Testemunho da Isabel Marantes:
No outro dia, a nossa filha mais velha, de 10 anos, disse mesmo antes de começarmos a rezar o Terço: “Sabes, mamã, às vezes rezar o terço é um bocadinho aborrecido”…
Pensei logo no nosso pastorinho de Fátima São Francisco, cuja Festa litúrgica celebramos a 20 de Fevereiro (juntamente com Santa Jacinta). Também ele tinha dificuldade em rezar o terço, porque as brincadeiras eram muito menos “aborrecidas”!
Depois lembrei-me também do ensinamento mensal de Janeiro da Teresa, que fala do Terço como uma “coisa velha” do tesouro da Tradição da Igreja, mas que nós, Famílias de Caná, somos convidados a fazer de forma nova, transformando-o num aconchegante e criativo momento familiar.
Como era óbvio pelo comentário da nossa filha, esse momento familiar não estava a ser vivido dessa forma nova. De facto, com o Inverno rigoroso do Canadá, às 18 horas já só apetece ir dormir (os pais, claro, porque os filhos nunca estão cansados!) e nem eu nem o Luís estávamos a ser minimamente criativos neste momento familiar tão importante.
Então, e pegando no ensinamento mensal da Teresa de Fevereiro, em que somos convidados a viver este mês escuro com uma nova chama, como conseguiremos dar luz a este “velho tesouro”, que é o Terço?
É que eu acho mesmo que o Terço, se rezado com devoção, é capaz de ajudar a fazer de nós, dos nossos filhos, da nossa família “chamas vivas de Amor”, como pede a Teresa.
Há variadíssimas formas de tornar o terço menos “aborrecido”. Apontamos aqui algumas que utilizamos e gostaríamos muito que partilhassem connosco as vossas.
– Uma delas talvez seja falarmos em família sobre a intenção ou intenções pelas quais o rezamos. Por exemplo, nós cá em casa rezamos o Terço em primeiro lugar pela Paz no mundo, pela Paz em nossa casa e pela Paz nos nossos corações. Maria, em Fátima, pediu que o fizéssemos.
Mas como é que a repetição “monótona” do Pai-nosso e da Avé-Maria pode trazer Paz ao mundo, à nossa casa e aos nossos corações?
Como dizia São João Paulo II – que sempre confessou que o rosário era a sua oração preferida- em 2002 na sua belíssima Carta Apostólica sobre o Rosário – Rosarium Virginis Mariae (http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_letters/2002/documents/hf_jp-ii_apl_20021016_rosarium-virginis-mariae.html):
O Rosário é, por natureza, uma oração orientada para a paz, precisamente porque consiste na contemplação de Cristo, Príncipe da paz e « nossa paz » (Ef 2,14).
Além disso, devido ao seu carácter meditativo com a serena sucessão das “Avé Marias”, exerce uma acção pacificadora sobre quem o reza, predispondo-o a receber e experimentar no mais fundo de si mesmo e a espalhar ao seu redor aquela paz verdadeira que é um dom especial do Ressuscitado (cf. Jo 14, 27; 20, 21).
Depois, o Rosário é oração de paz também pelos frutos de caridade que produz. Se for recitado devidamente como verdadeira oração meditativa, ao facilitar o encontro com Cristo nos mistérios não pode deixar de mostrar também o rosto de Cristo nos irmãos, sobretudo nos que mais sofrem. Como seria possível fixar nos mistérios gozosos o mistério do Menino nascido em Belém, sem sentir o desejo de acolher, defender e promover a vida, preocupando-se com o sofrimento das crianças nas diversas partes do mundo?
… Em suma, o Rosário, ao mesmo tempo que nos leva a fixar os olhos em Cristo, torna-nos também construtores da paz no mundo. Pelas suas características de petição insistente e comunitária, em sintonia com o convite de Cristo para « orar sempre, sem desfalecer » (Lc 18, 1), aquele permite-nos esperar que, também hoje, se possa vencer uma “batalha” tão difícil como é a da paz.”
-Outra forma (e esta é aquela que parece ser das mais cativantes para os nossos filhos) é contemplar cada mistério descrevendo contextos e pormenores históricos, sentimentos das pessoas envolvidas, razões para certos acontecimentos terem sucedido da forma que sucederam, etc. Por exemplo, quantos kilómetros percorreu Maria através das montanhas até chegar a casa da sua prima Isabel? Quantos dias demorou? Porque é que S. João Baptista escolheu o rio Jordão para baptizar, sendo este longe de Jerusalém? Como é que Maria sabia tanto sobre as escrituras? E assim sucessivamente. Um livro que nos tem ajudado bastante a conhecer melhor todas estas cenas da vida de Jesus é “Vida de Jesus” de Francisco Fernandez-Carvajal – Ed. J.A. Marques.
-Uma ideia que os nossos filhos também gostam muito é quando a pessoa que orienta o mistério faz uma pequena reflexão sobre as virtudes que sobressaem no referido mistério . Dá pano para mangas! E é tão engraçado ver como os nossos filhos elogiam muitas vezes em Jesus, em Maria ou noutra personagem do mistério as virtudes que mais têm dificuldade em desenvolver… A escolha das virtudes da Paciência e do Auto-controlo são bastante populares cá em casa!
-Também ajuda bastante ter disponíveis livros com meditações sobre os mistérios apropriados para crianças. Ou então, bíblias ilustradas que eles usam para encontrar o mistério que estamos a rezar.

