Quando, há dez anos atrás, vivi dois meses no hospital, ao lado do Tomás, abriu-se um mundo novo diante de mim. Todas as manhãs, depois de deixar o Francisco e a Clarinha na escola, dirigia-me ao Pediátrico e rendia o Niall, que passava as noites ao lado do nosso bebé (algo que a minha barriga de grávida não permitia). Chamávamos a isso, brincando – nunca se deve perder o sentido de humor! – a nossa “passagem de turno”: eu ficava no hospital durante o dia e o Niall ia trabalhar, e ao fim do dia voltávamos a trocar.
Todas as manhãs, enquanto corria do parque de estacionamento para o quartinho do Tomás, tropeçando com a ânsia de chegar e de o abraçar, eu pensava: “Há no mundo dois tipos de pessoas: as que já passaram por um hospital, e as que ainda não passaram por um hospital.” Anos mais tarde, sei que “hospital” pode ser substituído por muita outra coisa. Mas sempre, sempre implica Cruz.
Estou a escrever este artigo no hospital. Já por cá fui passando, depois da curta vida do Tomás. Desta vez, para um “corte de garganta”, simples mas com a sua dose de dor… Sentado ao fundo da sala, um senhor sem cabelo faz horas para a sua 15ª cirurgia. Já percebi que é pai de pelo menos duas crianças pequenas. Tem um sorriso aberto e um olhar franco. E não parece intimidado.
Deus tem-me oferecido oportunidades fantásticas para partilhar o sofrimento da humanidade. Como Lhe estou agradecida! Passar por um hospital é uma oportunidade para se crescer na humildade, aceitando que tratem de nós – “Senhor, Tu vais lavar-me os pés?” Refilava S. Pedro, do alto do seu orgulho… Sim, precisamos de deixar que outros nos lavem os pés de vez em quando! Passar por um hospital torna-nos vulneráveis, e por isso, humaniza-nos. Expondo as nossas feridas, permitimos que outros as toquem. Tornamo-nos crianças, dependentes, pequenos. Pobres de uma pobreza invejável… Eu aqui a queixar-me de uma dor de garganta, e aquele pai a rir à gargalhada enquanto vê televisão, à espera da sua 15ª cirurgia.
Há no IPO de Coimbra um tipo de anjos que eu desconhecia. Chamam-se “voluntários”. Assim que entramos no hospital, eles sorriem-nos e oferecem-se para nos acompanhar no que for necessário. Sempre alegres, sempre disponíveis. De repente, neste labirinto que é o hospital encontramos um caminho. Eu ia jurar que até vi as asas de alguns…
Há ainda no IPO uma capela, e uma capela lindíssima, em honra de Nossa Senhora da Saúde. E aí também vive Jesus. Ontem tive a graça de poder participar na Santa Missa e de receber Jesus, mesmo com alguma dificuldade de deglutição. Ele não Se importou, e lá fez caminho dentro de mim, até ao meu coração. Senti-me a transbordar de gratidão.
Nas longas horas destes poucos dias, vou meditando neste mistério imenso que é a Cruz de Jesus. Porque quando encontramos Jesus na nossa Cruz, ela torna-se Sua. Tão diferente, a Cruz de Jesus, do sofrimento amargo que causamos a nós mesmos e aos outros pelo nosso pecado… Que há na Cruz que nos conforta tanto? Que beleza é esta que se mistura com sangue e com dor, e que nos faz crescer num momento mais do que dez anos de prazeres? Dizem que os anjos de Deus nos invejam por uma coisa: nós, humanos, podemos sofrer por Ele.
Amanhã regressarei a casa. Estou farta desta comichão na garganta, dos pontos, do dreno, e sobretudo, de estar longe dos meus. “Ainda tens de beber água pela mão?” Perguntou-me o António ao telefone, à noite, depois da visita que me fizeram. Se não fossem os pontos, eu teria dado uma gargalhada.
Regressar a casa. Os meus olhos abrem-se para o milagre. Tenho uma casa aonde regressar, uma família que me espera de braços abertos.
Que tens tu que não tenhas recebido? (1Cor 4, 7)
Bem hajam pelas vossas orações e por todas as mensagens de amizade! Se se lembrarem, continuem a rezar, desta vez para que a minha voz regresse depressa ao normal, pois dia 14 temos novo evento – já espreitaram o menu Próximos Eventos? Quem sabe será desta vez que nos vamos conhecer! Será em Fátima, e todos os Power daremos testemunho da forma que cada um sabe melhor: o Francisco fará a sua magia, a Clarinha e a Lúcia dançarão em honra de Nossa Senhora, cantaremos, e eu, se tiver a voz de volta, contarei as nossas histórias.
A todos, continuação de um Santo Natal do Senhor! Ámen!
Esperava ansiosamente notícias! É decerto uma recuperação dolorosa…
Um abraço amigo!
Um muito obrigada pelo seu testemunho nesta época tão bonita!Um grade beijinho a todos e continuamos a rezar….
Espero que tenha uma rápida e pouco dolorosa recuperação!
A voz e a possibilidade de rir sem medo dos pontos vão voltar em breve!
Sei bem o que é o hospital: é um sítio onde nos encontramos como somos! E de grandes “pequenos” milagres! 🙂
“Quando sou fraco, então é que sou forte!” 2Cor 12, 10
Um grande beijinho, a rezar por si!
Que lindo texto este, Teresa…com tanto para meditar…
Rápida recuperação para si e para todos os doentes do IPO. Que também eles tenham uma família para onde regressar que os espere de braços abertos!
Uma rápida recuperação, Teresa. Continuarei a rezar pelas suas melhoras.
Obrigada pela partilha da reflexão.
Rápidas melhoras 🙂 um grande beijinho