À volta da nossa casa há campos, florestas e terras que os nossos filhos gostam de explorar livremente, nas longas tardes de verão. Há também poços, a maioria protegidos, mas nem todos. Os nossos filhos mais velhos, que conhecem cada recanto das redondezas, vão de quando em quando fazendo o “reconhecimento do terreno” junto dos mais novos, para se certificarem de que não correm riscos desnecessários. Até hoje, nunca aconteceu.
Há uns dias atrás, a Lúcia e o António chegaram a casa muito excitados: “Mãe, mãe, não imaginas! Há um gatinho no fundo de um poço, ali num campo onde gostamos de brincar!”
“No fundo de um poço? E como é que descobriram? Não acredito que andem a espreitar para dentro dos poços…”
“Ora, tu não espreitavas também quando tinhas oito anos? Nós sabemos o perigo e temos cuidado. Mas o que vamos fazer ao gatinho?”
O Francisco, o homem das engenharias, não estava em casa. Chamei a Clarinha, e pusemos as nossas cabeças a funcionar.
“E se lançarmos a corda de saltar? Achas que o gatinho a agarra?”
“Não dá. O poço é mesmo muito fundo.”
“Hum… Já sei! Vamos atar a mangueira a um cestinho. Lança-se o cestinho, e o gatinho sobe para ele…”
A Lúcia levantou-se de um salto.
“Boa! Clarinha, vamos!”
E lá foram as duas, bem armadas.
No fundo do poço, o gatinho já nem tinha força para miar:
Afoita, a Lúcia lançou o cestinho…
O gatinho entrou para o cestinho e, ao chegar ao cimo, saltou para terra firme com a rapidez de um relâmpago, para nunca mais aparecer. Não ganhou para o susto!
A Lúcia e a Clarinha regressaram a casa felizes, com a sensação de missão cumprida. Eu suspirei de alívio, porque também tinha ficado com muita pena do pobre animal, condenado à morte no fundo de um poço.
Depois pensei… Quantos irmãos nossos estão condenados à morte no fundo de poços para onde caíram, pelas mais variadas razões? Nós passamos ao lado, mas não espreitamos, porque é perigoso abeirarmo-nos dos poços desprotegidos, não vamos nós cair neles também… Como é fácil encontrarmos justificações!
Por acaso descia pelo mesmo caminho um sacerdote. Vendo o homem caído, desviou-se dele. Do mesmo modo, um levita, passando por aquele lugar, também o viu e passou adiante. Mas um samaritano, que estava de viagem, chegou até ele. Quando o viu, ficou com pena dele. Aproximou-se, tratou das feridas, derramando nelas azeite e vinho… (Lc 10, 30-37)
Tão bom. Corações grandes fazem-se com as descobertas e as vivências. Que bela aventura de uma tarde de verão… 😉