Aula de Inglês do nono ano. Estamos a chegar ao fim, há tempo para descontrair e conversar um pouco. No meio da conversa, um aluno diz:
“Professora, para o ano o seu marido vai ser o meu catequista do crisma.”
“Eu sei”, respondo. “O Niall costuma ficar sempre com o grupo do crisma.”
“O que é o crisma?” Perguntam vários meninos, confusos com esta conversa. Mas o futuro crismando tem a resposta pronta:
“É um curso para seres padrinho.”
Do fundo da sala, e antes que eu tenha tempo de reação, uma rapariga pergunta: “Não me digas que é preciso um curso para ser madrinha! Eu queria tanto ser madrinha. Mas não sou batizada. Professora, é preciso ser-se batizado para se ser madrinha?”
“Claro!” Explico. “Ser madrinha é afirmar, perante a Igreja, de que vais acompanhar o teu afilhado na fé. Se não vais à missa nem tens fé, como podes prometer tal coisa?”
“Mas eu quero ser madrinha para dar presentes”, explica ela com o seu ar despachado. “E para isso não preciso de nenhum curso!”
Poupo-vos a continuação e o desenvolvimento desta conversa surreal. E salto logo para a conclusão lógica: nos nossos tempos, fazem-se doze anos de catequese para se poder ser crismado e, assim, vir um dia a ter o direito de se ser o primeiro a oferecer um telemóvel a uma criança. Não é isto?!
E agora que chegamos ao fim de mais um ano pastoral, em jeito de balanço, confesso-vos um desejo secreto, talvez tão disparatado como a conversa que acabo de relatar: se eu pudesse, tornava facultativa a catequese até ao crisma, e obrigatória a catequese do crisma em diante, ou seja, facultativa a catequese para os pequeninos e obrigatória a catequese para os grandes, os adultos que querem frequentar a Igreja. Porque está visto que o modelo atual não funciona, ou não viveríamos nós, no Ocidente maioritariamente cristão, em países onde se aprovam facilmente – e muitas vezes por referendo – leis cada vez mais contrárias à nossa fé e à nossa moral.
Enquanto olharmos para o crisma como o fim, não veremos nos sacramentos de iniciação isso mesmo: o início. Enquanto oferecermos diplomas – e a catequese oferece-os logo a partir do primeiro ano! – e fizermos dos sacramentos conquistas académicas de quem vai passando de ano, não formaremos verdadeiros cristãos.
Como se muda de paradigma? Os nossos bispos portugueses escreveram uma belíssima Carta sobre a catequese, que provavelmente todos os catequistas leram e contemplaram este ano. Mas talvez não baste. Talvez seja preciso primeiro abanar a estrutura toda e deixar cair… E depois, com jeitinho, reerguer…
Ai Teresa tanto que podíamos escrever aqui sobre isto… eu já fui catequista, nos últimos tempos era uma luta porque os pais na maioria das vezes apenas queriam um sítio para entreter os filhos durante uma hora e pouco… aqui temos poucas crianças, mas mesmo assim dava para ter dois ou três grupos… depois apareceram coisas mais interessantes como btt e outros desportos , e escolher por escolher escolheram o desporto, não houve como explicar que uma coisa não impede a outra! A única esperança que tenho é que as sementes que o catequista lança em todas as direções e que parecem desperdiçadas, um dia, com ajuda do Espírito Santo façam brotar um ou outro fruto!