Em Caná da Galileia...


Oração e sacrifício

No sábado, na catequese, os meninos mais pequeninos – o grupo dos seis aninhos – representaram a história dos três pastorinhos. Não a história das aparições em si, que já tinha sido tratada, mas a forma como os pastorinhos – de sete, nove e dez anos – responderam à mensagem da “Senhora Mais Brilhante do que o Sol”, iniciando uma vida de profunda oração e de intenso sacrifício.

“Quando o narrador disser a oração do Anjo, vocês ajoelham-se e colocam a cabeça no chão, em oração”, expliquei aos três pequeninos, durante o ensaio. Eles ficaram muito surpreendidos: rezar com a cabeça no chão?

“O chão está frio!” Disse-me a “Lúcia”. Aconselhei-os então a ajoelhar sobre o tapete, em frente do altar, para ficarem mais confortáveis.

Conforto que os três pastorinhos reais não tiveram, ajoelhando e prostrando-se nas pedras e nas silvas dos Valinhos…

Cá em casa, quando chega a hora da oração familiar, é normal os meus filhos procurarem as posições mais confortáveis para rezar. Espojados nos sofás, de pernas cruzadas, ou até deitados sobre as almofadas dos sofás, meio adormecidos, eles tentam a sua sorte… Então, o pai ou eu ralhamos um bocadinho e encorajamos: “Costas direitas para falar com Deus, como dizia a Madre Teresa de Calcutá!” “De pé ou de joelhos para o Shemá!” Eles refilam sempre, e é nessa altura que lhes falo dos pastorinhos e da forma como rezavam, prostrados no chão duro.

Não se trata de uma moda antiquada, nem se trata de uma exigência que, se levada ao extremo, pode ter precisamente o efeito contrário do pretendido. Trata-se de outra coisa: trata-se de encontrar um equilíbrio entre o conforto e o sacrifício, um equilíbrio que permita ao espírito elevar-se das coisas terrenas e mergulhar no Céu. Porque se estamos demasiado confortáveis, bem recostados nos nossos sofás, não seremos capazes de dar a Deus o que é de Deus, de Lhe dar tudo, de Lhe dar até doer (quando não dói, só estamos a dar as sobras…). Claro que, se o sacrifício é demasiado, também não nos conseguimos concentrar na oração. É preciso o chamado “meio-termo”, ou “bom senso”, tão esquecidos hoje em dia.

Cá em casa procuramos então estar de pé para cantar, louvar e agradecer; estar confortavelmente sentados nos sofás para escutar a Palavra e conversar sobre ela, bem como para rezar quatro mistérios do terço (a Sara, com quatro anos, tem direito a adormecer ao colo…); ajoelhar para o último mistério e as últimas orações.

Será preciso obrigar as crianças, ralhar e impor? Não. Queremos que a oração seja muito alegre! Basta contar-lhes as histórias dos santos que, pequeninos como eles, assim fizeram com grande coragem. Experimentem e vejam como tenho razão! Não é precisamente para nos servir de modelo e estímulo que a Igreja declara santos alguns irmãos que nos precederam no caminho de Casa? Quando falo aos meus filhos da oração dos pastorinhos, há sempre um ou dois meninos que querem rezar de joelhos. E quando lhes contei que a Lúcia, até ao fim da vida, procurou rezar não só de joelhos mas de braços em cruz, sempre que ninguém a observava, logo a nossa Lúcia ajoelhou e abriu os braços, durante o espaço de uma Ave-Maria…

Pouco a pouco, vamos aprendendo – eles e nós – a unir a oração ao sacrifício. Antiquado? Não: urgente. Cada vez mais urgente. O mundo caminha a passos largos para o abismo. A toda a hora recebo, no mail, pedidos de oração de famílias dilaceradas pelo risco de divórcio e por outros graves problemas. Há tanto para pedir, tanto para reparar, tanto para oferecer! Não podemos nós, Famílias de Caná, dar um bocadinho mais a Deus?…

Oferecei constantemente ao Altíssimo orações e sacrifícios

Assim falou o Anjo de Portugal aos três pastorinhos. Aliás, assim nos falou o Anjo de Portugal. Porque a mensagem não foi só para eles. Foi para nós. E se ela foi confiada a três crianças, é porque as nossas crianças também têm capacidade para a viver…

2 Comments

  1. Olá Teresa!!
    No fundo é rezar com o corpo! 🙂
    Uma pergunta: o que é o Shemá? Nunca ouvi esse termo …
    Obrigada e beijinho

    • Célia, vá a Famílias de Caná – Espiritualidade – Oração Familiar (na barra lilás deste site). Aí encontra a resposta! E reze connosco! Bj

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