Em Caná da Galileia...


Nas trevas, brilhou uma luz

Oração familiar, noite de quinta-feira. Pelo país fora, a tempestade Elsa faz tremer de medo as árvores, os telhados e os carros que se atrevem a circular nas ruas inundadas. À volta do Presépio, lemos a história da Árvore de Jessé, rezamos o Terço, cantamos o salmo, tentamos adivinhar qual o “Ó” que hoje vai ser proclamado na antífona do Evangelho e fazemos o jogo: “Quem consegue dizer todos os “Ó”s que já proclamámos até hoje?” Iremos fazer o jogo até ao Natal…

De repente, a luz apaga-se, em casa e na rua. Ficam apenas as três velas do Presépio, a brilhar serenamente. A Sara encosta-se a mim cheia de medo, mas o Daniel dá uma pequena gargalhada. É a terceira ou quarta vez hoje que a luz falta, e o Daniel está a gostar da brincadeira, de tal forma que, de cada vez que a luz volta, ele fecha e abre os seus olhinhos repetidamente, a ver o que acontece. 🙂

Vamos rezando às escuras, até que, da mesma forma como se apagara, a luz se acende. Decido então trazer o tema da luz para a oração…

“Já pensaram bem o que significa o Advento? Significa que estamos à espera da luz! Durante milénios, a humanidade viveu às escuras.”

“Não havia luz elétrica, não é, mãe?”

“Só havia fogueiras! Eu gosto de fogueiras!”

“Imaginem só o que era viver às escuras a partir das cinco da tarde no inverno… Sem qualquer iluminação! Vivia-se assim, mas não apenas exteriormente. Também o espírito estava às escuras. É o que nos diz a Bíblia:

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz! (Mt 4, 16)

O nascimento de Jesus encheu a Terra de luz. Foi como se, de repente, se acendessem todos os candeeiros, como aqui em casa esta noite. Por isso, Jesus disse mais tarde:

Eu sou a Luz do mundo. Quem Me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida. (Jo 8, 12)

Diz S. João:

A Luz brilhou nas trevas… (Jo 1, 5)

Os meninos ficam pensativos.

“Temos a eletricidade por garantida, não fazemos nada sem ela”, diz o Francisco. “Não conseguimos sequer imaginar o que seria viver permanentemente na escuridão…”

“… e por isso não percebemos o alcance destas afirmações dos Evangelhos. Parecem-nos banais, quando pelo contrário são tão poderosas!”

O incrível disto tudo é a segunda parte deste versículo de João:

… mas as trevas não a receberam. (Jo 1, 5)

Será possível preferir as trevas à luz? Fará algum sentido, querer viver às escuras? Porque teremos nós tanto medo da luz? E no entanto,

Não há nada oculto que não venha a ser descoberto, nada em segredo que não seja trazido à luz do dia… (Mc 4, 22)

“Alguém hoje fez algum gesto de amor?” A pergunta vem, como sempre, no final da oração familiar. Alguns dos meninos levantam-se, vão ao cestinho buscar uma estrela e, com um pouco de fita-cola, lançam-na no céu escuro. Talvez tenha sido apenas uma palavra simpática ao mano, um cerrar dos lábios capaz de impedir uma outra palavra mais dura, ou quem sabe, um gesto generoso de serviço e bondade que não será identificado. O que quer que seja, cada um destes atos é um pequenino ponto de luz a brilhar na escuridão… Estrelinha a estrelinha, seremos, também nós, luz nas trevas deste mundo.

Amanhã, é já amanhã, será Natal. Estarei de tal forma habituado à escuridão, que fecharei os olhos com medo da luz? Ou irei fazer espaço e deixar a luz entrar, iluminando os cantos mais obscuros da minha alma e da minha vida?

Maranatha!

3 Comments

  1. Feliz Natal, querida Família Power. Que mensagem tão bonita e importante como sempre, escrita de uma maneira tão bela. Parece que toca sempre em algo que estamos a viver. Tenho vivido momentos de escuridão ultimamente, mas este texto levou-me a pensar que mesmo assim vale a pena continuar a tentar ser sempre uma luzinha.
    ps – será que avisto o texuguinho??? que felicidade 🙂
    Um beijinho grande a todos! Sara

    • O texuguinho é um símbolo muito querido para nós 🙂 Claro que tinha de estar no Presépio! E durante o resto do ano, está aos pés de Maria! Bjs e feliz Natal, querida Sara!

    • É verdade… Todos nós temos momentos de grande escuridão… uns por uma coisa outros por outra… só Deus sabe…
      E como diz o Pe. Tolentino, quando estamos bem e temos sede até somos capazes de “pedir um copo de água,se faz favor”, mas noutras alturas só nos sai o grito “água!!!”… mas é essa sede que nos faz querer sempre mais… chegar mais perto, mais fundo…
      Não percamos essa sede de chegar a Deus…
      beijinhos e força!!

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