Em Caná da Galileia...


O gatinho, a Irmã Lúcia e a Eucaristia

O recinto do Santuário Nossa Senhora Auxiliadora tem três visitantes de quatro patas diários. São três cães que passam ali o seu dia, aproveitando a distração dos funcionários para entrar no Colégio ou para entrar na própria igreja. São mansos e simpáticos, conhecem todas as crianças da catequese e da escola e só querem brincadeira. As Famílias de Caná que acamparam na quinta do Santuário também tiveram oportunidade de os conhecer bem e de lidar com as suas visitas mais ou menos indesejadas às suas tendas! E nunca conseguimos ir rezar ao Canto de Caná sem que um dos cães nos acompanhe.

Outro dia, um destes simpáticos animais teve um papel evangelizador fantástico na catequese da Lúcia. Os catequistas – uma Família de Caná cheia de criatividade – abriram a porta da sala de catequese, num momento de grande suspense, e deixaram entrar a cadela, que trazia na boca uma carta. Fingindo admiração, o João retirou cuidadosamente a carta da boca da Chamusca… O remetente era Nossa Senhora e o destinatário era mesmo aquela sala de catequese! Que coincidência, não acham? Certamente que imaginam a atenção com que os meninos da catequese escutaram a mensagem… Não cheguei a perguntar à Isabel e ao João como convenceram a Chamusca a levar uma carta à sala de catequese. Para a Lúcia, que obviamente não esqueceu o conteúdo de tal mensagem, foi um momento de grande inteligência da cadela: “Como é que a Chamusca se lembrou de nos levar uma carta?” Ah, a criatividade na evangelização, que importante é!

Ora hoje de manhã, ao chegar ao Santuário para a minha oração habitual, deparei-me com os três amigos de quatro patas. Entrei na igreja evitando que me seguissem, ajoelhei diante do sacrário e comecei a minha oração. Vinte minutos depois dei-me conta de que tinha de regressar ao trabalho (costumo rezar nos furos de horário que tenho durante o dia), e foi com esforço que me levantei para sair. Estava-se bem ali, a luzinha do sacrário a apontar para a Presença do meu Senhor, e eu ainda tinha muitas coisas para Lhe dizer…

Foi então que me lembrei de uma história da Irmã Lúcia, que li no livro que as suas companheiras do Carmelo escreveram, Um Caminho sob o Olhar de Maria. Não é sobre cães, mas sobre gatos. É uma história tão engraçada, que não resisto a partilhá-la convosco. A Irmã Lúcia ainda vivia no convento das Irmãs Doroteias. Estava adoentada, e por isso não tinha licença para as suas habituais noites de adoração diante do Santíssimo. As ordens eram para descansar.

Um dia, porém, a Irmã pôde fazer a Hora Santa sem ter licença e sem faltar à obediência: foi pedir à Madre Provincial para, nessa noite, fazer a Hora Santa. A Madre disse-lhe que só podia fazer uma visita ao Santíssimo e em seguida ir descansar. Agradeceu e obedeceu. Quando entrou na capela, de onde saía a Superiora da casa, com ela saltou para dentro um gato. A Madre recomendou à Irmã que não deixasse lá o gato. Ora, a Irmã ocupou-se de fazer companhia ao seu Senhor, enquanto o gato se ficou por lá aninhado. Só à meia noite o bicho se resolveu a sair. Então, a Irmã fechou a porta e foi levar a chave à Madre Provincial, que muito surpreendida lhe perguntou: “Então a Irmã só agora é que vem?!” “Sim. Fui fazer a visita, como me disse. Mas quando cheguei à capela, a Madre Superiora ordenou-me que não deixasse lá um gato que tinha entrado. E ele só saiu agora.” A Madre Provincial sorriu, e a Pastorinha foi-se também a sorrir. (p. 321)

Tomara encontremos sempre abrigo na Casa de Deus, à semelhança da Chamusca e do gatinho! Tomara tenhamos sempre esta vontade de fazer adoração que a Irmã Lúcia tinha! Tomara encontremos sempre boas desculpas para rezar! Tomara tenhamos de justificar o nosso prolongar da oração, e não a sua falta, diante do Senhor…

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