Em Caná da Galileia...


O caminho sem desvios

Uma das minhas atividades favoritas na Irlanda foi passear sobre as falésias. O oceano lá em baixo, a falésia coberta de erva e de flores, o cheiro a campo misturado com a maresia, as vacas a pastar, o som das ondas e o cantar dos pássaros, as borboletas e as gaivotas a esvoaçar sobre as nossas cabeças, pequenas praias escondidas entre as rochas a assomar a cada quilómetro…

No lugar onde ficámos de férias havia um belíssimo caminho recortado sobre a falésia. Durante alguns quilómetros, podíamos caminhar e contemplar o esplendor da Criação. E que esplendor!

O Niall hesitou bastante em fazer este percurso. Como pai prudente, temia pela segurança dos filhos, pois caminhar sobre uma falésia não é o mesmo que caminhar na praia… Por fim, acedeu, embora me fizesse prometer que voltávamos para trás ao primeiro sinal de perigo. Não foi preciso. O caminho está muito bem traçado e é perfeitamente seguro, contando que as pessoas respeitem uma regra básica: manter-se nele.

Não te afastes para a direita nem para a esquerda dos mandamentos que Moisés te prescreveu. (Js 1, 7)

Caminhando sobre a falésia com os meus filhos, eu meditava nesta Palavra do Senhor. Como é difícil mantermo-nos e mantermos as nossas crianças firmes no caminho traçado, sem nos desviarmos para a direita ou para a esquerda! Basta um passo em falso, um só passo em falso, e mergulhamos no abismo…

No Caminho Bíblico da nossa vida, somos tentados a fazer muitos desvios. Por vezes, são os tapetes de flores que nos atraem para fora dele… Como são poderosos, os atrativos do mundo, capazes de destruir matrimónios e famílias inteiras!

Outras vezes, é o abismo que nos causa vertigem e nos quer puxar para o fundo… A doença, a pobreza, o abandono pelo cônjuge, a crise económica, todos os problemas da vida precisam de ser entregues ao Senhor para não nos afundarmos.

Mantenhamo-nos no caminho, sem fazer desvios, fiéis à palavra dada e à Palavra recebida.

E as crianças? Às vezes, precisamos de lhes dar a mão com carinho para as encorajar a caminhar; outras, precisamos de lhes agarrar a mão com firmeza, dizendo “Não!” com a certeza de que, de outra forma, podem mesmo cair no abismo. E noutros momentos temos de as levar ao colo ou às cavalitas… Em qualquer caso, nenhum pai se atreveria a caminhar sobre uma falésia com a sua família se não tivesse a certeza de conseguir manter os filhos em segurança. Vivemos numa sociedade que, com medo do autoritarismo, evita a autoridade. Que imprudência, quando caminhamos nas falésias da vida! Trabalhemos em família, sem medo, os valores da obediência, da humildade, do respeito.

“Estou cansado, mãe, quero colo!” Dizia o António, no caminho de regresso. O pai caminhava com a Sara às cavalitas e o Francisco nem se via, entretido a caminhar com os primos.

“Não consigo, António, já és muito crescido para mim”, respondi-lhe. “Queres oferecer a Jesus este sacrifício?”

Vale sempre a pena arriscar caminhar, vale sempre a pena aguentar firme até ao fim. Vejam que bonita surpresa nos esperava nas águas tranquilas da minúscula praia onde chegámos: uma foca!

Durante as férias, percorremos duas vezes este magnífico caminho sobre as falésias: uma, apenas os oito; a outra, com um montão de primos e tios.

Assim na vida: há momentos em que precisamos de caminhar apenas como família nuclear, pais e filhos juntos, para partilhar, para rir juntos, para fazer confidências, para descobrir a nossa forma única de estar na vida.

Mas também há momentos em que precisamos de nos abrir à família alargada, a família herdada do pai e da mãe, e que recebemos de Deus como um dom.

As férias são o tempo por excelência para esta descoberta divertida e descontraída uns dos outros…

…E o tempo por excelência para retomarmos a rota e acertarmos o passo no Caminho Bíblico que o Senhor nos abre.

Não as desperdicemos!

2 Comments

  1. Rogério Ribeiro

    Ao ver as paisagens nas fotos só me ocorre dizer: ” como são grandes e admiràveis, Senhor a obra de vossas mãos”.

  2. Pilar Pereira

    Que paralelismo tão simples e tão fantástico, o que fizeste entre o caminho sobre a falésia e o caminho da vida!

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