Dia 22 de julho é dia de Santa Maria Madalena. Pela primeira vez na História, esta memória obrigatória passa a ser celebrada como Festa, e Maria Madalena é-nos proposta como Apóstola dos Apóstolos. Que dia memorável! Que grande honra para todos nós, simples cristãos, e especialmente para nós, mulheres cristãs!
Quem foi Maria Madalena? A pergunta ecoa pela História, e tanto os Evangelhos Apócrifos como os romancistas modernos fizeram e continuam a fazer toda a espécie de conjeturas. Terá sido a pecadora que, em casa do fariseu Simão, lavou os pés de Jesus com as suas lágrimas? Terá sido Maria, a irmã de Marta e Lázaro, que gostava de se sentar aos pés de Jesus para O escutar? A Igreja ocidental sempre associou estas três mulheres – Madalena, a prostituta anónima e Maria de Betânia -, celebrando-as numa única festa. Mas o mais certo é serem mesmo três mulheres distintas, pois Madalena, diz-nos o nome, seria originária de Magdala, não de Betânia, nem da cidade da Galileia onde a pecadora pública que visitou Simão era bem conhecida.
Mas afinal, nada disto importa. O Evangelho diz-nos pouca coisa sobre Madalena, e tomáramos nós que pudesse dizer essa pouca coisa sobre cada um de nós também. Ora vejamos:
Acompanhavam Jesus os Doze e algumas mulheres, que tinham sido curadas de espíritos malignos e de enfermidades: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demónios. (Lc 8, 1-2)
Maria Madalena era alguém muito doente, ou capaz de pecar gravemente. Habitavam-na sete demónios! E de todos eles, Jesus a libertou. Seremos nós habitados por mais demónios do que ela? Que nos impede de sermos também curados, profundamente curados, curados até à medula dos ossos, como Madalena? Grande mulher, para se deixar assim libertar por Jesus! Ele está tão perto de nós… Mas o medo impede-nos de Lhe abrir a porta para que venha, entre e expulse os demónios que nos habitam…
Madalena deixou-se libertar, e a partir daí, nunca mais deixou de seguir o Senhor. Tê-Lo-á seguido apenas durante a sua “carreira” de fama e ventura? Abramos agora o Evangelho de João:
Junto à Cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã de sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. (Jo 19, 25)
Outra grande lição de Madalena: é preciso seguir Jesus até ao fim, até à Cruz, e permanecer de pé diante dela, sem fugir, sem gritar, sem desfalecer, sem voltar atrás. Se assim fizermos, também nós conheceremos a alegria do túmulo vazio e experimentaremos no mais profundo da alma a visão do Ressuscitado, que nos chama pelo nome e nos envia em missão de evangelização:
Maria estava junto do túmulo a chorar. (…) Depois voltou-se para trás e viu Jesus, de pé, mas não se dava conta de que era Ele. E Jesus disse-lhe: «Mulher, porque choras? Quem procuras?» Ela, pensando que era o jardineiro, disse-lhe: «Senhor, se foste tu que O tiraste, diz-me onde O puseste, para que eu O vá buscar.» Disse-lhe Jesus: «Maria!» Ela, aproximando-se, exclamou em hebraico: «Raboni!» Que quer dizer: «Mestre!» Jesus disse-lhe: «Não me detenhas, pois ainda não subi para meu Pai. Vai ter com os meus irmãos e diz-lhes: ‘Subo para o meu Pai e vosso Pai, para o meu Deus e vosso Deus.’» Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos: «Vi o Senhor!» (Jo 20, 11-18)
Não sabemos ao certo quem era Maria Madalena, e certamente, do céu, ela sorri perante as nossas tentativas de adivinhação. Porque afinal, a ela, pouco importa o que nós pensamos: Jesus conhece-a e chama-a pelo nome – “Maria” – e nada mais importa!
Também a nós, Jesus trata pelo nome, e ninguém como Ele pronuncia o nosso nome desta forma, com este amor, com esta profundidade, com este conhecimento. Quem somos nós? Importará alguma coisa o que os outros digam que somos? Importa que Jesus nos trate pelo nome e nos envie em missão, apóstolos no meio do mundo.
