A grande personagem do Advento “secular” na nossa sociedade é, sem sombra de dúvida, o Pai Natal. Encontramo-lo sentado em todas as montras, pendurado nas janelas e nas chaminés, passeando nos centros comerciais e nas baixas citadinas. É simpático, este velhinho gorducho e bem agasalhado, que dá fortes gargalhadas e oferece presentes às crianças. Não vemos, naturalmente, nada de errado nesta personagem bem disposta, nem nenhuma contradição com o Natal de Jesus. Não há nada de ofensivo no Pai Natal, antes pelo contrário, pois ele é amigo de todas as crianças.
Mas a grande personagem do verdadeiro Advento (excluindo Maria e José) é bem diferente do Pai Natal. Não veste roupa quentinha, mas peles de animais; não é gorducho nem bem alimentado, antes se alimenta de gafanhotos e frutos silvestres; não é simpático nem risonho, mas profere verdades sem grande delicadeza nem medo das consequências; não vive nos centros comerciais, mas no deserto; não é, de todo, politicamente correto. Falo, claro, de João Batista. A ele se referem muitas das leituras e um domingo inteiro no Advento.
O Pai Natal é inofensivo, sim. Mas a sua presença no Advento pode afastar-nos do verdadeiro sentido deste tempo litúrgico. João Batista não vem para distribuir presentes, porque no Natal é Deus quem nos dá o seu Presente; João Batista vem apelar à conversão e à austeridade, à simplicidade e à partilha. O Natal não é tempo de encher, mas de esvaziar; não é tempo de acumular, mas de partilhar.
João Batista ensina-nos o caminho para o Natal:
É preciso que Ele cresça e eu diminua. (Jo 3, 30)
O nascimento do Batista, segundo as Escrituras, teve lugar seis meses antes do nascimento de Jesus. Assim, ficou liturgicamente marcado no dia 24 de junho, próximo do solstício de verão, enquanto o de Jesus coincide – coincidências divinas, como só Deus sabe fazer – com os dias do solstício de inverno. A partir da festa do nascimento de João Batista, os dias vão diminuindo, até atingirem o seu ponto mais baixo nos dias do nascimento de Jesus. É então que começam a crescer. João é aquele que diminui, aquele que se abaixa, se humilha, se aniquila para que Jesus surja como o sol nascente e cresça nos corações.
Faltam muito poucos dias para o Natal de Jesus. Na mercearia e no talho já me asseguraram que no domingo as portas estarão abertas para as últimas compras. Nos centros comerciais, mais abertas estarão ainda. Vamos passar estes últimos dias a comprar, a cozinhar, a limpar, a arrumar, a participar em festas e mais festas? Vamos faltar à missa domingo de manhã, porque com um bocadinho de jeito até justificamos que vamos à missa da meia-noite ou à missa no dia seguinte, Natal? Vamos chegar à missa de Natal cansados, nervosos e preocupados com tudo o que ainda falta fazer?
Ou vamos aceitar o desafio do Batista e, pelo menos nestes últimos dias, fazer deserto, renunciar a excessos de comida e festas, aumentar o tempo de oração, confessarmo-nos e convertermo-nos a sério?…
(Participar no Retiro de Natal em pleno Tempo de Natal, dia 30 de dezembro em Fátima, é uma ótima ajuda para fazer deserto nesta época. Ainda não se inscreveram em Eventos?)