Os Acampamentos de Caná são férias, mas férias com Deus pelo meio. Estamos acampados um pouco ao jeito do povo de Israel no deserto: por entre as nossas tendas, caminha o Senhor, qual coluna de nuvem ou de fogo. E como o povo de Israel, também nós temos no centro do acampamento a “Tenda da Reunião”, o Canto de Caná, a que os mais pequeninos chamavam “aquela cabana de madeira”.
Foi pois em ritmo bem marcado de oração que vivemos estes dias. No centro, a missa diária. E que missa! Crianças, bebés, adolescentes, pais e mães, famílias completas diante do Senhor…
Habituadas, desde o nascimento, a participar na Eucaristia, as crianças de Caná sentem-se em casa e são capazes de momentos curtos de atenção. Exigir que mantenham os tempos de atenção, silêncio ou quietude de um adulto é um ato de discriminação. Deus, diz uma expressão que não me canso de repetir, não tem netos, só tem filhos. As nossas crianças e as crianças do mundo inteiro têm tanto direito a estar na Eucaristia como os adultos a quem, em geral, elas incomodam um bocadinho! Todos são filhos do mesmo Pai, e nada dá maior alegria a este Pai que acolher-nos a todos, pequenos e grandes, na sua casa.
Uma das coisas que geralmente os cristãos procuram, quando vão a um retiro, é um certo “descanso espiritual”, uma solidão interior que lhes permita um encontro profundo com o Senhor. Assim, estou convencida de que muitas pessoas não vêm aos nossos encontros porque têm dificuldade em acreditar que possamos ter este “descanso” e esta “solidão” sem nunca largarmos os filhos, sem nunca os entregarmos a outros para que cuidem deles enquanto fazemos a nossa oração. Nas Famílias de Caná, eles rezam connosco, brincando ali por perto, ou mesmo subindo connosco ao ambão:
“Alguém abra esta porta! ALGUÉM ABRA ESTA PORTA!” Gritava o pequenino Matias, desejoso de entrar no santuário para rezar com os seus pais. A porta de qualquer igreja é muito alta, muito grande, muito pesada, e se não formos nós, os pais, a abrir aos nossos filhos a Porta que realmente interessa, quem o fará?
Depois da missa na manhã de sábado, tivemos ainda quarenta e cinco minutos de adoração silenciosa, intercalada com um ou outro cântico de meditação. Os meninos também fizeram adoração, entrando e saindo do santuário. De novo, somos nós, os pais, que nas Famílias de Caná os iniciamos neste encontro silencioso com o Senhor e os ajudamos a encontrar as palavras para Lhe falar e os gestos para O adorar:
E não, ninguém cuida deles por nós, enquanto rezamos! Este cuidado permanente com os nossos não parece, contudo, prejudicar a oração de ninguém…
Durante o tempo de adoração, três sacerdotes atenderam em Confissão pequenos e grandes. As crianças tinham pressa em se confessar, e conseguiram ser as primeiras a fazê-lo! Aprendamos com elas a ser simples, a enumerar pecados e não defeitos, a nada esconder ao confessor. Bem ocupados estiveram, os nossos queridos sacerdotes salesianos!
Nos três dias do Acampamento, rezámos o Terço. Tivemos assim oportunidade de contar três “histórias” de Jesus, como os pequeninos gostam de dizer: a história do seu Nascimento, a história da sua Paixão, e a história da sua Ressurreição. Contámo-las ali, no Canto de Caná, terços na mão, imagens ilustrativas dos vários mistérios misturadas no chão.
À vez, os mais novos escolhiam, de entre as imagens, a que correspondia ao mistério a rezar, e penduravam-na numa corda bem esticada para o efeito. Assim, com um jogo divertido, o Terço passou num instante!
Pelo meio, cantámos, dançámos, batemos palmas, enfim, louvámos o Senhor com o nosso corpo e o nosso espírito, com a alegria dos filhos de Deus.
O coração, o espírito e a mente são essenciais para mediar o nosso encontro com Deus. Mas o nosso corpo também o é! O povo judeu sabia-o, e desde sempre aprendeu a rezar com o corpo. Por isso, os salmos convidam: batam palmas, elevem as mãos, dancem os novos e os velhos!
Agora, é preciso continuar a rezar, em família e na paróquia, na simplicidade da Eucaristia dominical, no caos organizado da nossa oração familiar, na novidade de uma igreja nova ou de uma peregrinação de férias!
É preciso continuar a rezar, sabendo que Deus nos quer aqui mesmo onde nos plantou, com o cônjuge que é o nosso, com os filhos que são os nossos, ou quem sabe até, com a dor de não os ter ou de os ver partir para o Céu, que é a nossa também. Mais do que abstrairmo-nos momentaneamente de uma família imperfeita para nos encontrarmos com Deus num retiro perfeito, precisamos de mergulhar nela e de a contemplar, de a aceitar, de a amar e de a viver como caminho de santidade. Ficaremos extasiados com a visão que nos será oferecida…
Hoje, dia da Transfiguração do Senhor, deixemos que Ele caminhe por entre as nossas Tendas e transfigure a família que nos ofereceu!
“Mais do que abstrairmo-nos momentaneamente de uma família imperfeita para nos encontrarmos com Deus num retiro perfeito…” – é isto! A epiderme espiritual! É isto! Obrigada Teresa 😉