Como Madalena. Como cada uma de nós, mães de Famílias de Caná, chamadas a testemunhar a nossa cura interior, chamadas a testemunhar a misericórdia do Senhor para connosco, chamadas a ficar de pé junto a toda a Cruz onde Jesus, hoje, esteja crucificado, chamadas a anunciar o seu amor até aos confins da Terra, começando pelos nossos “irmãos”, os da nossa casa. Se, no fim da vida, a História dissesse esta “pouca coisa” de cada um de nós, como seríamos felizes!
Santa Maria Madalena, rogai por nós!
A minha parte preferida da história da Ressurreição é quando Maria Madalena confunde Jesus com o jardineiro! Já não lhe bastava ser carpinteiro, ensinar a pescar e saber tanto de agricultura, também tinha de ser jardineiro!
“Apóstola dos Apóstolos”! A melhor descrição que já li desta grande santa! Mas a Igreja não a confunde com a irmã de Marta, pois Santa Maria de Betânia é celebrada conjuntamente com os seus irmãos, a 29 de junho (http://www.liturgia.pt/martirologio/elogio.php?data=2016-7-29)
Tem razão, Maria, a Igreja celebra Santa Maria de Betânia com os seus irmãos. Mas ao longo dos séculos, nos escritos dos santos e dos papas – a começar em Gregório Magno – as três mulheres foram confundidas numa só, especialmente porque há um episódio em que Maria de Betânia também unge os pés de Jesus pouco antes de Jesus morrer, e Jesus enaltece o seu gesto. Ora quem confundia a prostituta com Madalena, automaticamente passou também a confundir Maria de Betânia com a prostituta e, por extensão, Madalena. Isto nota-se imenso nos escritos dos santos, e não tanto no calendário oficial! Mas o importante mesmo, como diz, é Madalena ser Apóstola de Apóstolos – e não somos nós chamadas a sê-lo também, ao lado dos nossos sacerdotes? 🙂 Gostei desse detalhe de Jesus Jardineiro! Bjs
Segundo Ana Catarina Emmerich, Maria Madalena era a irmã mais nova de Lásaro e de Marta.
Diz-nos A.C.Emmerich que Madalena vivia uma vida dissipada em Magdala.
A elevação e nobreza dos ensinamentos de Jesus, a cuja pregação assistira fizeram-na ver o egoísmo e baixa sensualidade da gente que a rodeava.
As curas maravilhosas que Jesus operava e a maneira como Jesus se erguia contra os abusos dos fariseus cativaram o espírito de Madalena pela nova pregação.
Sim, Rogério, segundo Ana Catarina Emmerich é assim mesmo, mas a verdade é que as revelações místicas que foram acontecendo na Igreja ao longo da História não podem ser interpretadas como factuais. Quando o Senhor revela pedaços da sua vida através dos Santos, fá-lo como catequese, aliás, como também os evangelistas fizeram. Emmerich “viu” muita coisa que historicamente nunca poderia ter acontecido, e algumas das suas visões, especialmente relacionadas com o Antigo Testamento, são completamente impossíveis – o que não tira uma vírgula à sua santidade, ou à catequese que Jesus nos quer fazer através destas mesmas visões! Eu já tive longos momentos de meditação a partir de algumas visões de Emmerich, especialmente as relacionadas com a paixão de Jesus, e outros textos da vida pública de Jesus fazem-me também refletir, mas estou consciente de que poderá não ter sido assim… Como também o Evangelho não é um documento histórico, mas evangelizador. Mas muito, muito mais importante do que conhecer a veracidade dos factos (neste caso, quem foi Madalena) ou a realidade histórica, é aprofundar o amor a Jesus. Podemos ser grandes biblistas e sermos ao mesmo tempo grandes ateus… E podemos ser grandes santos sem nunca ter aprofundado o conhecimento bíblico factual. Como Madalena nos mostra, o importante é amar! Ab!