“Está, Teresa? Acabo de aterrar em Lisboa. Devo chegar a casa pelas seis da tarde!”
O Niall ligava-me do aeroporto, depois de mais uma das suas frequentes viagens de dois ou três dias ao estrangeiro. Mas eu não estava em casa…
“Niall, eu estou em Fátima! Sim, foi hoje a entrevista. Porque não páras aqui, e namoramos um bocadinho?”
Há muito que Fátima se tornou local de namoro para nós. Afinal, não foi em Fátima que nos casámos, há vinte anos atrás?
“Ena, estás a falar a sério? Vou já para aí.”
Quando surgiu o convite para estar em Fátima às duas horas, para a entrevista na Angelus TV como contei ontem, eu pedira logo a uma amiga que me fosse buscar os filhos ao colégio, pelas quatro e meia, e os deixasse em casa. Geralmente, é a esta amiga que peço este tipo de favores, pois ela, como mãe de nove filhos, entende-me bem. Escusado será dizer que ela também mos pede a mim! A Clarinha tomaria conta dos irmãos até o pai ou eu chegarmos.
Assim, depois da entrevista, eu seguira para o recinto do Santuário, para fazer a minha oração. Que maravilha, o céu azul profundo sobre o branco de Fátima! Visitei os túmulos dos Santos Pastorinhos e confiei-lhes as Famílias de Caná, em especial as crianças e os bebés que não páram de nascer já no Movimento. Depois, na Capelinha, ajoelhei-me e falei com a Mãe coração a coração. Entretanto, o telemóvel voltou a tocar.
“Já cheguei! Onde estás?”
O Niall estava junto à Cruz Alta, e não foi difícil de identificar, com o seu passo apressado e a sua t-shirt verde. Acenei-lhe cá em baixo, e logo corremos ao encontro um do outro. Abraçámo-nos como se não nos víssemos há muito, muito tempo.
“São quase seis horas. E se eu telefonasse para casa?” Sugeri. Peguei no telemóvel. “Está, Clarinha? Como estão todos?”
“Estamos todos bem! O David e o António estão no jardim a jogar futebol. A Sara, a Lúcia e eu estamos a fazer uma dança nova. Cada uma inventa um passo, e está a ser muito divertido!”
“Achas que nos podemos demorar por aqui? O pai veio ter comigo… ”
“Claro, mãe! Aproveitem! O Frankie deve estar a chegar da universidade e logo me ajuda!”
“E achas que consegues fazer o jantar sozinha? E pedes ao Francisco para lavar a loiça? Dás banho à Sara e orientas os teus irmãos? E deitas a Sara, se nós demorarmos?”
“Claro que sim. Fiquem o tempo que quiserem! Não vos queremos cá tão cedo. Divirtam-se!”
Desliguei o telemóvel e pisquei o olho ao Niall: “Conseguimos!”
E foi assim que começou o nosso namoro em jeito de retiro… Primeiro, a confissão. Não é possível vir a Fátima sem nos confessarmos! A seguir, a adoração do Santíssimo. Depois, a Via Sacra pelo Caminho dos Pastorinhos. É tão bom rezar juntos, fazer silêncio juntos, ajoelhar juntos diante de cada estação, num caminho quase deserto! É curioso como a oração familiar ou, neste caso, conjugal, nos pode aproximar tanto um do outro. Não é difícil de entender porquê: Deus é amor, e quem reza, mergulha neste amor… Por fim, cheios da luz de Deus, fomos jantar num restaurante, para conversar sem pressa. Terminámos o nosso encontro com um longo passeio, de mãos dadas, pela bela avenida que nos levou de volta aos nossos carros.
Foram apenas três horas, mas três horas maravilhosas, como são todas as horas que oferecemos um ao outro, nos nossos dias atarefados. Há muito que desistimos de desperdiçar os minutos que temos juntos com amuos ou zangas. Agora preferimos aproveitá-los com gargalhadas, conversa franca e oração, pedindo de imediato perdão um ao outro quando falhamos neste nosso propósito.
Regressámos a casa a tempo de rezar o último mistério do terço com os filhos. A Sara já dormia, e a sala tinha levado uma arrumação a sério.
“Já de volta?” Perguntou o Francisco. E continuou no seu tom brincalhão: “A esta hora, não valia a pena voltarem! Todo o trabalho está feito!”
“Todos ajudaram!” Explicou a Clarinha. “Fartámo-nos de brincar juntos. O Frankie até fez magia para os manos! Gostam da sala? Quisemos fazer-vos uma surpresa!”
“Fantástico, chegar a casa e não tropeçar em lego! E quem orientou a oração?” Perguntei.
“O Frankie e eu. Fizemos tudo direitinho, não te preocupes. Lemos as leituras, relacionámos com as de ontem, conversámos sobre as aventuras dos Apóstolos. Cada um orientou um mistério do terço, colocámos as nossas intenções e as que nos pedem no site. Fizemos tudo como se tu e o pai cá tivessem estado.”
Nessa noite, deitados nos braços um do outro, o Niall e eu conversámos sobre a maravilha que é esta coisa do Vinho Melhor, que o Senhor nos dá a saborear no tempo certo na nossa vida. Penso nos casais que adiam a vinda dos filhos ou só querem um, para prolongarem o tempo de namoro. Em contraste, recordo os meus sogros, que criaram dez filhos todos seguidos, atulhados de trabalho e com o dinheiro contado, e que pela altura do nosso casamento (o Niall é dos mais novos) já tinham tempo para viajar pela Europa, visitando os filhos a viver no estrangeiro, passeando de mãos dadas por lugares paradisíacos. Na altura, eu comentava com o Niall que a sua opção me parecia muito acertada. Pois não é verdade que, na lei da vida, primeiro vem o trabalho, e só depois o descanso? E que o descanso sabe muito melhor quando vem como recompensa de um trabalho bem feito?
Embora o centro do nosso namoro aconteça em cada dia, na rotina que o amor transfigura (sabemos que pode não haver amanhã), ao longo dos anos o Niall e eu fomos sempre encontrando um bocadinho de tempo para estarmos a sós, graças à disponibilidade da minha mãe, que adora os netos e nos quer ver felizes. Mas isto é diferente… É saber que o Vinho Melhor chegou.
Que maravilha!
Lindo! Parabéns!
Quantas raparigas e rapazes ficam por matrimoniar por ansearem a comunhão a 3 total, plena e completa?…
Teresa que testemunho encantador! Obrigada pela partilha
… chorei.
Gosto de vos ler.
Já estive tão próximo D’Ele e agora estou tão distante.
Rezem por mim pelo meu filho e pelo pai dele.
Obrigada
um abraço em Cristo!