Testemunhos


Descer à casa do oleiro

Ontem foi quinta-feira da 17ª semana do tempo comum. É tão bom quando organizamos a nossa vida para que as férias com os nossos filhos também possam ser suficientemente grandes para se tornarem um tempo comum e não só duas ou três semanas entalados no pouco tempo que sobra da “escravidão” do trabalho!

Na viagem de manhã a caminho do skate park para dar umas patinadelas e bicicletadas (e umas quedas) aproveitamos para rezar. Como a viagem é um pouco mais demorada lemos logo as leituras do dia porque é sempre melhor quando temos oportunidade de as ler ao início do dia, quando os meninos estão mais frescos para as escutarem e ficando o resto do dia a soarem no pensamento. Escutámos as palavras de Deus ao profeta Jeremias:

Levanta-te e desce à casa do oleiro; ali te farei ouvir as minhas palavras». Eu desci à casa do oleiro e encontrei-o a trabalhar na roda. Quando o vaso que ele estava a moldar não saía bem, como acontece com o barro nas mãos do oleiro, ele começava de novo e fazia outro vaso, como lhe parecia melhor. Então o Senhor dirigiu-me a palavra, dizendo: «Não poderei Eu tratar-vos como este oleiro, ó casa de Israel?», diz o Senhor. «Como o barro nas mãos do oleiro, assim estais vós na minha mão, ó casa de Israel». (Jr 18, 2-6)

“Meninos, quem é que sabe o que é um oleiro?”

“É o senhor que faz o óleo?” arrisca um dos pequenos. Na verdade só o Gaspar com os seus 12 anos é que sabia com certeza o que era um oleiro. Lá esclareci aos restantes o que é um oleiro e a todos expliquei como é que ele trabalha o barro, para depois voltarmos à leitura e melhor percebermos esta imagem maravilhosa que Deus nos dá da forma como Ele nos trata. Enquanto estava a ver as patinadelas arquitetei logo planos para o dia seguinte.

Hoje a meio da manhã meti todos no carro e demos um salto até ao outro lado da vila, ao Carapinhal, onde há grande tradição de olaria. Muitas vezes temos tendência para pensar só em como a realidade bíblica é tão distante de nós, nem nos apercebemos de como há coisas como esta que cruzam os tempos e estão aqui mesmo nos dias de hoje da mesma forma como estavam há milhares de anos atrás!

Entrámos na olaria do Sr. Faustino, que ficou um bocado espantado com a invasão, eu eu lá lhe expliquei o porquê da visita. Claro que os meninos já tinham entendido logo mal entrámos! O Sr. Faustino lá continuou o que estava a fazer, pratos rasos de barro, começava com uma bola grande de barro em cima da roda e ia colocando as mãos até se transformar rapidamente num prato, e depois fazia os aperfeiçoamentos finais, tirando o barro que estava a mais e alisando a superfície. Os meninos fixos nas mãos do oleiro e na rapidez e eficácia com que da bola em bruto surgia a forma final desejada. Depois de uns quanto pratos seguidos o Sr. Faustino coloca uma bola mais pequena em cima da roda e os meninos começam a aperceber-se de que a forma que está a sair é diferente. “É um copo!” atira um, “É um jarro!” tenta outro. É sempre difícil de imaginar o que é que Deus está a tentar fazer de nós quando ainda estamos a sair da matéria em “bruto”!… Finalmente lá surge um pequeno belo cântaro, que mesmo depois de enformado o Sr. Fautino ainda dá mais uns quantos toques para que fique perfeitinho.

É inevitável o espanto de qualquer criança ao ver surgir uma forma mas simples ou mais complicada de um pedaço de barro! Talvez por isso Deus tenha escolhido esta imagem para falar ao profeta Jeremias, e a nós, de como estamos nas Suas mãos. Depois de apreciar a moldagem do barro os meninos ainda repararam no monte dos desperdícios, as peças que saíram mal por qualquer razão. De certeza que para cada uma delas o Sr. Faustino repetiu a tentativa até conseguir que saisse bem.

Como é que ainda há pais que não se empenham em ler a palavra de Deus aos filhos pequenos, particularmente  do antigo testamento…

3 Comments

  1. Maria Beatriz Silva Bastos Pagnoni

    Lindo ensinamento, muito obrigada pela partilha, rezo pelos pais que ainda não descobriram esta riqueza que é a Palavra de Deus,
    Louvado Sejas ò meu Senhor…..

  2. Tânia Côrte-Real

    Excelente ideia! Guiados pela mão de Deus vamos sempre pelo caminho certo.

  3. Pilar Pereira

    Adorei esta partilha, João. Tão simples e tão perto, a Palavra, às vezes, e, no entanto, parece longe da nossa realidade. (Eu faço parte dos pais que não se empenham… Apenas lemos as leituras da Missa Dominical.)

Responder a Tânia Côrte-Real Cancelar resposta

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *