à custa do que as Famílias de Cana nos foram ensinando, propusemos para sábado uma festa em que meninos e famílias foram desafiados a irem vestidos de santos, faremos um lanchinho e depois terminamos com a habitual eucaristia.
E depois de ler a partilha da Filipa, vamos avançar com a “escolha do Santo”. Veremos como recebem esta ideia…
Quanto às escolas, este ano e porque a nossa filha mudou de escola para um colégio católico, aproveitei um telefonema da educadora para perceber o que iam fazer e para propor um “Holywins”. Mas como o telefonema não se percebia bem, quando falei em “Holywins” a educadora percebeu Halloween e respondeu com um tímido “oh mãe, nesta escola não celebramos Halloween, mantemos as tradições católicas. Vamos fazer/explicar o pão por Deus”. Confesso que fiquei muitíssimo feliz! Depois lá expliquei o que era o “Holywins”, gostou muito da ideia, mas era muito em cima para implementar. Vamos ver para o ano o que acontece.
Mas confesso que meu coração ficou mais sereno como mãe, no ano passado eram muito esqueletos, bruxas e a nossa filha vestida de Rainha Santa Isabel… Exatamente como dizem: princesas, muito mais bonitas!
Este ano … Santa Cecília ( não sabemos como iremos conseguir fazer a arpa, mas logo se vê) e o mais pequeno de S.Bruno, os pais ainda em decisão… 😊
Que bom, Joana, se o Holywins entrar em mais um colégio católico, já contamos mais uma vitória! De facto, recuperar tradições (neste caso, o pão-por-Deus) exige que sejam realmente cristianizadas, ou estaremos a perder tempo. Mas o Holywins é todo ele um tesouro novo! Grão a grão… Sejamos, como Jesus nos pede, fermento na massa! E depois queremos ver as fotos!!!
Muito obrigada Teresa por este texto tão esclarecedor e com um “espírito” tão diferente e que conseguiu imprimir uma postura e atitude tão diferentes perante esta celebração!
Confesso que não é nada fácil… para sermos coerentes temos de ser muito corajosos!… No nosso contexto tem sido um desafio e bastante exigente… Por isso toda a ajuda é bem vinda! Muito obrigada Teresa e muito obrigada a todos pelas partilhas… são as partilhas de todos que nos dão alento…
Como diz e bem a Natália , “são as partilhas de todos que nos dão alento” …
Obrigada a todos
Comecei este ano a dar aulas de música a meninos desde a creche ao pré-escolar em vários colégios da zona metropolitana de Lisboa. Na semana passada, na primeira aula num destes colégios, uma das educadoras, mesmo antes de eu entrar na sala, diz-me “Nós somos um colégio católico. Por isso, não queremos músicas nem actividades alusivas ao Halloween”. Fiquei espantada, não pela ideologia demonstrada, mas porque já não estava à espera que me fizessem tal pedido! Fiquei muito contente! 🙂
Agora só falta o passo seguinte, Sofia: visto tratar-se de um colégio católico, há que introduzir músicas católicas alusivas aos santos, e quem sabe, pouco a pouco, chegamos ao Holywins? Porque o vazio não é bom para ninguém… retirar o Halloween exige substituir por algo melhor 🙂 Bj
Como professora de Inglês de alunos de 3.º e 4.º anos, em escolas públicas, nunca pedi nenhum trabalho alusivo ao Halloween. Como mãe, ainda hoje recebi fotografias da minha filha mais nova, que anda na creche, com a legenda “Hoje estivemos a preparar o Halloween”. O que se via na fotografia era a criança com lã amarela a passar por buracos de uma “circunferência”. Não percebi o que era, acho que a minha filha também não (tem dois anos) e não comentei nada, mas tive vontade de perguntar a razão de comemorar o Halloween. Não sendo uma escola católica, devem festejar por simplesmente gostarem de festa e fantasia, suponho… Mas não faz sentido. Quando isto se passou com a mais velha, noutra creche, eu fui muito mais “chata” e explicaram-me que aproveitavam o “Dia das Bruxas” (tens razão, Teresa, algo se perdeu na tradução!) para ajudar as crianças a perderem medos… Não foi uma resposta que me convencesse, confesso.
Pilar, o Daniel recebeu um recado para ir fantasiado do seu herói favorito hoje. Bem, eu lá tentei perguntar ao Daniel qual o seu herói favorito, mas acreditas que ele não me respondeu? 🙂 Por fim, decidimos que iria vestido de… bebé. E foi todo contente!
Não sinto qualquer necessidade de causar conflito por causa de algo tão inocente como estas brincadeiras nas creches, enquanto forem apenas assim. Mas também não colaboro, claro. E porque não são escolas católicas, não tento mudar nada. Agora quando são, não me calo 🙂
Bj
😂😂😂
A sério que não respondeu!?
Então fizeram muito bem em mandá-lo vestido de bebé… Tenho a certeza de que ia lindo!
Realmente, há situações que só dá para levar a rir!
Tenho andado a matutar neste assunto porque de facto deixa-me desconfortável a contradição entre a realidade que vivemos em casa e tentamos transmitir aos miúdos e o que depois se passa na rua e na escola…
Hoje a caminho da escola o mais velho (7 anos) disse que não percebia a lógica nem o porquê de toda a gente usar coisas monstruosas quando estamos em vésperas de comemorar os Santos… então ele disse que ia chamar a este dia o Dia das bruxas porque nunca poderia estar relacionado com Santos, Santos não é isto! (temos andado desde o início da semana a descobrir Santos com os nomes deles)
Apercebi-em então que ele sentiu a necessidade de “arrumar” estes conceitos na cabeça dele e explicou o seu raciocínio em voz alta… Achei curioso como ele fez essa “gestão” para conseguir conciliar na vida dele as duas realidades e conseguir integrá-las no seu entendimento como coisas distintas: uma como uma “festa de Carnaval antecipado em que o tema são coisas assustadoras” e outra o dia de Todos os Santos…
Isto para dizer que acho muito importante aquilo que a Teresa referiu em que não se pode deixar um “vazio”… para os miúdos as coisas têm de fazer sentido e temos de as integrar da melhor forma…
Logo à noite quando aparecerem à nossa porta para pedirem guloseimas vamos entregar também uma folha com o desenho de um santo para pintarem e sem o nome para tentarem descobrir quem é! 😉
Uau, que ideia gira! Responder com uma brincadeira a uma brincadeira, puxando a brasa à nossa sardinha. É assim mesmo, sem fundamentalismos que afastam, mas com brincadeiras que aproximam! Vamos copiar 🙂
O halloween é a ” brincadeira do diabo” , e quando permitimos que os nossos filhos festejem este dia estamos a iníciá- los no ocultismo!