Em Caná da Galileia...


Não temas! Estou contigo.

Aproximava-se o primeiro dia de escola do David, no início de setembro. As mudanças tinham sido muitas: todos os nossos filhos tinham saído do colégio católico das Irmãs de S. José de Cluny, que frequentavam desde o ano de idade, devido à perda do contrato de associação e à impossibilidade de pagar as mensalidades. A Sara mudara de pré-escola, o António e a Lúcia passaram para a escola pública de Mogofores, a Clarinha passara para a secundária, no agrupamento onde eu leciono.

Restava-me decidir sobre o David, no sexto ano. Em oração, como sempre, procurei respostas. Devia o David seguir também para a minha escola? Gosto da escola, mas a ideia destes mega-agrupamentos, estas escolas enormes, não me agrada. Havia uma alternativa: o Colégio Salesiano da minha aldeia, Mogofores. Embora também tivesse perdido o contrato de associação e fosse agora uma escola privada, as mensalidades eram acessíveis, perto de 170 euros, considerando que apenas o David iria ficar a pagar. E havia alguma coisa – Alguém – que me chamava… Afinal, o Santuário Nacional de Nossa Senhora Auxiliadora já era a nossa segunda casa há muitos anos. Não havia de ser também a nossa escola?

Falei com o David, que ficou apreensivo: “Todos os meus amigos vão para a escola pública. Achas que vou ter amigos no Colégio Salesiano?” “David, já conheces tão bem o espaço e o ambiente!” Respondi-lhe. “Todos os domingos vamos ao Santuário, participamos na Eucaristia, rezamos no Canto de Caná, brincamos nos pátios e na quinta… Não te parece que só te falta, realmente, frequentares também a sua escola?” O David acabou por aceitar e tratei da transferência.

Esperando a minha vez na secretaria do colégio, alguns dias mais tarde, escutava as conversas das mães que me precediam. Falavam de como muitos professores do Colégio tinham ido embora, de como muitos meninos tinham desistido e a turma do sexto ano só tinha oito crianças. Senti a agitação a crescer dentro de mim e a cabeça a andar à roda: e se eu estivesse a fazer um grande disparate? E se o David não se desse bem no Colégio, longe dos amigos, numa turma de apenas oito alunos? E se…?

Enquanto assim me deixava perturbar, chegou a minha vez. Sorri para a senhora que me atendeu e assinei os papéis que me estendia. Foi então que, entre estes papéis, me deparei com uma folha grande, azul, bonita, convidando os pais e encarregados de educação a um encontro inicial. No cimo da folha, em letras bem grandes, o lema deste ano letivo:

Não temas! Estou contigo.

Suspirei profundamente e uma imensa alegria invadiu-me. Como já era habitual, Deus respondia às minhas dúvidas e ansiedades com a sua própria Palavra, a mesma que Jesus repete vezes sem conta aos discípulos: “Não tenhas medo!” Naquele momento, as dúvidas dissiparam-se e regressei a casa pacificada.

Alguns dias depois, o David regressava a casa de bicicleta, depois do seu primeiro dia na escola nova. Vinha feliz, e feliz continua até hoje.  São oito alunos na sua turma, como somos oito em casa, e o ambiente em sala de aula é tranquilo e alegre. Os professores, vários deles novos como o David no Colégio, são simpáticos, atenciosos, amigos dos seus alunos, excelentes profissionais. Nos intervalos das escolas salesianas, os professores, funcionários e sacerdotes passeiam pelo pátio, atentos aos meninos, conversando aqui e ali quando algum precisa de uma palavra, fazendo uma brincadeira, escutando uma partilha, ajudando a integrar quem está mais sozinho. D. Bosco dizia que é no pátio, no meio dos alunos, que os salesianos encontram Jesus, e assim é de facto. Como é bonito ver!

“Mãe, vou andando”, diz-me o David invariavelmente às oito da manhã de cada dia. “Mas, filho, ainda tens vinte e cinco minutos! Para quê a pressa?” Ele monta na bicicleta enquanto responde: “Já lá tenho amigos para brincar! Adeus!”

De vez em quando, à hora do almoço, os meninos brincam para lá do pátio, na quinta dos padres, onde está o Canto de Caná. “Não te esqueças de cumprimentar a Mãe de Caná ao passares na sua casa!” Vou lembrando ao David. Ele sossega-me: “Eu não me esqueço! No meu coração, digo-lhe sempre Olá. O Canto de Caná é como se fosse o nosso segredo, meu e de Nossa Senhora!” Eu sorrio, e penso no privilégio que foi concedido ao meu filho de estudar e brincar à volta do Canto de Caná.

Depois peço ao Senhor por estas escolas que se mantêm verdadeiramente católicas, longe dos vírus do mundanismo e do relativismo que caracteriza tantas outras. Elas são o fermento na massa, o grão de mostarda plantado na horta, o pequeno oásis de cristianismo no deserto deste mundo…

2 Comments

  1. Feliz dia em que escolhemos o Colégio dos Salesianos em Mogofores para a escola do David. Obrigado Senhor!

  2. antonio assuncao

    Unidos na vossa experiência e na caminhada do David com os Salesianos, dos outros nas suas escolas… e de cada um de nós onde Deus nos coloca
    “Não temas, Maria…” e agora para cada um de nós “Não temas..”
    Um dia feliz para todos
    António

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