Sábado amanheceu quente, seco, luminoso. Com os vagares próprios de quem não tem planos para o dia, nestes tempos de confinamento, demorei-me a conversar por whatsapp com uma amiga, a falar ao telefone com a minha mãe e, aos bocadinhos, ia fazendo a lida da casa. Eis senão quando estas duas criaturas me apareceram na cozinha, oferecendo-me uma visão pouco comum:
“Mas o que se passa, meninos?” Perguntei, surpreendida. Quase ao mesmo tempo, ouço o Niall aos gritos, na garagem:
“Quem decidiu abrir a caixa com os equipamentos da praia e do rio, os sapatos de água, as redes de camarões, as barbatanas, e deixou tudo espalhado no chão? Mas o que pensam que estão a fazer?”
Os meninos tinham a resposta pronta:
“No fundo da rua, ao pé das ovelhas, há um ribeirinho. Nós estamos preparados para ir lá tomar banho.”
O Niall entrou nesse instante na cozinha. Entreolhámo-nos.
“Bem”, atalhei, “parece que pouco há a fazer. O facto está praticamente consumado. Vamos lá!”
E foi assim que começou o fim-de-semana mais feliz do confinamento: na ribeirinha ao fundo da rua – eu sei que a água tem alguns problemas de vez em quando, muito de vez em quando, devido a descargas ilegais, mas pronto, vamos estando atentos – os meninos fizeram de conta que era verão e que está tudo bem:
A alegria, ao anoitecer, era tanta, que decidimos: amanhã, Dia da Mãe, vamos fazer um piquenique aqui muito pertinho, pois não podemos, infelizmente, visitar a avó, que vive noutro concelho.
Depois da nossa celebração da Palavra familiar, e depois do Francisco e a Clarinha acabarem alguns trabalhos urgentes, lá fomos nós, três horinhas de felicidade no meio da natureza. Bendito seja o Senhor!
Chegámos a casa felizes e cansados, com aquele cansaço bom que há muito tempo não experimentávamos, embrulhados, como temos estado, em cansaços menos agradáveis. Há quem fique realmente tão exausto, que nem saiba bem o que lhe está a acontecer:
A Clarinha e o Niall foram para a cozinha fazer o jantar-surpresa que tinham planeado. O Francisco regressou ao escritório para se preparar para o teste online do dia seguinte. Peguei no Daniel, a dormir, e deitei-o sobre o sofá, onde me sentei para contar mais um capítulo de “Heidi” à Sara. Chegou, por fim, a hora do jantar, que estava absolutamente delicioso.
Estávamos quase, quase a terminar o dia, na sala, no meio de canções, orações partilhadas e o Terço… A Sara já dormitava no sofá, mas o Daniel, depois da sesta tardia, ainda estava acordado. A porta aberta da sala trazia para dentro o som dos grilos, das cigarras, das rãs, uma orquestra imensa que enchia a noite. Não resisti:
“E se, para terminar o dia, fôssemos dar um passeio – mais um – até ao fim da rua?”
Ena, que animação! O Francisco e a Lúcia calçaram patins, o António foi buscar o monociclo, o David e a Sara montaram as suas bicicletas, o Daniel sentou-se na cadeirinha, com a Clarinha a empurrar, o Niall e eu demos as mãos e lá fomos nós. Parecia que íamos numa longa expedição, tal a excitação e o tempo que levaram todos a buscar os objetos necessários, entre patins e bicicletas. Mas não há nada que nos dê maior prazer que estas pequenas e singelas expedições familiares.
A noite estava quente, a lua brilhava no céu, a primavera enchia-nos os ouvidos de sons felizes. Mas não estávamos à espera da visão que nos ia ser oferecida: se o céu estava inundado de estrelas, os campos estavam inundados de pirilampos.
“Olha, mãe, os arbustos parecem árvores de natal a cintilar!” Exclamavam os meninos. Eu não sabia se estava rodeada de estrelas se de pirilampos, se caminhava no céu ou na terra… Um oásis de felicidade, no meio dos dias estranhos, difíceis, conflituosos e cansativos que temos vivido.
Nem sempre sinto a energia para o dizer, mas desta vez, enquanto caminhava, as lágrimas fáceis a chegar-me aos olhos, repetia a oração com que iniciámos a nossa vida familiar, há vinte e três anos, que escrevemos em grandes letras num cartaz na capelinha da nossa celebração, e que está inscrita no túmulo do Tomás. É a oração que Santa Clara rezou, momentos antes de morrer:
Obrigada, meu Deus, porque me criaste!
A essência da felicidade, os outros e o Amor… foi assim que Deus nos sonhou!
beijinhos!
Que bom!
Como a Teresa sempre diz: “Deus nunca se deixa vencer em generosidade!” 😉
Perdoem me a franqueza mas ao ler o vosso testemunho fiquei a roer as unhas de inveja 🙂 ,por não morar no campo ,no tempo em que vivemos e uma outra liberdade e vontade de viver diferente do stress cansativo da cidade mesmo no tempo que agora vivemos .existe outro encanto.acho que no campo estamos mais em comunhão com Deus ,não sei pode ser parvoíce minha…obrigado pela vossa lufada de ar fresco com o vosso testemunho
Que bom! Fiquei feliz pela vossa felicidade! 🙂 Deus é mesmo generoso!
Pertencendo a minha família a uma realidade emocional/espiritual totalmente diferente, temos feito caminhadas diárias, coisa de que não tenho memória. E tem sido bom reencontrarmo nos, ainda que sempre tenhamos vivido juntos.
Saúde para todos e bem hajam