Todas as noites, iniciamos a nossa oração familiar da mesma forma que Jesus iniciava a sua:
Escuta, Israel!
É o famoso Shemá, que conduziu o povo de Deus até hoje. E este Israel chama-se Sara, ou Daniel, ou Clara, ou Francisco, ou Lúcia, ou António, ou David, ou Niall, ou Teresa. Escuta, filho! Escuta, mãe! Escuta, irmão! Escuta, família!
“Pai, importas-te de avisar que vais dizer esta oração?” Pedia outro dia a Lúcia. “É que é a minha oração preferida, mas geralmente já não vou a tempo de dizer Escuta, Israel, porque começas e nós só continuamos a partir daí. E eu gosto tanto de a rezar completa!”

Escuta!
Depois deste belíssimo desafio a que nos coloquemos em ato de escuta, isto é, de oração, segue-se o primado do amor, com dupla face: o amor a Deus – “Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” – e o amor ao próximo: “Amarás o próximo como a ti mesmo.” Assim ensinava o Levítico, como escutámos neste domingo. E assim confirmou Jesus, quando o escriba que O interrogou Lhe perguntou se estava a pensar bem: “Faz isto e terás a vida” (Lc 10, 28), o mesmo é dizer, “faz isto e serás feliz”, porque a felicidade é a vida eterna. Com esta certeza, concluímos a nossa oração inicial.
Esta oração contém, de facto, o resumo dos Dez Mandamentos e de toda a Lei do Antigo Testamento – amar a Deus e ao próximo – e é repetidamente afirmada no Novo Testamento: “Toda a Lei se resume numa só palavra: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl 5, 14), diz Paulo. E Tiago afirma: “Se cumpris a lei régia conforme a Escritura – amarás o próximo como a ti mesmo – estais agindo bem.” (Tg 2, 8)

Nossa Senhora lendo as Escrituras ao Menino Jesus, venerada na Universidad La Sabana, Bogotá, Colômbia (onde o Niall esteve uma semana em trabalho)
Mas esta oração ainda não é plenamente cristã, pois ainda não contém a novidade que Jesus nos veio trazer. Porque todas as religiões defendem o amor a Deus e ao próximo (embora o conceito de próximo seja diferente do cristão, que se estende a todas as periferias humanas), mas só a religião cristã contém o “mandamento novo” que Jesus nos deu:
Dou-vos um mandamento novo: amai-vos uns aos outros como Eu vos amei. (Jo 13, 34)
Os cristãos não são apenas chamados a amar o próximo como a si mesmos, mas como Jesus nos amou a todos. E sabemos bem como Ele nos amou: até ao fim, até à morte, e morte de Cruz.
O verbo amar está aqui conjugado no passado, porque embora este amor seja contínuo, constante, eterno, ele se concretizou e realizou na História, suspenso daquela cruz que a dividiu ao meio, rasgou o véu do Templo e revolveu os túmulos e o cosmos. Desde então, a nossa vocação é amar assim, dando até doer, dando até ao fim, sem nunca dizer “já chega”.
Há bastante tempo que andava a meditar nesta necessidade de alterarmos o Shemá para o tornar verdadeiramente cristão. Geralmente, quando nos ocorre uma mudança importante no Movimento, aguardamos um sinal do Céu que a confirme. E foi esse sinal que nos foi dado pelas palavras do senhor bispo de Bragança, D. José Cordeiro. No domingo dia 16, tivemos a honra de o escutar, na sessão de catequese para famílias. O senhor bispo disse coisas magníficas, e entre elas, fez-nos este ensinamento sobre a diferença entre amar o próximo como a nós mesmos, “mandamento antigo” do Judaísmo e de outras religiões, e amar o próximo como Jesus nos amou, o “mandamento novo”. Escutei-o de coração agradecido e confirmado.
Lembram-se das várias mudanças que já fomos introduzindo no Movimento, seguindo as indicações do Espírito? Por sugestão do nosso bispo de Aveiro, D. António Moiteiro, deixámos as “cinco pedrinhas” e agarrámos as “seis bilhas”. Depois, de novo por sugestão de D. António Moiteiro, introduzimos o nome de S. José ao lado do de Nossa Senhora, na consagração familiar que rezamos diariamente. As mudanças foram tão bem assimiladas, que já nem nos lembramos das formas anteriores, não é verdade?
Chegou então a hora de mudarmos o Shemá, desta vez com o contributo do senhor bispo de Bragança, D. José Cordeiro. É tão bonito ver como Deus fala através do Papa e dos bispos que lhe são fiéis!
A partir de hoje, rezaremos assim:
Escuta, Israel!
O Senhor nosso Deus é o único Senhor.
Amarás o Senhor com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças,
E amarás o próximo como Jesus nos amou.
Faz isto e serás feliz!
Se ainda não o rezam diariamente, a quaresma, que hoje começa, é o tempo ideal para começar a fazê-lo, pois culmina naquela Cruz em que Jesus nos amou até ao fim. Todos juntos, coloquemo-nos à escuta de Deus, a fim de praticarmos o único mandamento do amor.
Ámen!
Olá! Concordo com a Lúcia: é uma belíssima oração! E cantada ainda se aprende melhor.
Vou já escrevê-la e imprimi-la para memorizarmos na cabeça e no coração e pormos em prática na vida!🙂✝️🙏🏻♥️
Beijinhos e santa Quaresma!