Foi um magnífico domingo da Ascensão, com direito a uma subida à montanha do Bussaco – não da Galileia -, e muita brincadeira nos seus riachos e esconderijos, subindo e descendo por entre árvores e cascatas. Pensávamos que tínhamos escolhido um lugar recatado para um piquenique com amigos, mas enganámo-nos: meio mundo pensou certamente o mesmo, e o Bussaco transbordava de vida, de gente e de alegria. Os portugueses são tão bons a desconfinar como foram a confinar, está visto!
(Se derem por falta de alguns Power e de alguns Miranda Santos nestas fotos, é natural, pois nós também demos por falta deles durante todo o dia. Não se preocupem, foi uma espécie de jogo das escondidas alargado, os pais à procura dos filhos, os filhos à procura dos pais, os irmãos à procura dos irmãos, os amigos à procura dos amigos, todos por entre árvores e cascatas e pedras e caminhos, mas todos acabaram por aparecer antes de regressarmos a casa 🙂 )
Mas o melhor deste fim-de-semana não foi sequer este belíssimo piquenique – e olhem que é difícil haver melhor que um belo piquenique! – O melhor mesmo, com sabor a Céu, foi a celebração do sacramento da Reconciliação, na tarde de sábado, seguido da Eucaristia, ambos numa paróquia vizinha da nossa.
“Senhor padre, tem tempo para confessar oito pecadores?” Perguntei na véspera, por telefone. Ele respondeu prontamente: “Venham”. E nós fomos. Apesar das máscaras que nos cobriam o rosto, pudemos então desmascarar o nosso interior diante do Senhor, que vê no oculto. E como sabe bem, tirar a máscara de vez em quando!
À noite, o sentimento em nossa casa era de festa. E assim permaneceu durante todo o domingo, que para além de ser a solenidade da Ascensão, era dia de Nossa Senhora Auxiliadora, padroeira da nossa paróquia e das Famílias de Caná. Não é sempre Ela quem tudo nos proporciona de bom?
O sacramento da reconciliação nunca esteve suspenso, tendo a CEP simplesmente dado orientações para que acontecesse apenas onde fosse possível assegurar as condições de higiene exigidas por lei. Na sua comunicação mais recente, de 8 de maio, a CEP limita-se a dizer:
“5. Sacramento da Reconciliação
58. Na celebração do Sacramento da Reconciliação, para além das medidas gerais, deve escolher-se um espaço amplo que permita manter o distanciamento entre confessor e penitente, que usarão máscara, sem comprometer a confidencialidade e o inviolável sigilo sacramental.
59. Ao terminar, aconselha-se reiterar a higiene das mãos e a limpeza das superfícies utilizadas.”
No entanto, em muitas paróquias, como por exemplo na minha, a confissão deixou de ser possível durante todo o tempo pascal, pelas mais variadas razões, que não vale a pena esmiuçar ou desenterrar agora. Muitos católicos ficaram impedidos de se confessarem pela Páscoa, como sempre foi norma da Igreja, e continuam sem se confessarem, até hoje. No nosso caso, até sábado à tarde. Para quem estava acostumado a confissão quinzenal, foi uma experiência muito difícil.
Talvez os vossos párocos já tenham publicitado o horário de confissões novamente, talvez já vos tenham relembrado que não há – a não ser para os doentes ou pessoas de risco – qualquer razão para que celebremos o Pentecostes sem antes celebrarmos a Reconciliação com o Senhor. Bem hajam esses sacerdotes!
Ou talvez os vossos párocos estejam tão ocupados com a marcação dos bancos da igreja, a higienização do lugar, a definição de percursos de entrada e saída, a redefinição de horários da Eucaristia, nos casos em que será necessário aumentar o seu número, etc, que não se tenham lembrado deste ponto absolutamente essencial para nós. Também eles sentiram, como alguns de nós, o chão fugir-lhes debaixo dos pés e a cabeça a rodopiar, naquele triste 13 de março passado, e também eles experimentam a solidão destes tempos de ausência de comunidade eucarística, pelo que não há por que os censurar, nem muito menos, julgar!
Telefonemos então, com amizade, ao nosso pároco, contactemo-lo pelas redes sociais, vamos ao seu encontro, ou, se preciso for, vamos a uma paróquia vizinha. Ponhamos humildemente todas as máscaras necessárias, a fim de nos desmascararmos finalmente diante do Senhor Jesus, reatando a amizade quebrada pelos nossos pecados! O sacramento do Perdão terá, então, o sabor de um reencontro de grandes amigos…
Por aqui aconteceu exactamente o mesmo: achávamos que íamos passar o domingo longe de tudo e todos numa cascata no meio do nada e afinal todo o mundo lembrou dela!! Ahah mas há sempre caminho alternativo…e demos com uma ribeira algures também em nenhures e por ali ficámos a dar graças a Deus por tantas delicadezas e surpresas que nos faz!
Encontrámos aqui também quem não ande só ocupado com as distâncias e os bancos e as transmissões… então no domingo passado também conseguimos um belo reencontro com o perdão do Senhor seguido de Eucaristia! Belíssimo! O que não faltou também este fim de semana! 😊
Espero que as pessoas consigam desconfinar tão bem das missas virtuais como desconfinaram do isolamento em casa!