-Ainda relacionada com a ideia anterior, para os mais pequenos que ainda estão a aprender a ordem dos mistérios, pode ajudar ter alguma ajuda iconográfica. Há uns tempos comprei umas imagens muito bonitas representativas de cada um dos mistérios do terço. De cada vez que rezávamos o terço, a pessoa que orientava o mistério pegava na imagem referente a esse mistério e colocava-a à nossa frente no chão ou num quadro magnético. Dessa forma, todos podíamos contemplar mais facilmente cada mistério e as crianças sentiam-me mais envolvidas na recitação do seu mistério. Foi assim que o David aprendeu a dizer os mistérios pela ordem correcta!

-Uma ideia que tirámos de um dos posts da Família Power e que nós também já utilizámos cá em casa com bastante sucesso consiste em desenhar cada mistério. E a seguir expôr as obras de arte, claro!
-Uma outra forma de retirar algum “aborrecimento” ao terço é rezá-lo… a cantar! O Miguel e o David são os que são mais adeptos desta “técnica”. Temos a sorte de participar num Coro de Famílias. E neste coro aprendemos uma forma de cantar o Pai-Nosso e a Avé-Maria de que gostamos muito e, não raramente, eles começam espontaneamente a cantar o terço. Acreditem que eles consideram o terço cantado bem menos monótono! O David às vezes diz: “Se não cantar, fico cansado!”.
-Cá em casa o Luís às vezes gosta de rezar o terço a caminhar. Tenho a sensação que isto é mais uma coisa de rapazes/homens e a verdade é que o Miguel parece gostar de acompanhar o pai a rezar o terço “andando”. E quando o faz voluntariamente, parece distrair-se menos. Quando está bom tempo, ao fim de semana costumamos ir a um Santuário Mariano que fica a cerca de 30 minutos de nossa casa e que tem, um “Rosary path”, isto é, um caminho onde estão colocadas no chão, as várias contas do terço. Penso que é considerado o maior Terço do mundo (não era bom termos algo parecido em Fátima?). Nós gostamos muito de rezar aí o terço a caminhar.



Enfim, estas são só algumas formas que a nossa família espontaneamente foi descobrindo para tornar o terço menos monótono para as nossas crianças. E vocês, têm outras ideias? Adorávamos saber quais são!
O terço é, de facto, uma oração poderosíssima.
Apesar de todos estes “métodos”, claro que rezar o terço pode por vezes ser algo “monótono”. Mas todos sabemos que o terço não tem de ser entusiasmante, isto é, não tem que ser sempre rezado “com sentimento” de fervor por aquilo que estamos a dizer (o que é aplicável a qualquer forma de oração…). No entanto, ajuda-me ter em conta duas coisas. Por um lado, a consideração de que aquilo que rezamos no terço são palavras bíblicas e, por isso, sagradas. Dizê-las com a intenção de fazer oração só por si já é agradável a Deus. Por outro lado, e especificamente no que diz respeito à repetição, ela está presente na Bíblia e é agradável a Deus. O próprio Jesus repetiu 3 vezes no horto das Oliveiras a oração: “Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice; contudo não se faça como Eu quero, mas como Tu queres”, como lemos no evangelho de S. Mateus (Mt 26, 39-44) . Além disso, qualquer forma de enamoramento é feita de repetições. Ninguém considera aborrecido que lhe digam 50 vezes por dia “gosto muito de ti”…
E, Jesus, eu gosto muito, muito de ti!
Venham daí essas partilhas sobre como dar luz ao “velho tesouro” do Terço!

Cá em casa o terço também é considerado aborrecido… Obrigada por tantas ideias partilhadas!
Isabel, obrigado por esta partilha tão rica! E obrigado pela ideias tão práticas e úteis para renovar o tesouro do terço.
Cá em casa bem precisamos de ideias assim para ajudar a passar este tesouro às tenras idades dos nossos filhos (8,4,3,2).
As estratégias que já usamos para que eles estejam mais presentes na oração do terço são:
– Na enunciação dos mistérios deixar que cada sejam eles a lembrar-se de cada mistério, e fazem-no no seu entendimento o que é sempre giro para perceber-mos de que forma eles guardam aquele mistério e também serve de ponto de partida para o diálogo sobre o mistério a contemplar.
– Depois de identificado o mistério fazemos de cada vez um pequeno diálogo para contextualizar e recordar o sentido daquele mistério.
– Cada um dos pequenos, com a excepção do mais novo, orienta um mistério, e, pelo menos nesse mistério, está mais concentrado.
– O mais velho às vezes lê em voz alta a explicação de cada mistério de algum dos vários livros que temos com meditações do terço para crianças.
– Cantar as avé-marias também tem muito sucesso cá em casa, mas só o fazemos nas últimas três, senão demorava um bocadinho mais.
Gostei muito!
Há informação com uma pequena mensagem antes de cada Avé Maria, do Devocionário Católico. É muito lindo rezar este terço porque nos leva a refletir sobre cada Avé Maria. Gostava muito de o encontrar. Obrigada.