Catequese, domingo de manhã, depois da missa das dez. Diante de mim, um grupo de meninos e meninas de onze e doze anos. Hoje falamos sobre os Dez Mandamentos, a propósito da leitura da missa desta manhã, e sobre o bezerro de ouro e os nossos “bezerros de ouro”, a partir do texto de Os Mistérios da Fé (já têm os três livros desta coleção, que eu escrevi?).
“Para entendermos bem o que aconteceu a Moisés sobre o monte Sinai, pensem nos montes a que já subiram, nos rochedos que já escalaram, naquela sensação do vento a fustigar-vos o rosto, do esforço para agarrar a rocha certa e não escorregar, de…”
“Montes? Rochedos? Mas, Teresa, quem é que anda por aí a subir a montanhas?” Um coro de vozes espantadas interrompe-me o pensamento, que já voava.
Quem está espantada sou eu: “Vocês nunca subiram a um monte? Nunca escalaram rochas? A sério?”
Quase todos abanam a cabeça negativamente, surpreendidos. Olho para estes meninos da minha aldeia ou das aldeias vizinhas, com pais atentos à sua educação e esforçando-se por fazer o seu melhor, meninos que nem sequer são meninos da grande cidade, e fico sem saber o que pensar. Acho quase impossível que se chegue ao fim da infância sem nunca se ter subido a um monte – a pé, não de carro – e imagino que a maior parte o tenha feito. Mas concluo que não o fizeram vezes suficientes, pois não esqueceriam a experiência.
“Então, meus amigos, eis o trabalho de casa desta catequese: assim que descerem as escadas e encontrarem os vossos pais, vão dizer-lhes que, no próximo fim-de-semana de sol, querem subir a um monte. A um monte qualquer, aqui perto. A uma hora de distância têm o Caramulinho, por exemplo, mas muito antes disso têm vários outros montes. De acordo? Depois, durante a subida, quando à vossa volta tudo for silêncio, azul, infinito, pensem em Moisés e no seu encontro com o Senhor; pensem em Jesus e nas suas orações solitárias sobre os montes; pensem em Deus…”
O grupo de meninos que tenho diante de mim olha-me cada vez mais espantado. Um deles avança: “Teresa, ao fim-de-semana eu gosto de jogar playstation…”
Chego a casa com uma sensação de urgência que nada consegue conter. É urgente reatar o contacto com a Criação, para nos descobrirmos verdadeiramente criaturas de Deus; é urgente aprender a escutar os sons da natureza, porque neles se escuta a voz de Deus; é urgente desligar o televisor, as consolas e os telemóveis, “bezerros de ouro” dos nossos tempos, para podermos “estabelecer ligação” com o Senhor, que fala no silêncio.
E é urgente brincar. Em família. Num qualquer recanto da natureza. Subir a um monte quando se tem cinco, oito, dez, doze ou quinze anos devia ser obrigatório. Mais obrigatório que qualquer exame escolar…
Vamos a isso?

Manos Power no Gerês, agosto 2016
Muito bem, recado dado…. Catequese para todos…. Bjs
Oh Teresa,
que espanto, pois nós aqui da “cidade”, ao fim de semana fazemos de tudo para saírmos para a rua,jardins,praia, ar livre. A luz do céu…
Parece que andamos trocados:)
Nós Jesus!