Em Caná da Galileia...


Portas Santas

Cancelar – adiar, melhor dizendo – um retiro por falta de participantes é, para nós, uma enorme frustração. Foi a segunda vez que nos aconteceu, e dói sempre muito. Precisamos então de recordar que somos servos inúteis, e que a nossa vocação é semear sem olhar a custos e sem olhar a frutos. O que Deus quer, para nós está sempre bem. “Tu queres, Jesus? Então eu também quero”, dizia a jovem beata Chiara Badano, e nós gostamos de repetir com ela esta entrega contínua e alegre à vontade de Deus.

Mas fica-nos sempre na alma a amarga sensação de que, se o retiro foi cancelado, não foi por falta de cuidado de Deus, mas nosso. O mais certo é não termos rezado o suficiente, não termos sido suficientemente santos. Deus só faz milagres se O deixarmos fazer! Assim, cancelar um retiro é, para nós, fonte de reflexão profunda, de humilhação e de confissão de pecados. Numa palavra: fonte de conversão. E se o cancelamento de um retiro provocar em nós este movimento de conversão, já valeu!

“Venham lanchar connosco”, sugerimos nós aqui no site às famílias que se inscreveram. Uma delas aceitou o desafio e, confiante que a estrela de Belém, nestas alturas de Natal, iria iluminar o seu caminho até nossa casa, fez-se à estrada. Nós aguardávamos, impacientes, esta família desejosa de nos conhecer, seguidora do blogue e do site desde o verão e cheia de entusiasmo com as nossas singelas sugestões de santidade familiar.

Eram quatro e meia da tarde quando chegaram, com uma adorável menina de dois anos que fez o encanto da Sara (“Tu nunca mais tens um bebé!” Queixa-se ela às vezes, tão grande com quatro anos…) e uma boa fogaça para ajudar no lanche. A Clarinha tinha preparado um delicioso bolo de chocolate, e o Niall fez chá irlandês. Foi assim à volta da mesa que fizemos amizade e partilhámos história após história, rindo à gargalhada. Depois, já velhos amigos, juntámo-nos no Canto de Oração Familiar para rezarmos em família de famílias, sem pressa, com tudo a que temos direito nestes tempos de Advento: cânticos e canções dançadas, Árvore de Jessé, estrelinha no céu do presépio pelas pequenas renúncias do dia, leituras da missa diária, intenções da Rede de Oração do nosso site, terço meditado. Os nossos visitantes rezaram connosco com naturalidade, como se sempre tivéssemos rezado juntos. Foi a sua pequenina que colocou o símbolo na Árvore de Jessé, e no céu do presépio brilha também a sua estrelinha. Despedimo-nos com um alegre “até breve” ao som da consagração a Nossa Senhora Auxiliadora, Mãe de Caná.

No domingo à noite, ao regressar de Cascais, depois do batismo do Inácio, o Niall e eu conversávamos sobre este dom de amizade que o Senhor nos tem oferecido de graça, recompensando a cem por um a nossa pobre entrega. Foi de uma forma muito semelhante que começou e se aprofundou a nossa amizade com as Famílias de Caná que, hoje, consideramos da nossa família – entre elas, os nossos compadres: partilha através do blogue, participação nos nossos retiros e encontros, visita e oração em nossa casa.

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O Ano Santo terminou, as catedrais e os santuários fecharam as suas portas santas. Terá a misericórdia de Deus ficado de fora, ao frio de inverno? De forma nenhuma! Se Deus permitiu que se fechassem as portas santas das catedrais, foi porque desejava abrir portas santas ainda mais necessárias: as portas santas das nossas casas, das nossas famílias, dos nossos corações.

Antes de nos chamar a fazer retiros, palestras e encontros, o Senhor chamou-nos a abrir a porta da nossa família, testemunhando o seu amor misericordioso na rotina alegre que vivemos em cada dia. Podemos cancelar ou adiar retiros, mas nunca, nunca iremos fechar a porta da nossa casa a quem quiser partilhar connosco este dom de Caná. Porque mais importante de tudo o que possamos dizer, é aquilo que vivemos. João descreve assim o seu encontro com Jesus:

‘Mestre, onde moras?’  Ele respondeu: ‘Vinde e vede!’ Eles foram, viram onde morava e ficaram com Ele esse dia. (Jo 1, 39)

A amizade que nasceu daquele encontro nunca mais teve fim. Como as amizades que têm nascido destes encontros na simplicidade da nossa casa. Porque no centro, sempre e apenas, está Jesus, o Senhor.

O retiro sobre Santidade Familiar foi adiado até perto da quaresma, se Deus quiser. Entretanto, a porta da nossa casa está aberta. Vinde e vede!

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3 Comments

  1. Pilar Pereira

    Será que também nós um dia vos visitaremos? Vontade não me falta! 🙂

    • Ena, seria tão giro!!! Melhor: será tão giro 🙂 Sejam bem vindos!

      • Pilar Pereira

        Teresa, vontade não me falta, o problema está no “me”. No entanto, recordo-me que houve um retiro a que fomos depois de muita oração por parte das tuas crianças mais novas (lembras-te? ;-)), pelo que nada é impossível!

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