Em Caná da Galileia...


O luar, o texugo e a oração familiar

Já repararam como tem estado bonita a lua cheia, esta semana? Ilumina de tal forma, que caminhamos na noite quase como se caminha de dia.

Pelo menos aqui, nos campos ao redor da nossa casa. Todas as noites, depois de deitarmos o António e a Sara pelas nove horas, deixamos o David e a Lúcia a ler na sala mais vinte minutos, o Francisco e a Clarinha a estudar, a ler ou a fazer qualquer outra coisa, e saímos os dois, o Niall e eu, para um curto passeio com os cães. Faz-lhes bem a eles, mas sobretudo faz-nos bem a nós, que passamos o dia longe um do outro e precisamos de algum tempo juntos.

Nem sempre são vinte minutos. Às vezes são apenas dez, porque entretanto é hora de vir dar um beijinho à Lúcia e ao David. Mas que importa se é muito ou pouco? É o suficiente para concluir conversas incompletas à hora do jantar, para partilhar aquele detalhe do dia que nos magoou ou nos alegrou, ou simplesmente para dar algumas gargalhadas juntos. É o suficiente também para nos ajudar a tomar alguma decisão sobre os filhos, o nosso trabalho na paróquia, as nossas profissões, as Famílias de Caná… Entretanto, contemplamos a noite, a lua, as estrelas, escutamos os grilos e as cigarras que ainda cantam nos campos, extasiamo-nos diante de alguma estrela cadente.

Numa destas noites, eu estava demasiado cansada para acompanhar o Niall e ele foi sozinho. Quando regressou vinha eufórico: “Teresa, não imaginas o que eu vi! De repente, sem mais nem menos, ali parado à beira do rio a olhar para mim, estava um texugo. Um texugo! Enorme! Duas vezes o tamanho do Jack (o nosso cão)!” Eu nem queria acreditar. A única vez em que não acompanhei o Niall, ele tem a dita de ver um texugo!

Claro que no dia seguinte, depois da história circular entre todos nós, com o tamanho do texugo sempre a aumentar e várias pesquisas na Internet para identificar claramente o animal em causa, já não conseguimos ir sozinhos dar o nosso passeio: o David, a Lúcia, o António e a Sara quiseram acompanhar-nos para também eles verem o texugo. Escusado será dizer que, quanto mais companhia fomos tendo, menos hipóteses de ver o dito animal… E menos hipóteses de conversarmos a dois.

Depois de algumas noites de passeio em família, convencidos finalmente que não iriam ver nenhum texugo, os meninos lá aceitaram ficar de novo em casa, e o Niall e eu recuperámos o nosso tempo de casal, que tão importante se tornou para nós.

Com muita frequência, leio artigos de psicologia ou de autores cristãos defendendo a necessidade de cada casal tirar uma noite por semana, um dia por mês, umas férias por ano a sós, para se redescobrirem como casal anterior à sua paternidade e maternidade. Sugerem estes autores que nesse tempo, o casal evite até falar dos filhos…

Eu sorrio, sempre que leio isto. Há muitos anos que o Niall e eu não tiramos uma noite por semana, ou um dia por mês, e nunca, até hoje, tirámos umas férias sem as crianças, não porque a avó não se ofereça para cuidar delas, mas porque pela minha maneira de ser, sei que não me saberiam de proveito. Mas nunca nos esquecemos de que estamos apaixonados um pelo outro, nem nunca nos perguntamos por que raio estamos juntos! Também nunca nos faltou tempo diário para namorar, rir e conversar. Não saberíamos viver sem esse tempo! Muitas e muitas vezes, a nossa conversa começa logo de manhã, antes de nos levantarmos, continua ao telefone durante a hora de almoço ou em breves trocas de correio eletrónico, e é concluída ao serão. E nem as muitas viagens de trabalho do Niall são capazes de nos interromper.

Durante os nossos passeios, falamos simplesmente do que nos vai na alma, e se em épocas de crise em alguma área da nossa vida, das finanças familiares às doenças infantis, os assuntos se repetem até à exaustão, noutras alturas a conversa é leve e saltitante. Nestas últimas noites, sob um magnífico luar, falamos dos filhos? Naturalmente! Falamos do bebé que está para nascer? O tempo todo! Também damos as mãos e nos abraçamos. E, claro, todas as noites tentamos ver um texugo 🙂

Às vezes procuramos identificar o ingrediente que nos faz manter assim, apaixonados, alegres, íntimos, felizes, todos os dias. E concluímos que certamente esse ingrediente é a oração familiar que nunca, em momento algum, deixamos de fazer.

Porque os nossos quinze minutos de passeio a dois são precedidos de quarenta minutos de oração em família…

2 Comments

  1. Durante muito tempo achei que “nos era devido” – ao casal – esse tempo mágico que tanta gente defende e que em vários anos de casada com filhos não pude ter. Essas férias sem filhos, fins de semana românticos, enfim… depois comecei a perceber que alguns minutos a sós e com qualidade era ouro, mesmo tendo por base o assunto proibido que eram os filhos!!! Recentemente tivemos a oportunidade de passar um fim de semana só os dois (o 2º em 15 anos de casados) e foi maravilhoso, tão maravilhoso que em breve iremos exatamente ao mesmo local novamente, mas desta vez levamos as nossas filhas!!!

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