Em Caná da Galileia...


O manto de Fátima

Já me tinha esquecido de como Fátima é tão, tão azul. E tão branca. O azul e o branco, as cores de Maria, refulgem em Fátima como em nenhum outro lugar.

“Paia!” Gritou o Daniel, quando estacionámos o carro. Não, desta vez não é a praia, Daniel. Desta vez é melhor. Desta vez é Fátima!

Depois destes tempos tão duros espiritualmente, peregrinar a Fátima refresca a alma como poucas outras coisas. Ainda que o sol queime, ainda que o creme solar não seja suficiente para evitar cores mais vivas nas caras e nos braços expostos de todos: nota-se bem que fomos a Fátima! Estamos vermelhos que nem morangos. O fogo interior precisa de transbordar!

Ainda que a sede aperte.

“Lembras-te como os pastorinhos passavam dias inteiros sem beber, no pico do calor de agosto?”

“Seria possível…”

Fátima é azul e branco, Nossa Senhora por toda a parte. E Jesus dado em alimento, ali repartido no Pão sagrado, um pouco por todo o recinto. Emocionei-me com o esforço que vi muita gente fazer para descobrir a melhor forma de acolher Jesus em suas mãos, sem O perder, sem O magoar. Desajeitadamente, a máscara a atrapalhar, faziam-no com amor. E a mensagem da missa do dia de hoje era essa mesma: “Acolhe-Me! Ama-Me! Assim, sem receio, como só tu sabes fazer!”

“Mãe, quando tens Jesus na concha das mãos, em que é que pensas?” Pergunta a Lúcia, mais tarde. E sem me dar tempo de responder, continua: “Eu penso num bebé pequenino, e quero acarinhar, beijar… Comer de beijos.”

Também eu era desajeitada, a primeira vez que peguei num bebé meu ao colo. Mas ele não se importou.

Nunca fui capaz de conter as lágrimas durante a procissão do adeus, mesmo quando apenas a acompanho pela televisão. Hoje deixei-as jorrar, felizes, emocionadas, transparentes, finalmente ali tão perto. Sem ecrãs.

Avé, ó Mãe!

Missa, Terço, Confissões, Via Sacra. Quando se faz um retiro familiar, é preciso que seja intenso.

Brincadeiras. Amizade. Conversas recuperadas, sorrisos sem máscaras, olhares brilhantes.

Não há filas para os confessionários, a nenhuma hora do dia (o Francisco e a Clarinha foram primeiro, depois fomos nós). Ainda que só estejam dois ou três sacerdotes a confessar. Já tinha ouvido dizer que os confessionários têm estado muito vazios, é verdade, nem parece que estivemos privados do sacramento da reconciliação durante tanto tempo…

A capela do Santíssimo também não teria mais que cinco, seis pessoas.

O único lugar verdadeiramente cheio era em redor das velas.

Sinais dos tempos? Ou será que os católicos ainda não entenderam a mensagem de Fátima? Arrependimento, adoração, Eucaristia… Fará sentido, ir a Fátima sem comungar, sem adorar, sem nos reconciliarmos com Deus? Perguntas que as catequeses precisam urgentemente responder.

Fátima. O encontro com a Mãe e com Jesus. Por detrás da Capelinha, os dois pedidos de Nossa Senhora gravados em letras grandes:

Não ofendam mais a Nosso Senhor, que já está muito ofendido.

Rezem o Terço todos os dias.

Regressámos a casa ao fim da tarde, saciados com os sacramentos e a oração, o piquenique e a partilha, o sacrifício e a amizade.

Terminámos, como todos os dias, aqui na sala a cantar e a dançar. Porque mesmo que tenhamos feito todas as orações possíveis fora de casa, não há deitar sem agradecer, louvar, partilhar em voz alta a nossa intensa alegria, às vezes com muitas gargalhadas pelo meio (e sim, sem perder o espírito orante). Nem o Daniel se deitava antes de dançar um bom bocado ali connosco! “Se queres que Jesus cresça, faz-te muito pequenino”, começa ele a fazer os gestos. E nós imitamo-lo, claro, pequeninos como ele.

Fátima. Foi em Fátima que, há quase vinte e quatro anos atrás, o Niall e eu rezámos, na festa do nosso matrimónio:

Obrigado, meu Deus, porque nos criaste!

Obrigada, meu Deus, por Fátima!

Ámen!

 

 

 

 

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