Uma das coisas mais importantes num retiro é a fidelidade a um horário: quem está em retiro não tem “tempos mortos”, pois todos os momentos são peças de um único puzzle.
Uma das coisas mais importantes num encontro de amigos é esquecer-se dos horários: os amigos precisam de saber que são escutados sem pressa nem relógio.
Podemos então fazer de um dia de retiro um encontro de amigos, e de um encontro de amigos um dia de retiro? Sim, podemos. Não correremos o risco de ganhar um e perder o outro, ou vice-versa? Sim, corremos. Sobretudo se esse encontro de amigos for um encontro de famílias, em que adultos e crianças estão desejosos de se reencontrar, em que todos têm muitas coisas a dizer e em que o dia parece perfeito para simplesmente “deixar andar”. Por isso importa meditar um bocadinho nesta forma de fazer retiro.
Costumamos usar a palavra “retiro” para os encontros Famílias de Caná. Eu sei que esta palavra incomoda muita gente: retiro é sinónimo de silêncio, ordem, horário. As pessoas habituadas a retiros imaginam que nestes encontros entre famílias aconteça tudo menos um retiro e, por isso, não lhes dão crédito; as pessoas habituadas a encontros de amigos, com conversa e gargalhadas e com horror ao silêncio, imaginam que estes retiros sejam tudo menos um encontro alegre e agradável e, por isso, não têm interesse em participar.
Uma das marcas das Famílias de Caná desde o início tem sido esta habilidade para conjugar um retiro profundo, cheio de oração e vivência sacramental, com um encontro de amigos jovial, cheio de gargalhadas e partilha. Quem vem a um Retiro Famílias de Caná, seja ele um retiro de Natal ou um acampamento de verão, chega ao fim e pergunta-se: como foi que encaixámos tanta oração no meio de tanta brincadeira?
Esta nossa “marca” é realmente especial, e sentimo-la sempre. O que é que permite esta conjugação da festa e do silêncio, do encontro e da oração?
Em primeiro lugar, é fundamental a fidelidade a um horário, apeteça ou não, em cada momento, realizar a atividade proposta, que tanto pode ser um jogo entre famílias como meia-hora de adoração. É, para isso, importante que cada família se responsabilize por reunir os seus “pintaínhos” e os ajude a obedecer; mas é igualmente importante que cada adulto saiba interromper prontamente a conversa e se disponha a seguir as instruções dadas. Para um pai ou uma mãe, pode ser muito difícil deixar um bebé a chorar ao colo do animador responsável pelas crianças para seguir prontamente até ao local do ensinamento. Aqui requer-se muita confiança na pessoa que cuida dos nossos filhos (confiando também que, se surgirem problemas, ela nos chamará). Para mim, “mãe-galinha”, sempre foi difícil este “deixar ir”. Mas é absolutamente indispensável na construção de um ambiente de retiro familiar. Vale a pena o sacrifício! E a nossa experiência nestes retiros é que, dois minutos depois de o bebé ou criança pequena deixar de ver a mãe no horizonte, já está a rir à gargalhada. As mães de Famílias de Caná, treinadas nesta aventura, sabem-no bem.
Em segundo lugar, é preciso entender os tempos de jogos familiares como fazendo parte integrante e essencial do tempo de retiro. Nas Famílias de Caná, brincar é tão importante quanto rezar e a brincadeira familiar, cheia de risos e alegria, é uma das coisas mais sérias que fazemos. Nos nossos retiros também. Nem sempre é fácil, para um adulto, sair da sua zona de conforto e entrar num concurso de talentos em que ganha o que tiver a barriga maior, ou saltar à corda diante de crianças a rir à gargalhada. Se não entendermos a seriedade deste momento, corremos o risco de não lhe dar a devida importância, mantendo conversas paralelas enquanto os jogos acontecem. E quebra-se o encontro.
Por fim, há que entender o momento do piquenique como as religiosas de clausura entendem o seu “tempo de recreio”: esta não é tanto a hora do meu descanso, como a hora de servir, de dar, de amar. Esta é a hora de escutar o irmão, de nos sentarmos ao lado dos que conhecemos pior para quebrar o gelo, de partilhar não só o alimento, como tudo o que somos. Também este momento tem o seu horário, que é preciso cumprir à risca, para não corrermos o risco de perder a sua força na dinâmica de um retiro. O lema deve ser: rir, conversar e partilhar intensamente, sem pressa nem relógio – até ao momento em que o relógio nos manda mudar de atividade. Então, e agora com pressa, há que obedecer.
Fácil, tudo isto? Não. É preciso acertar ponteiros e limar arestas, trabalhar a pontualidade familiar e a obediência filial. Mas estamos no bom caminho, como o último retiro demonstrou. Queremos que este equilíbrio entre oração e brincadeira, entre retiro e encontro seja parte bem característica da cultura do nosso Movimento. Se isto for verdade para as primeiras Famílias de Caná, sê-lo-á certamente para as futuras.
Que a Mãe de Caná, que nas Bodas estava tão focada nos convivas como em Jesus, na festa como na vontade de Deus, nos ajude! Ámen.
É isso mesmo Teresa! O mais belo de cada encontro, retiro ou acampamento de Caná é que entre amigos verdadeiros que nos tornámos, rezamos com alegria ! No mesmo dia, brincamos, conversamos, fazemos adoração, temos a graça do sacramento da Reconciliação, temos Eucaristia e a Santa Missa, muita brincadeira, partilha e antes de sairmos do Santuário rezamos todos juntos o terço no Canto de Caná! Entramos no carro para voltar para casa e que mais podemos pedir? Um dia com o mais importante! Estar com Deus e com os irmãos! Sejam as crianças ou os adultos todos sentimos o tesouro que é fazermos parte das Famílias de Caná!
Acho esta característica uma das maiores graças do Movimento. Vive-se um espírito de amizade e fraternidade belíssimo em Comunhão com Aquele que nos guia. E, não tenho dúvida que para quem tem filhos é um apoio admirável para se sentirem Igreja. É muito bom o que vivemos e importantíssimo para unir a família e fortificar as famílias na sua missão evangelizadora. É uma grande graça ser Família de Caná! Um grande abraço a todos!
Obrigada por não nos deixarem adormecer no Jardim das Oliveiras!
As pequenas lutas são as mais difíceis. Já dou muito? Pois… Mas tem que ser um bocadinho mais… Bora lá!